Situado a 16 quilômetros do centro de Santa Cruz do Sul, Rio Pardinho, o 9º Distrito, é a segunda parada da série Vida no Interior. Com casas históricas e uma linda paisagem, a localidade preserva a história e a cultura alemã. No Vale do Rio Pardo, a região é conhecida pela Rota Germânica.
Quem visita o distrito tem a oportunidade de conhecer um pouco do passado e saborear as delícias da cultura local, como a cuca e outras iguarias da culinária de herança germânica. Longe do agito da cidade, Rio Pardinho também pode ser um local para descansar, devido à calmaria da comunidade, onde os cantos dos pássaros podem ser ouvidos.
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Dados da Subprefeitura revelam que cerca de 3 mil pessoas vivem no distrito. A localidade fica a meio caminho entre as cidades de Santa Cruz e Sinimbu. Por isso, a cada ano tem atraído novas empresas e moradores. A comunidade é formada por um povo que cultiva suas tradições, sem deixar de olhar para o futuro.
Os imigrantes alemães, ao fixarem raízes em Santa Cruz, formaram também colônias em linhas pelo interior. Hoje, esses locais são denominados de distritos. Muitos deles são antigos, como Rio Pardinho, que irá celebrar 172 anos de imigração em novembro próximo.
Conforme pesquisa do jornalista José Augusto Borowsky, publicada no jornal Gazeta do Sul em novembro de 2022, em tempos coloniais, a localidade era chamada de Picada Nova (em alemão, Neue Pikade). O nome foi escolhido para diferenciar da Picada Velha (Alte Pikade), hoje Linha Santa Cruz, que foi a primeira a receber imigrantes alemães, em 1849.
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Naquela época, a abertura da picada foi determinada pelo diretor da colônia, João Martim Buff, em virtude da chegada de uma leva de imigrantes que estavam sendo agrupados na Alemanha pelo agente de colonização Peter Kleudgen. Para abrigar essas pessoas, novos lotes de terras foram criados.
No entanto, antes da colonização, era necessário haver uma estrada de acesso. Então, um ano antes da chegada dos primeiros moradores, em dezembro de 1851, Buff informou à Província que o caminho (atual Linha Travessa) ligando a Picada Velha com a futura Picada Nova estava praticamente pronto.
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A conclusão da via, em 1852, possibilitou que os cidadãos pudessem construir suas residências na localidade. Os primeiros moradores eram oriundos de Hamburgo – importante cidade portuária no norte da Alemanha –, em quatro navios nomeados de: Fortuna, Marianne, Hermine e Luise Emilie.
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A primeira embarcação chegou ao porto de Rio Grande em junho daquele ano, e o grupo aportou na Picada Nova em dezembro. O maior contingente, formado por 60 pessoas, embarcou no Marianne em julho, e em 21 de novembro estava se acomodando na nova terra. A data foi escolhida como o marco da colonização de Rio Pardinho, lembrada até os dias atuais.
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O navio Hermine foi o terceiro a chegar, com 19 pessoas. O povo da embarcação Luise Emilie, com 77 pessoas, foi o que mais passou por dificuldades para chegar a Rio Grande. Durante uma tempestade em alto-mar, ele naufragou na costa da Inglaterra e 37 passageiros morreram. Para resgatar os sobreviventes, outro navio foi contratado. Ele chegou em terras brasileiras em 1853, encerrando a primeira etapa da colonização do futuro distrito.
Uma das marcas de Rio Pardinho são os casarões antigos. Muitas estruturas foram erguidas na virada do século 19 para o 20, tendo como base principal a arquitetura germânica, que se mescla com a portuguesa.
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Uma dessas heranças arquitetônicas está localizada próximo ao trevo emblemático que conta com um monumento alusivo à pavimentação do distrito, em janeiro de 1986, de um trecho de 1,5 quilômetro. No casarão, de cor verde claro, residem os aposentados Vilson Pedro Wiesel, 70 anos, e Sibila Wiesel, 80 anos. Juntos preservam a moradia, construída em 1930.
“Aqui moravam os pais da Sibila. Quando eles chegaram, parte da casa estava pronta. Foi feita uma ampliação na parte de trás do pátio. Com o passar do tempo, algumas reformas tiveram que ser feitas, mas preservando os detalhes”, disse Wiesel, assinante antigo do jornal Gazeta do Sul.
