Agronegócio

Reunião da ITGA discute os rumos do tabaco; veja detalhes do debate

Foi realizado na manhã dessa segunda-feira, 18, no centro de convenções do Aquarius Hotel, em Santa Cruz do Sul, o evento principal do Encontro Regional das Américas 2024, promovido pela Associação Internacional dos Países Produtores de Tabaco (ITGA, na sigla em inglês) e organizado pela Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra). Ao longo de toda a manhã, três palestrantes abordaram temas importantes para a cadeia produtiva. Participaram representantes de diversos países produtores da América Central, Ásia e África, além do Brasil.

Em sua fala de abertura, o presidente da Afubra, Marcílio Drescher, abordou as dificuldades que o setor enfrenta no Brasil, como falta de apoio do governo federal, reconhecimento e até mesmo preconceito. “Diante de tudo isso, nós precisamos nos unir ainda mais enquanto cadeia produtiva.” Afirmou que não existe setor do tabaco separado – produtores, entidades representativas e empresas são indispensáveis e por isso precisam estar unidos para resistir e se fortalecer. Lamentou ainda a impossibilidade de participar da Conferência das Partes (COP) e a posição adotada pelo Brasil.

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Já a prefeita Helena Hermany destacou um encontro que teve com a direção da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no ano passado e a possibilidade de mostrar a rotina do produtor e a importância do tabaco para o Vale do Rio Pardo. A chefe do Executivo criticou a ação de organizações que vão até o órgão distorcer a realidade da fumicultura. “O povo não é coitado e gosta de trabalhar nas fumageiras. Lá eles recebem transporte, alimentação e cuidados de saúde.” Falou ainda sobre a relevância das empresas para a arrecadação de impostos no município.

Encerrando a primeira rodada de discursos, o presidente da ITGA, José Javier Aranda, foi mais um a criticar a posição do governo brasileiro. “Ignora os benefícios que a cadeia traz ao País, entre eles emprego, renda e desenvolvimento para todas as famílias envolvidas.” Ele pediu que os líderes políticos federais deixem de ignorar o que para o resto do mundo é evidente: o pioneirismo brasileiro em boas práticas agrícolas e avanço socioeconômico. “Os produtores de tabaco são trabalhadores e persegui-los é um desserviço à força-tarefa internacional para melhorar o desenvolvimento rural e acabar com a insegurança alimentar”, disse.

Pesquisa atualiza o perfil dos produtores do Sul do Brasil

Aberto o ciclo de palestras, o primeiro a falar foi Ivan Genov, gestor de Análise da Indústria do Tabaco da ITGA. Ele abordou questões relativas à produção e comercialização em nível internacional, bem como as perspectivas para o futuro. Depois a palavra passou para o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Iro Schünke, que apresentou os resultados de uma pesquisa realizada pela instituição, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) em 2016 e atualizada em 2023, sobre o perfil socioeconômico dos fumicultores.

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Entre as dezenas de indicadores apresentados, alguns chamam a atenção. Das 1.155 propriedades visitadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, 92% têm acesso à internet, número que era de apenas 44% em 2016. Diante disso, 99% têm WhatsApp, 85% estão no Facebook, 38% acessam o Instagram e 24% assistem a vídeos no YouTube. “Isso demonstra que os produtores estão muito bem conectados aqui no Sul do Brasil”, avaliou Schünke.

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Ele tratou ainda sobre a rentabilidade proporcionada pela fumicultura. De acordo com o estudo, a renda média mensal per capita dos produtores de tabaco é de R$ 3.540,75, enquanto a da população brasileira em geral é de R$ 1.625,00. Com isso, 80,4% dos produtores estão nas classes A, B1 e B2, enquanto 75,3% da população brasileira está nas classes C1, C2, C3 e D. “Por isso ficamos tão chateados quando alguém diz que o agricultor tem que deixar o tabaco para plantar outra coisa. Se houvesse outra alternativa tão boa, talvez ele fizesse isso.”

