Colunistas

Reverendos alemães no Geissenberg e em minha vida

Conta a história que no topo do Geissenberg havia sido erguida uma singela capela nos idos de 1858. Um pouco mais atrás, os imigrantes alemães organizaram um campo santo comunitário, para o repouso eterno de seus entes queridos. A capelinha deu lugar a uma pequena igreja, concebida pelo arquiteto João Neumann, inaugurada em 8 de fevereiro de 1931. Nela, pastores luteranos, vindos da Alemanha, pregavam a escritura sagrada e os ideais luteranos e cuidavam do bem-estar das almas, na língua materna da comunidade.

As paredes daquela igrejinha e minha memória estão impregnadas de indeléveis vivências e fazem parte da história de minha família. Nela cantávamos cantos natalinos, celebrávamos a Páscoa. Nela meus pais casaram, lá eu fui batizada e confirmada. Para a confirmação, recebemos ensinamentos cristãos durante um ano inteiro, sempre aos sábados. Fomos iniciados nos ideais de Martin Luther, conhecemos histórias bíblicas. Aprendemos os mandamentos, diversos cantos e orações, tudo em língua alemã. Confirmada eu fui pelo pastor alemão Heinrich Bockius. Durante o culto, fomos arguidos em alemão, antes de recebermos a bênção e, pela prima vez, pão e vinho consagrados.

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Depois dele, pude conhecer o pastor alemão Hans Werner Damerow. Sabendo de meu desejo de continuar os estudos, Damerow convidou-me a ingressar na Escola Superior de Teologia de São Leopoldo. Mas essa ideia, apesar de meu entusiasmo, não prosperou. Esbarramos na irredutibilidade de minha mãe, que temia ver eu me perder longe de casa – “Das Kind geht in die weite Welt verlor’”.

Agora, graças ao Museu do Mauá e ao jornal Gazeta do Sul – em um de seus conteúdos especiais para o jubileu da Imigração Alemã, editado em 16 e 17 de março –, soube, enfim, um pouco mais sobre a vida de um outro pastor, muito presente na vida de minha família e muito estimado, o pastor Eugen Eberhardt. Eu não o conheci pessoalmente. Tudo o que sei veio a mim pelos relatos de meus pais e da avó Lídia. Pastor Eberhardt encomendou a alma de meu avô Karl Bender, em 1951. Também foi ele que encomendou a alma de meu avô Wilhelm Kurz, em 1949, falecido em decorrência de um acidente de carro, numa curva do caminho de Riotal, quando voltava de um casamento, no qual havia sido padrinho. Numa curva acentuada, a porta se abrira e ele caiu fora. Antes de falecer – devido a uma hemorragia interna, provocada por uma costela quebrada, que perfurara seu pulmão –, reuniu a família em torno de seu leito e fez minha mãe prometer que não adiaria o casamento com meu pai, marcado para o mês subsequente. Assim, pastor Eberhardt abençoou o enlace de meus pais, batizou meus irmãos e me batizou.

Dos relatos de minha família, o que mais me marcou é o fato de ter vindo ao mundo pelas mãos da esposa do pastor, Erna Spilker. Reiteradamente, minha Mama contava que eu havia sido a última criança que Erna ajudara a vir a contemplar a luz da vida. E que fizera questão de me fotografar, para levar consigo o retrato de lembrança. Assim, em sua bagagem, minha imagem seguiu rumo à Alemanha, muito antes de minhas imersões em terra alemã.

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Neste domingo pela manhã será lançado o livro com registros do primeiro Cemitério Evangélico e da história da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Alto Linha Santa Cruz – em cerimônia prevista no cemitério histórico, logo após uma celebração com o coral Cruzeiro do Sul.

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Guilherme Bica

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