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O casal também já morou na cidade, em 1975. “Moramos no Camboim [hoje Bairro Senai], na Várzea e no Esmeralda, onde compramos uma casa. Anos mais tarde, os pais da Sibila pediram para voltarmos para Rio Pardinho.” Eles afirmam que, ao voltarem para a localidade, muita coisa mudou, inclusive a qualidade de vida. “Não trocamos por nada este lugar”, disse Sibila. Junto com eles estava a neta Lara Wiesel Muller, 7 anos, que, de maneira tímida, comenta que também gosta de morar no local.
Conhecer a Rota Germânica do Rio Pardinho é conhecer a história santa-cruzense. Com paisagem encantadora formada por morros, o Rio Pardinho, árvores e flores, a sensação de quem por ali passa é de tranquilidade. Além disso, são destaques a gastronomia típica, o artesanato, igrejas e casarões históricos que contam a trajetória dos imigrantes alemães.
O roteiro turístico começa no 9º distrito, a dez quilômetros do centro de Santa Cruz, pela RSC-471, e segue até o município de Sinimbu. O primeiro ponto para visitação é o Mosteiro da Santíssima Trindade das Monjas Benditinas. O local, que é aberto à comunidade, está situado na Linha Travessa, com atuação na área de liturgia e espiritualidade.
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As irmãs realizam atividades de artesanato, restauração de imagens, fabricação de licores, mel, além do acolhimento na pequena hospedaria para quem se interesse por retiros ou encontros de aprofundamento espiritual. Fundado em janeiro de 1997, o Mosteiro completou 27 anos nessa quinta-feira, 25.
As peculiaridades e as belezas do roteiro podem ser conferidas no site da Associação de Turismo da Região da Região do Vale do Rio Pardos (Aturvarp). Outro ponto religioso é a centenária Igreja Evangélica Imigrante, mais antiga do Estado, fundada em 1866. Ela foi construída por pessoas da própria comunidade, em pedras grês. A casa de fé continua a realizar cultos, uma vez por mês. Ao lado da estrutura está preservado o cemitério, que abriga lápides com escritas em alemão, pertencentes aos primeiros imigrantes.
A historiadora Marlise Gertrudes Diehl, 70 anos, dedica-se ao estudo da localidade e das famílias locais. Ela explica que a construção do templo de fé iniciou-se após a chegada dos primeiros pastores com formação em teologia, na colônia de Santa Cruz. “Em março de 1866 foi realizada uma assembleia para fundação da comunidade. A partir disso, resolveu-se construir a igreja.”
A estrutura ficou pronta em menos de cinco meses, com inauguração em setembro. “Ela não tinha a torre, pois na época era vedada aos não católicos a construção de prédios que tivessem aparência de templo. Com isso, a torre foi acrescentada em 1890, a partir da liberdade de culto”, ressaltou a aposentada. A igreja também serviu como escola, por um período de dez anos.
Ao lado da igreja Imigrante também foi instalado um cemitério. De acordo com uma pesquisa de Marlise, o primeiro sepultamento ocorreu três dias após a inauguração do templo, em 12 de setembro. “A lápide não se encontra mais no local. A mais antiga é do ano de 1870. O lugar recebeu mais de 500 sepultamentos.”
Na gastronomia, entre as opções de saborear pratos típicos, o visitante encontra o estabelecimento da Cucas Gressler (Kuchenhaus), a Casa do Colono e outros. Na Cucas Gressler, além da tradicional iguaria, o local dispõe de schimier, linguiça, tortas, rocamboles, bolachas, pão caseiro e outras delícias da gastronomia típica alemã. O atendimento ao público é aos finais de semana e em feriados ou por agendamento.
O estabelecimento foi criado há 25 anos, para incentivo do turismo rural. “Um primo da minha mãe, que foi secretário estadual de Turismo naquele tempo, morou aqui e achou muito bonita a localidade. Então, ele sugeriu a ideia de tornar o distrito mais atrativo”, disse Clarine Lenz Gressler, 48 anos, proprietária do local.
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As cucas ganharam destaque com o trabalho inicial de sua mãe, que fazia os produtos por encomenda. “Uma vizinha nossa achou interessante participarmos da Rota Germânica, com as nossas receitas gastronômicas dos antepassados.”
