Era domingo, 3 de setembro de 2023. Grávida, Silvia Rodrigues Lima, de 28 anos, teve dores com indício de que havia chegado o grande dia. Acompanhada do marido, Danilo dos Santos Lima, a moradora de Mariante, interior de Venâncio Aires, foi para o Hospital. A expectativa foi confirmada. Chegou ao mundo, no dia 4, a menina Heloísa. Ainda sob os efeitos do parto, a mãe recebeu uma informação que veio assustá-la: sua casa e a vizinhança estavam embaixo da água. O Rio Taquari, com muita força e rapidez, registrava a segunda maior cheia da história. Passados pouco mais de dois meses, a pequena Heloísa vivenciou, nesse fim de semana, a segunda enchente de sua vida.
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O susto de Silvia, no início de setembro, não fora por acaso. Dentro da casa inundada estava todo o enxoval da terceira filha do casal. Pouco material pôde ser recuperado, naquela ocasião. Agora, com a percepção de que o rio poderia sair do leito novamente, Danilo foi levar o cão até próximo à RSC-287, onde não chega a água, e iria voltar para buscar a família. Não conseguiu. Silvia teve que colocar as meninas (Heloísa e as mais velhas, Clara e Ana Cláudia) no carro e rumar para a área mais segura. “Como não tenho muita experiência no volante, não me arrisquei. Então, ele veio até nós e conseguimos passar, mas entrou água na parte em que vai o óleo do motor”, recorda.
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O veículo ficou estacionado à margem da rodovia, onde a Prefeitura de Venâncio Aires montou um QG com alguns mantimentos e para atender, de forma mais efetiva, os pedidos de socorro. Foi identificada, por meio do uso de drone, a necessidade de salvamento de cinco pessoas. Elas foram resgatadas por helicóptero. São três moradoras de Bom Retiro do Sul e duas de Venâncio Aires. Depois de atendidas, elas foram encaminhadas para residências de familiares. Além de moradores, o grupo também conseguiu salvar muitos animais.
Ação conjunta foi rápida em Venâncio Aires
Além da família da pequena Heloísa, outras 47 foram encaminhadas para o Ginásio da Linha Mangueirão, em Venâncio Aires. Entre o Rio Taquari e as proximidades dessa estrutura, em ambos os lados da RSC-287, era grande o acúmulo de água. O secretário de Educação, Émerson Eloi Henrique, que coordenava, nesse domingo, um barracão montado na alça de acesso a Mariante, diz que o volume de água foi parecido com o de setembro, mas a força menor.
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Ele destaca que, com apoio da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros, foram removidas 155 pessoas, algumas com uso de embarcações, outras em caminhões e cinco com helicóptero. “A próxima fase é providenciarmos água e alimento, também para quem está em casa. Para isso, contamos com voluntários e a equipe do Município. São cerca de cem pessoas em trabalho”, afirma. O prefeito Jarbas da Rosa acompanhou e participou dos salvamentos.
Preventivamente, foram desligadas as redes de energia elétrica e de abastecimento de água nas regiões afetadas pela enchente em Vila Mariante. Água potável está sendo distribuída no ponto de apoio instalado no trevo de acesso à vila ou ainda no ginásio de esporte de Linha Mangueirão. A rede de energia foi interrompida porque em muitos pontos a enchente alcança os fios, provocando curto-circuitos, oferecendo risco a moradores e equipes de resgates. Com isso, sem energia e com o nível da enchente ainda muito alto, não é possível o trabalho de abastecimento de água. A previsão é de que esses atendimentos normalizem-se somente nesta segunda-feira, 20, porque o retorno ao leito estava bastante lento. De acordo com o gerente da Corsan, Ilmor Dohr, a companhia deslocou caminhão pipa para abastecer parte das localidades de Taquari Mirim, Cerro dos Narcisos e Estância Nova.
No Ginásio de Linha Mangueirão, as famílias atendidas recebem alimentação e água. Parte do material é resultado das doações ainda de setembro. Também há quantia de ração para animais. Até que a água retorne ao leito do rio, não será possível calcular o prejuízo, mas já se sabe que quatro estruturas públicas, além das moradias, foram danificadas: Escola Estadual Mariante, unidade de saúde e as capatazias do Município e do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer).
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Vale do Taquari submerso
Muito atingido com a enxurrada de setembro, o Vale do Taquari voltou a sofrer com as cheias. Dessa vez, no entanto, sem o registro de óbitos. Imigrante, Roca Sales, Muçum, Encantado, Arroio do Meio, Bom Retiro do Sul e Taquari tiveram de remover famílias de suas residências. Em Estrela, a água voltou a atingir parte do Centro e as pessoas foram encaminhadas para o Ginásio Ito Snel, no Bairro Oriental. Para lá também foram levados mais de 50 cães e a doação de ração é um dos pedidos. A Prefeitura prepara-se para fazer, nesta segunda e terça, a limpeza das escolas atingidas. Tiveram danos as Emeis Arroio do Ouro, Cantinho do Lar, Pingo de Gente, Raio de Sol e Criança Feliz; e as Emefs Leo Joas e Cônego Cordeiro.
Em Lajeado, 218 famílias (594 pessoas) foram abrigadas no Parque do Imigrante, 70 no Ginásio do Bairro Conservas e cinco na Igreja do Conservas. A Emei Risque e Rabisque e o Projeto Vida São José, que ficam no Centro, a principal área atingida, não terão atendimento nesta segunda. Tomada novamente pelas águas, Muçum conta com as doações de água, alimentos não perecíveis e produtos de limpeza e a disposição de voluntários para auxiliar na recuperação daquilo que foi danificado. O alerta é de que, momentaneamente, não se precisa de roupas.
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