A rotina de médico cardiologista confronta o santa-cruzense Luís Beck da Silva Neto, 52 anos, com muito estresse, o que, em muitos casos, implica em lidar com pacientes em situação terminal. Houve um momento em que o texto surgiu como válvula de escape, permitindo que colocasse no papel, ou, mais recentemente, na tela, em arquivos digitais, alguma reflexão sobre esses temas angustiantes.
Tanto exercitou a escrita que acabou por se descobrir cronista. É esse olhar de escritor que compartilhou neste domingo, 13, com seus conterrâneos. Em atividade na Livraria e Cafeteria Iluminura, no centro de Santa Cruz do Sul, ele autografou o livro Reverberações do humano: que salvam da rotina, lançado pela editora BesouroBox, de Porto Alegre, com 143 páginas, a R$ 54,90.
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Foi também uma oportunidade de reencontro com familiares e amigos da terra natal, alguns hoje espalhados pelo grande mundo. Um deles é o engenheiro e também escritor Aidir Parizzi Júnior, que foi colega de aula de Luís Beck no Colégio São Luís e está radicado no Reino Unido, a partir de onde é colaborador da Gazeta do Sul.
É Aidir quem, a convite, assina o prefácio da obra, na qual aponta méritos dos textos enfeixados no volume: “Como médico, Dr. Beck da Silva cuida de corpos sem esquecer das mentes e dos espíritos, nos quais por vezes residem perenes soluções. Diante da morte, transpira humanidade, recordando-nos de que aquilo que toma a maior parte do nosso tempo acaba, fatalmente, perdendo uma importância que nunca teve.”
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Aidir, por sinal, veio de Londres para também prestigiar o lançamento do colega e amigo. Será um reencontro depois de quase quatro décadas em que não se veem, desde os tempos em que estudaram juntos no São Luís. Após isso, Beck, aos 12 anos, transferiu-se para o colégio Rosário, na capital gaúcha. Filho de Luiz Gaspar Beck da Silva e de Marlene Luz Beck da Silva, ambos falecidos, tem ainda as irmãs Susana, radicada em Curitiba; Sandra, que segue morando em Santa Cruz; e Isabela, também fixada em Porto Alegre.
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Seu nome remete, claro, ao avô, Luís Beck da Silva, homenageado com o nome do Aeroporto de Santa Cruz, avô do qual não chega a guardar lembranças pessoais por ter falecido quando ele tinha 2 anos. Concluídos os estudos de 2º Grau, Luís ingressou no curso de Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em 1994. Depois de cinco anos de residência no Hospital das Clínicas, permanece nessa instituição até hoje, atuando ainda no Hospital Moinhos de Vento. E teve ainda uma temporada de três anos em Ottawa, no Canadá.
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Como cardiologista, a sub-área de Luís Beck é a insuficiência cardíaca, o que implica em lidar com a terminalidade. E são essas vivências cotidianas, que, como explica, acabam por ficar reverberando, fixando-se na memória. “É para lidar com tais experiências, que reverberam, que, em grande medida, escrevo”, diz. Em Porto Alegre, divide as demandas profissionais ainda com a família, na companhia da esposa Suzana, também médica (ginecologista), e o filho Pedro, hoje com 14 anos.
“Hoje vimos mais um coração batendo. Aparentava estar batendo há não muito tempo… Já fazia barulho. Já fazia ‘tum-tá’. Quando teria sido o momento do início? Como teria ocorrido? Teremos um dia como saber? Teremos um dia domínio sobre este momento inatingível da criação? Este momento incontrolável e incompreensível? Ou podemos e poderemos apenas sentir, da forma que pudermos; amar da forma que alcançarmos… Resta-nos fazer parte deste reino animal. Ignorante, mas cheio de sentimentos primários e, por isso, maravilhosos! Fato é que começou a bater e baterá, baterá, baterá para sempre ou… Até não mais poder… Tomara que seja daqui a 100 anos!”.
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