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Desenvolvimento econômico do País é urgente

O economista-chefe da Federação da Agricultura no Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, foi o terceiro e último palestrante da manhã. Ele trouxe dados que reforçam a importância cada vez maior da agricultura para o mundo e o protagonismo do Brasil em um futuro onde 70% da população mundial estará concentrada nas cidades e apenas 30% no campo. Lamentou ainda que essa pauta tenha sido ignorada nas eleições de 2022. “Quando levamos as coisas para os extremos, perdemos a oportunidade de discuti-las com seriedade.”

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Outro dado alarmante apresentado por Luz trata sobre os países importadores e exportadores de alimentos, considerando o saldo da balança comercial. Atualmente, três em cada cinco pessoas vivem em países importadores e a projeção é que suba para quatro em cada cinco até 2030. O maior exportador líquido de alimentos é o Brasil, com saldo positivo de 169 milhões de toneladas, muito à frente do segundo colocado, os Estados Unidos, com 131 milhões de toneladas. “Alimento é e será poder. Nenhum país tem tantas condições de ampliar números como o Brasil.”

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A expressão soft power também foi debatida pelo economista-chefe da Farsul. Nas relações internacionais, o termo é usado para descrever a habilidade que um país tem para influenciar indiretamente o comportamento e os interesses dos demais. “Temos que pensar lá na frente, como os grandes países fazem. Se queremos ser um grande país, temos que usar melhor o nosso soft power.” Para ele, o Brasil não possui uma estratégia definida para o futuro, não tem uma agenda e não sabe como usar sua relevância na produção de alimentos a seu favor.

Outro ponto de atenção é o déficit de infraestruturas para escoamento da safra. Enquanto a produção agrícola já ultrapassa as 300 milhões de toneladas e segue em crescimento acelerado, as estradas, ferrovias, hidrovias e portos são ampliadas em ritmo muito mais lento. “Se o Brasil investisse em infraestrutura só para atender às demandas que o agronegócio tem hoje, eu garanto para vocês que cresceríamos pelo menos 6% ao ano pelos próximos 20 anos.”

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Críticas à COP-10 e às posições do governo brasileiro

Após o encerramento das palestras, houve um debate sobre os desdobramentos da COP-10, ocorrida em fevereiro no Panamá. A mediação foi da diretora-executiva da ITGA, Mercedes Vázquez, e participaram o presidente do SindiTabaco, Iro Schünke; o presidente da Câmara Setorial do Tabaco, Romeu Schneider; o presidente da ITGA, José Javier Aranda; o secretário da Associação dos Municípios Produtores de Tabaco (AmproTabaco), Guido Hoff ,e o deputado estadual Edivilson Brum (MDB).

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Na oportunidade, Schneider foi mais um a criticar as propostas da COP, que quando não consegue alcançar os objetivos de limitar a produção e comercialização do tabaco, apresenta outras propostas para dificultar o andamento da cadeia produtiva, como o controle de filtros e plásticos descartados.

Brum protestou mais uma vez contra a posição do governo brasileiro. Segundo ele, o Brasil foi o único país que proibiu a participação de deputados estaduais e federais no encontro. “É muito claro que se o Brasil deixar de plantar tabaco, o número de fumantes não irá decrescer.” Como exemplo, citou a maconha: embora tenha a produção e o consumo proibidos, o número de usuários continua a aumentar. “O que diziam para nós em um dia, faziam o contrário no outro”, observou Iro Schünke sobre o comportamento da delegação oficial do Brasil que integrou os debates da COP. As sugestões feitas pelos representantes brasileiros, que nem estavam previstas e eram desconhecidas pelo setor, são o ponto mais preocupante, finalizou o presidente do SindiTabaco.

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Iuri Fardin

Iuri Fardin é jornalista da editoria Geral da Gazeta do Sul e participa três vezes por semana do programa Deixa que eu chuto, da Rádio Gazeta FM 107,9. Pontualmente, também colabora nas publicações da Editora Gazeta.

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