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Ricardo Düren: ‘Por muito tempo, escrevi sobre as marotices de Ágatha sem que ela soubesse’

A estreia desta coluna, prezado leitor, é culpa sua – ou, melhor dizendo, mérito seu. Mérito de sua insistência em querer ler mais sobre as traquinagens da nossa caçula, Ágatha, e, também, sobre as duas irmãs e o irmão mais velhos. Foram tantos os pedidos – para não dizer, exigências – para que eu escrevesse mais sobre as peripécias da turminha lá de casa que não houve outra alternativa: nos vimos forçados a criar este espaço semanal, aqui no Magazine. Nele, o amigo leitor encontrará divertidas histórias sobre a Ágatha, 7 anos; a Yasmin, 9; e a Isadora, 11. Ainda estou negociando com o Júnior, adolescente de 14 anos, uma autorização para escrever mais sobre ele, mas as tratativas estão se arrastando.

Portanto, cumpre ressaltar que esta coluna, no que tem de fruto dos pedidos dos leitores, vem sendo planejada há bastante tempo e já tinha esta data de estreia – nesta edição – marcada bem antes que o risco da pandemia de coronavírus assombrasse o Vale do Rio Pardo. Logo, ela não é consequência da repercussão da outra coluna que estou assinando na Gazeta do Sul e no Portal Gaz, a Isolamento em Família, onde abordo como estamos nos virando, lá em casa, ante os rigores do confinamento – tema sobre o qual rezo para ter a oportunidade de parar de escrever o quanto antes. Assim, aqui neste espaço, pretendo escapar, dentro do possível, do tema do coronavírus.

Também me pediram para, eventualmente, dar dicas para outras famílias, tão ou mais grandes que a nossa, acerca de como lidar com os inúmeros desafios e dilemas que se impõem a pais e mães. Vou tentar, mas adianto que ainda estou, também, aprendendo.

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O curioso é que a repercussão dos causos da Ágatha e, posteriormente, dos irmãos – e que levou ao surgimento desta coluna – foi algo acidental, totalmente imprevisto. Sempre fui muito discreto em assuntos de família e nunca tive a pretensão de trazer a público, sistematicamente, as histórias do que acontece lá em casa. Só o faço por sua insistência, prezado leitor. A culpa, portanto, é toda sua. Quer dizer, o mérito.

Esse sucesso acidental destas histórias tem raízes em uma crônica que publiquei em meados de 2016 ou 2017, se bem me lembro. Na ocasião, decidi fazer uma reflexão sobre a cultura da violência e resolvi usar como exemplo de minhas preocupações, no início do texto, o relato de uma briga feia que ocorreu lá em casa, entre Ágatha e sua amiga imaginária – também chamada de Ágatha –, a qual, segundo os relatos da caçula, costumava aparecer em uma bicicleta colorida para visitá-la. Já não lembro dos motivos da briga, mas recordo que, depois, Ágatha – no caso, a nossa Ágatha –, então com 3 ou 4 anos, relatou ter colocado a amiga imaginária a correr.

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– E ainda dei um chute nela – confessou.
– Mas Ágatha, coitada! Por quê?
– Ela é uma chatonilda…

Usei o relato como pretexto para uma reflexão acerca de como a cultura da agressão se instava em nossos lares – a ponto de uma criança pequena saber o que são socos e chutes –, mesmo contra a vontade dos pais. No entanto, após a publicação, vieram reclamar comigo do texto. Ficaram decepcionados ao constatar que a história da Ágatha terminava no primeiro parágrafo, para então dar lugar às minhas divagações. Queriam ler mais sobre as peripécias da Ágatha, não sobre meus devaneios edificantes.

A título de experiência, segui invocando exemplos de traquinagens das crianças lá de casa como pretexto para novas reflexões nos dias em que escrevia para a coluna Direto da Redação. Mas as queixas continuaram: as pessoas queriam mesmo era ler sobre os causos da caçula e dos irmãos, não sobre minhas filosofias. E o pedido, enfim, teve de ser atendido.

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Escrever sobre a Ágatha, porém, também me trouxe problemas. Por muito tempo, escrevi eventualmente sobre suas marotices sem que ela soubesse. Tive medo de que ficasse encabulada. No entanto, as pessoas começaram a nos abordar na rua ou no supermercado para conhecer a traquinas.

– Então essa é a famosa Ágatha?
E a caçula, confusa, perguntava depois.
– Pai, por que dizem que sou famosa?
– Ah, filha, sei lá… Devem saber que tu és querida…

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Contudo, o segredo veio à tona algum tempo depois, quando a caçula aprendeu a ler e escrever o próprio nome. Com rosto fechado, veio me interrogar, balançando diante do meu rosto uma Gazeta aberta na página do Direto da Redação.

– Pode me explicar isso?
Resolvi me fazer de desentendido, para ganhar tempo.
– Explicar o quê?
– O que meu nome faz no jornal?
– Teu nome está no jornal? – segui bancando o tolo, precisava de mais tempo.
– Sim, pai, olha aqui.
– Ah… esse texto? Ora, não é nada de mais. É só uma crônica que escrevi, contando uma história que aconteceu contigo aqui em casa.
Mas ela fechou ainda mais o rosto.
– Ah é? E por acaso tu ia gostar se eu escrevesse de ti no jornal? Então vou escrever que tu é um bobão e mandar para a Gazeta publicar.
– Mas, filha, não é bem assim. No jornal só sai o que é verdade… E tu sabes que o pai não é tão bobo assim…
– Hum… É mesmo? Então vou escrever que tu é um barrigudo!

Fiquei sem argumentos.

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Mas as colunas, enfim, vão continuar. Agora, no Magazine, toda a semana.

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