A Revolução Farroupilha (1835-1845) foi uma das revoltas ocorridas no período regencial, marcado pela instabilidade política decorrente da falta de um governo presente e unificador. Dom Pedro I abdicou do trono em 1831, e o filho Dom Pedro de Alcântara tinha apenas 5 anos. Ele seria coroado somente em 1841, quando uma estratégia política antecipou a maioridade do novo imperador.
Cada rebelião tinha outras causas locais e uma identidade própria. Além da Guerra dos Farrapos, houve a Revolta dos Malês e a Sabinada, na Bahia; a Balaiada, no Maranhão; e a Cabanagem, no Grão-Pará. Todas as revoltas foram reprimidas. A mais duradoura foi o conflito na província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Os estancieiros produtores de charque reclamavam dos altos impostos em comparação com o produto uruguaio, que era mais lucrativo. O objetivo da guerra contra o governo central era obter a autonomia econômica e política da província.
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Entre os adeptos do movimento farroupilha estavam alguns separatistas. Tanto que foram proclamadas duas repúblicas durante o conflito: a República Rio-Grandense e a República Juliana, em Santa Catarina. Ao fim da guerra, os revoltosos foram anistiados, e as terras confiscadas foram devolvidas.
O professor e historiador Neco Machado, de Rio Pardo, salienta que o regente Diogo Antônio Feijó nomeou o moderado Antônio Rodrigues Fernandes Braga como presidente da província em 1835, decisão que não foi bem recebida por uma parcela da população. Tornou-se cada vez mais viva a oposição ao presidente Fernandes Braga. Ao não ter as reivindicações atendidas, os contrários ao governo pegaram em armas e passaram dez anos em guerra, concluída somente por intermédio de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, que entrou em acordo com os esfacelados farroupilhas em 1845, na paz de Ponche Verde, atual Dom Pedrito.
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Para Neco Machado, ao lembrarmos todos os anos da Revolução Farroupilha, na semana do gaúcho, nunca se deve esquecer de quem lutou por liberdade. “Não só a liberdade política e econômica, mas, principalmente, a liberdade de ser reconhecido como igual. Em Rio Pardo, no lugar eleito como dispositivo de memória, a Cruz do Barro Vermelho ostenta um monumento ao soldado desconhecido. Eu gosto de pensar que ele representa um farrapo, um imperial e, principalmente, um lanceiro negro. A Revolução Farroupilha foi uma luta de gaúchos contra gaúchos”, destaca.
Rio Pardo foi palco de um dos confrontos mais sangrentos da Revolução, em 30 de abril de 1838. O local daquela que é conhecida como a Batalha do Barro Vermelho é demarcado com uma cruz na atual Praça 30 de Abril, no Bairro Ramiz Galvão, em Rio Pardo. Em 2011, o Monumento ao Soldado Desconhecido foi erguido no mesmo ponto. É uma homenagem aos heróis anônimos.
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Comandados por Bento Gonçalves, Bento Manuel Ribeiro (que depois passaria para o lado imperial), Antônio de Souza Netto e Domingos Crescêncio, os farrapos atacaram Rio Pardo. Os chefes imperiais, marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto e o major José Joaquim de Andrade Neves, futuro Barão do Triunfo, defenderam a povoação. No entanto, ao perceber a derrocada, eles ordenaram que os soldados resistissem até o último cartucho e, às escondidas, teriam cometido uma desonra: fugiram de barco pelo Rio Jacuí, com outros oficiais.
Mais de um mês antes, os rebeldes montaram acampamento em Pederneiras. Os imperiais, guarnecidos com 1,7 mil homens, sendo 500 de cavalaria, aguardavam um ataque pela ponte do Rio Pardo. Contudo, os farrapos transpuseram o rio por uma ponte improvisada e se estabeleceram em Rincão Del Rey, já no dia 27 de abril. As forças de Davi Canabarro surpreenderam as tropas comandadas por Andrade Neves, que recuou até o Barro Vermelho, uma coxilha descampada, onde a defesa legalista era preparada e onde ocorreu o combate no raiar de 30 de abril.