Na Kuchenhaus, além dos produtos saborosos, os visitantes podem ter contato com a natureza. “No pátio dos fundos temos a criação de galinhas, vacas e outros animais, sendo mais uma experiência para o público”, ressalta Clarine.
A empresária acredita que o roteiro turístico poderia receber mais incentivos para fomentar a rota, além de as pessoas terem mais interesse em conhecer a região. “Cerca de 90% dos nossos clientes são de outras cidades, como Santa Maria e Porto Alegre.” A partir do terceiro domingo de março, ocorrerá uma pequena feira de artesanato no local. A atividade será realizada mensalmente.
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Os produtos da Casa das Cucas também podem ser conferidos em feiras rurais do município, como nas terças-feiras à tarde, na Independência; na tarde de sexta-feira, na Feira Central; e nos sábados pela manhã, no Bonfim.
O roteiro em Rio Pardinho também conta com sítios pedagógicos, casa de artesanato manual, floricultura e casas antigas, com arquitetura alemã. Muitas delas estão abandonadas e não recebem o devido reparo para tornar a experiência do visitante ainda mais encantadora.
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A Prefeitura de Santa Cruz do Sul informou que apoia o projeto do município de Sinimbu para a criação de uma ciclovia na Rota Germânica. Nesta semana, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo (Sedet) promoveu uma reunião com o presidente da Associação de Turismo Rural de Santa Cruz, Alexandre Guedes da Luz, para fomentar a região de Rio Pardinho. A pasta destaca que existem projetos para a implementação de cervejarias e pousadas nessa área.
Entre os destaques do distrito de Rio Pardinho estão as indústrias, seja do setor alimentício ou de tabaco. De grande porte, são dois frigoríficos no local: o Schender e o Panke. A fumageira Tobacco House representa esse setor.
O empresário do ramo de abatimento de aves Hardi Lúcio Panke, 63 anos, emprega trabalhadores oriundos, além da própria localidade, de Santa Cruz e de Sinimbu. “Temos uma grande contribuição na arrecadação de ICMS, com nossas empresas. Além disso, faço parte do grupo de pessoas que praticam a sucessão rural, pois continuo vivendo aqui e expandindo a empresa, que iniciou suas as atividades em 2002, com apenas três funcionários”, ressalta Panke. Atualmente, conta com 40 funcionários.
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Panke, que também é líder comunitário e atuou como secretário municipal da Agricultura de Santa Cruz, teve participação importante na criação do Festival da Galinha Recheada. “Vamos fazer um mascote da festa, com investimento de R$ 8 mil.” Segundo ele, a organização do evento também busca conquistar o título no Guinness World Records, como maior evento voltado a esse setor no mundo.
O Futebol Clube Rio Pardinho foi fundado em 27 de agosto de 1938, sendo uma das equipes mais tradicionais da região. Neste ano, o clube vai completar 86 anos de história. Sua primeira diretoria foi composta pelo presidente Arnoldo Dassow, o secretário Osmar Molz e o tesoureiro Reinhardt Zingler. Alfredo Pittelkow era o presidente de honra, pois colocou suas terras à disposição do clube para a realização dos jogos.
Anos mais tarde, em janeiro de 1959, foi adquirida uma área de terras de três hectares, pertencente a Germano Radtke, Artur Rieck e Sebaldo Waechter. Atualmente, no local está a sede do clube. O novo campo e os pavilhões para festas foram inaugurados em 13 de maio de 1962.
Em toda a sua história, o clube obteve um grande número de títulos em diversos campeonatos. Um dos mais tradicionais da época era o da Liga de Sinimbu, em que se tornou multicampeão. Outro título de relevância foi o de Campeão Municipal, em 1992.
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O FC Rio Pardinho também participa do campeonato da Liga de Integração do Futebol Amador de Santa Cruz (Lifasc), onde conquistou seu primeiro título, na categoria titulares, em 2004, alcançando o bicampeonato em 2012 e o tricampeonato em 2021.
Nos últimos anos, o clube realizou importantes investimentos, como a construção de arquibancadas e de duas cabines de imprensa, iluminação do campo de futebol 11 – sendo o primeiro a contar com esse recurso no interior –, aquisição de terras, construção de um ginásio de 1,2 mil metros quadrados e reformas gerais na sede. O atual presidente do FC Rio Pardinho é o Ademir Luiz Bohnen.
