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Roma Parte 1: ídolos brasileiros na cidade eterna

O Monte Janícolo ou, em italiano, Gianicolo, na margem oeste do Rio Tibre, é a segunda colina mais alta de Roma, bem próximo ao Vaticano e fora do circuito turístico tradicional. O nome provém da figura mitológica de Jano, deus de duas faces que representava portais e recomeços (o mês de janeiro também homenageia a divindade romana). No topo do monte, de onde se tem uma das melhores vistas da cidade eterna, está uma imponente estátua do maior herói nacional italiano, Giuseppe Maria Garibaldi, trajando o poncho gaúcho com o qual figura em centenas de monumentos pelos quatro cantos da Itália e até em outros países – há alguns anos, me surpreendi ao encontrar uma estátua de Garibaldi em Nova Iorque.

Além do município que leva seu nome na serra do Rio Grande do Sul, o paladino é nome de cidades na Austrália e nos Estados Unidos. Ícone maior da luta pela unificação italiana, Garibaldi é chamado de herói de dois mundos, por sua marcante atuação em revoluções liberais na Itália e na América do Sul, entre elas, como bem sabem os gaúchos, a Revolução Farroupilha.

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Monumento de Giuseppe Garibaldi, no Monte Janícolo, em Roma

A poucos metros dali, outro imponente monumento equestre, construído em 1932, guarda os restos mortais de uma das brasileiras mais ilustres de todos os tempos: Ana Maria de Jesus Ribeiro da Silva, mais conhecida como Anita Garibaldi. A catarinense de Laguna não é reverenciada apenas por ter sido a leal esposa do grande ídolo nacional italiano, mas, especialmente, por sua participação ativa em batalhas e na defesa dos ideais liberais.

Filha de um tropeiro, tornou-se exímia amazona desde a infância, e diz-se que foi ela quem passou ao marido a maestria com os cavalos. Garibaldi cita a companheira ao longo dos seus escritos, como neste trecho sobre o primeiro encontro dos dois, no litoral catarinense: “…Era Anita, a mãe de meus filhos. A companhia de minha vida, na boa e na má fortuna. A mulher cuja coragem desejei tantas vezes… A saudei finalmente e lhe disse: ‘Tu deves ser minha!’. Havia atado um nó, decretado uma sentença que somente a morte poderia desfazer. Eu tinha encontrado um tesouro proibido, mas um tesouro de grande valor.” O caso de amor durou de fato até a morte prematura de Anita, aos 29 anos e grávida do quinto filho, durante as batalhas com os austríacos no nordeste italiano.

Menotti Garibaldi, o primeiro filho de Giuseppe e Anita, que mais tarde se tornou um dos protagonistas militares e políticos da criação da República Italiana, nasceu em Mostardas (RS), em 1840. Anita, logo após o nascimento de Menotti, viu sua casa cercada na calada da noite por tropas do governo imperial do Brasil. Sem ter tempo de se vestir, tomou a criança de apenas 12 dias e escapou a galope para juntar-se ao marido, nos arredores da cidade.

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O episódio está eternizado na estátua de Anita em Roma, com o filho em um dos braços e uma pistola na mão oposta. Os demais painéis do monumento retratam outros acontecimentos memoráveis da vida da revolucionária. Na mesma montanha em que hoje jaz, Anita e Giuseppe lutaram para defender Roma das tropas do papa Pio IX e seus aliados franceses, entre outras batalhas. Em 2021, comemoram-se duzentos anos do nascimento da brasileira, que também é chamada de “heroína de dois mundos”.

No mesmo dia em que estive no Monte Janículo, no final de outubro deste ano, enquanto caminhava pelo centro de Roma, meu cinto rebentou, talvez pela tensão adicional causada pelas delícias da inigualável gastronomia italiana. Nas cercanias do Pantheon, entrei em uma pequena loja de artigos de couro e encontrei um substituto. Conversando com o simpático proprietário, expliquei que era brasileiro, de uma cidade próxima a Porto Alegre. Ele arregalou os olhos e perguntou: “Grêmio o Internacional?”. Ao revelar-me colorado, recebi um apertado e inesperado abraço, enquanto ele bradava: “Paulo Roberto Falcão, il Divino!”.

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Paulo Roberto Falcão levou o Roma ao primeiro título da Série A em 40 anos

Entusiasticamente, disse-me ainda que jamais se esquecerá do jogador que, com a cabeça sempre erguida, parecia comandar os movimentos dos demais companheiros de equipe, enquanto tratava a bola como se fosse de cristal. Catarinense como Anita, Falcão ainda não tem estátua em Roma (a História ensina que não se deve erigir estátuas para alguém que ainda está vivo), mas já passou para a posteridade como um grande ídolo dos romanos.

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