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Os farrapos apreenderam a banda imperial, dirigida pelo maestro Joaquim José de Mendanha. Mulato de Ouro Preto, em Minas Gerais, estava na província a serviço do 2º Batalhão de Fuzileiros. O general Antônio de Souza Netto, que havia proclamado a República Rio-Grandense em 11 de setembro de 1836, encomendou o hino separatista a Mendanha, que apresentou a melodia após cinco dias. O poeta Serafim Joaquim de Alencastro, capitão farroupilha, encarregou-se dos versos. A versão mais popular e utilizada até hoje foi escrita por Francisco Pinto da Fontoura.
Entre os farrapos, foram 17 mortos e 37 feridos na batalha rio-pardense. Já entre os imperiais, foram 370 mortos e 863 combatentes capturados. As informações constam na obra Aspectos da Guerra dos Farrapos, de autoria de Ivar Hartmann, lançada em 2002 pela editora da Feevale. Já as informações sobre detalhes do ao combate estão no livro Uma luz para a história do Rio Grande: Rio Pardo 200 anos – Cultura, arte e memória, de 2010, lançado pela Editora Gazeta.
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O imperador Dom Pedro II chegou a Rio Pardo em 1o de janeiro de 1846, acompanhado da imperatriz Teresa Cristina. Ambos ficaram hospedados na casa do tenente-coronel Manoel Pedroso de Albuquerque. Ficaram cinco dias na vila. O objetivo da visita foi acalmar os ânimos após o fim da Revolução Farroupilha.
No mesmo ano, nasceu Benjamin Franklin, o Barão de Ramiz Galvão, título recebido em 1888. Foi médico, historiador, educador, diretor da Biblioteca Nacional e membro da Academia Brasileira de Letras. Deixou Rio Pardo aos 6 anos, juntamente com os pais. Foi homenageado ao intitular um bairro rio-pardense.
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A predominância em Rio Pardo era de adeptos do Império, os quais controlavam a Câmara Municipal. José Joaquim de Andrade Neves, que depois viria a ser o Barão do Triunfo, presidia o Poder Legislativo durante a Revolução Farroupilha. Além dele, outros legalistas de destaque em Rio Pardo foram João da Silva Barbosa, Manoel Alves de Oliveira, José Ferreira de Azevedo e Paulo Nunes da Silva Jardim.
Entre os simpatizantes proeminentes dos farroupilhas estavam membros como o poeta Sebastião Xavier do Amaral Sarmento Mena e o irmão Francisco de Paula do Amaral Sarmento Mena. Outros destacados foram Manoel Lobo Ferreira Barreto, Cândido de Azambuja e Simeão Gomes Barreto.
O Arquivo Histórico do Município de Rio Pardo (AHMRP) conta com um rico acervo documental variado, com datação de 1760 em diante. A povoação foi fundada em 1753, um ano após a construção do forte Jesus Maria José, de forma estratégica, às margens do Rio Jacuí. O setor foi criado por lei municipal em 1992 e, desde então, a professora Neuza Duarte de Quadros faz a curadoria do espaço. Este preserva as relíquias que contam um pouco da própria história do Rio Grande do Sul, já que Rio Pardo é um dos quatro municípios pioneiros da província, criados em 1809, um ano após a chegada de Dom João VI ao Brasil.
Uma das partes mais relevantes do acervo é a documentação produzida pela Câmara Municipal entre 1768 e 1969. Entre os registros gerais aparecem citações sobre acontecimentos referentes à Revolução Farroupilha, como trocas no comando de órgãos locais, conforme a mudança de posse entre farroupilhas e imperiais ao longo da guerra; problemas cotidianos enfrentados pela população e pedidos de paz conforme o prolongamento do conflito. A maior parte dos registros gerais é assinada pelo escrivão Feliciano José Coelho. As letras rabiscadas a pena são de difícil compreensão, assim como a grafia utilizada na época. A experiência de Neuza é fundamental na interpretação de alguns textos.
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Segundo ela, a maioria das pesquisas no arquivo é feita por acadêmicos em busca de registros oficiais para seus trabalhos de pós-graduação. Neuza salienta que Rio Pardo contava com mais da metade do território rio-grandense no início do século 19. Todo o comércio para a atual região da Campanha e das Missões era feito a partir de Rio Pardo.
Nas disputas com os espanhóis, no século anterior, os portugueses contaram com uma “tranqueira invicta” em Rio Pardo, uma fortaleza jamais superada nos conflitos após o Tratado de Madri, de 1750. A Revolução Farroupilha é um dos aspectos que geram interesse nos pesquisadores em relação à contribuição de Rio Pardo na construção histórica e identitária do Estado.
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