Atividades fora de campo também tem destaque. Com o objetivo de resgatar a tradição de uma receita culinária que os imigrantes alemães trouxeram em suas bagagens, um dos principais pratos das quermesses de antigamente, o clube comemora desde 2017 o Festival Nacional da Galinha Recheada. Além da gastronomia, oferece muita música, chope, danças típicas e diversão. Está incluído no calendário oficial de eventos do Município de Santa Cruz do Sul.
Neste ano, o tradicional evento está agendado para ocorrer no dia 1º de setembro, chegando a sua oitava edição. O Festival da Galinha Recheada também é declarado patrimônio histórico, cultural e gastronômico de Santa Cruz.
Outra atividade importante desenvolvida pelo FC Rio Pardinho é um projeto social que atende mais de 100 crianças inscritas, de 5 a 17 anos. A ação é cadastrada no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Comdica), e aceita doações por meio do Imposto de Renda.
O Mercado das Pulgas foi criado em 2008 e, desde então, foi conquistando o apreço do público e de expositores. O nome do evento surgiu em virtude do fato de os antigos se reunirem para fazer a troca ou a venda de diversos produtos, como roupas, que ficavam no chão. Em razão da presença de pulgas nas roupas, surgiu o nome Mercado das Pulgas, que chegará a sua 25ª edição neste ano.
Conforme uma das coordenadoras da atividade, Marisia Helena Wathier, o evento era realizado em duas oportunidades, em agosto e dezembro. Mas, nos últimos anos, ocorre apenas no oitavo mês. “Modificamos a atividade para beneficiar diversos empreendimentos, como de gastronomia, e artistas e artesãos de outras localidades.”
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O grupo conta com o apoio do F.C. Rio pardinho, com a cedência da sede para receber a estrutura da programação. “É um dia repleto de atividades, com dança, músicos, brinquedos para as crianças e outros. Isso engrandeceu nosso evento”, destaca Marisia.
Para a edição deste ano, ainda não foram definidas data e programação. No entanto, a coordenadora adianta que será voltada à celebração dos 200 anos da imigração alemã no Estado.
Para melhor atender os moradores de Rio Pardinho, há uma Subprefeitura. Quem está à frente do cargo é Noemio Hentschke, 77 anos. Ele considera o lugar muito bonito e bom de se viver. “Temos uma infraestrutura completa, com grandes empresas, comércio local, futebol, uma agência bancária, fatores que tornam a comunidade atrativa.”
Além disso, a região conta com a Estratégia de Saúde da Família (ESF) Rio Pardinho e a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Christiano Smidt, que atende cerca de 300 alunos. A administração local é responsável por atender Linha Travessa, Linha Sete, Ponte Rio Pardinho, Estrada Picada Chinelo, Linha Cereja, Travessa Bohn, Travessa Andreas, Travessão Dona Josefa, Cerro dos Cabritos, Nova Colônia, Entrada Panke, Linha Zierman, Linha Molz, Linha Zingler, Entrada Radtke e outros lugares pertencentes ao 9º Distrito.
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De acordo com Hentschke, Rio Pardinho é o distrito com maior retorno de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para Santa Cruz. “O Frigorífico Schender está em expansão, o Frigorífico Panke e a fumageira também são grandes responsáveis por esse retorno, além dos demais comércios.” Na região, também são produzidos 72 mil litros de leite mensais.
Na última semana, a localidade foi atingida por um forte temporal, que deixou residências sem energia elétrica por dias. “Foi a nossa pior semana, pois sofremos muitos com os ventos”, finaliza Hentschke. O turismo rural é outro ponto em destaque na localidade: além da Rota Germânica, os balneários Panke e Passo das Pedras possuem grande procura pelos visitantes, assim como as pontes pênseis sobre o Rio Pardinho.
O distrito conta com a Associação Pró-Desenvolvimento Agropecuário, presidida por Armindo Kappel, 69 anos. A entidade tem 18 famílias associadas, mas também atende a comunidade em geral. Há mais de 20 anos, são oferecidos máquinas agrícolas e um secador de grãos para os produtores rurais. Para utilizar o serviço, é preciso pagar uma taxa.
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