O primeiro ano de Helena Hermany (PP) e Elstor Desbessell (PL) à frente da Prefeitura foi marcado por desafios estruturais e pela fase mais aguda da pandemia. Em um de seus primeiros atos públicos como prefeita, ela anunciou a retomada do atendimento 24 horas no Hospitalzinho, no Bairro Santa Vitória. Pouco mais de um mês após a posse, o município foi atingido por duas enxurradas históricas, que desnudaram as carências no sistema de escoamento da zona urbana. Os reparos consumiram as equipes da Prefeitura durante todo o ano e, como resposta, o governo iniciou uma força-tarefa para desobstruir bueiros, além de intervenções em pontos mais sensíveis, como o trevo do 2001.
Ainda em fevereiro, a Covid-19 atingiu o período mais crítico de contaminações e mortes, o que levou à adoção de lockdowns em dois finais de semana consecutivos, o que até então não havia ocorrido em Santa Cruz. Em paralelo, o governo anunciou um pacote de medidas para proteger a economia, incluindo linhas de crédito para pequenos e médios empreendedores, prorrogação de prazos para quitação de IPTU e ISSQN, programa de renegociação de dívidas e auxílios para algumas categorias, incluindo artistas e profissionais e empresas dos setores de turismo e eventos.
Em junho, a prefeita acionou o Ministério Público Federal (MPF) por causa da demora na formalização dos contratos das mais de 400 moradias dos loteamentos Santa Maria e Mãe de Deus. A entrega das casas acabou ocorrendo no dia 6 de agosto, com a presença do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.
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Já em agosto, o governo voltou a mexer na estrutura administrativa. Após a minirreforma que reduziu de 15 para 13 o número de secretarias municipais no início do ano, Helena transformou a Secretaria Municipal de Comunicação em Secretaria Municipal de Governança e Relações Institucionais, que passou a responder pelo alinhamento estratégico e monitoramento do cumprimento das metas de gestão – uma espécie de “xerife” da administração. Do ponto de vista político, Helena colecionou méritos: teve apenas uma perda no primeiro escalão e, com ampla maioria na Câmara, não registrou derrotas.
Viaduto, duplicação e Centro de Eventos
A largada da gestão de Helena também foi marcada por anúncios de investimentos de peso. Na abertura da Oktoberfest, a prefeita assinou o protocolo de início das obras do Centro de Eventos, um dos projetos mais cobiçados pelo setor empresarial. O complexo de quase 6 mil metros quadrados ficará em uma área subutilizada no Parque da Oktober, conectado com os pavilhões 2 e 3. A estrutura servirá diretamente à Festa da Alegria, que passará a contar com uma área coberta muito maior. O principal objetivo, porém, é colocar o município na rota de outros eventos de grande porte, sobretudo feiras e exposições de negócios, mas também shows e até eventos esportivos. A obra terá início em 2022 e o investimento chegará a R$ 9,8 milhões, com recursos financiados junto ao governo federal.
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Outras duas obras muito aguardadas foram lançadas em 2021 e devem começar no próximo ano. Uma delas é a do viaduto do Bairro Arroio Grande, discutido há vários e que deve dar fim a um dos principais gargalos do trânsito local. Outra é a duplicação do trecho urbano da BR-471, estratégica pelas diversas empresas localizadas às margens da rodovia e por se tratar de um corredor por onde passa boa parte da produção fumageira. Ambas integram um pacote de R$ 50 milhões em investimentos em mobilidade urbana anunciado em dezembro e batizado de Mobiliza Santa Cruz.
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Piscinas e calçadão: as pedras no sapato
Dois projetos iniciados ainda durante a gestão de Telmo Kirst (PSD) causaram dor de cabeça ao novo governo. O principal deles foi a ampliação do calçadão da Rua Marechal Floriano. Concebida para dar cara nova ao principal cartão-postal da zona urbana, a obra começou em 2020 e chegou a 2021 com o cronograma atrasado e causando incômodos aos comerciantes. Ainda em janeiro, o governo rescindiu o contrato com a empresa que havia sido licitada e anunciou intenção de lançar uma nova concorrência. Problemas burocráticos, porém, fizeram com que os trabalhos fossem retomados só em agosto e os prazos projetados novamente não fossem cumpridos. O ano terminou com apenas uma das três quadras encaminhadas e novas queixas de empresários.
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Em abril, Helena também decidiu suspender a implantação do polêmico complexo de piscinas comunitárias do Bairro Bom Jesus. O projeto foi alvo de contestações desde o início, já que nem sequer tinha apoio da maioria dos moradores do bairro. Com a decisão, as oito piscinas que haviam sido instaladas foram devolvidas à Associação de Entidades Empresariais (Assemp) e o espaço, na Rua Marcílio Dias, será transformado em um centro esportivo.
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Acordo histórico na Câmara
Além de uma renovação sem precedentes e do ingresso de lideranças jovens, o Legislativo santa-cruzense iniciou com um inédito acordo que prevê um rodízio entre as maiores bancadas na presidência. Na eleição ocorrida logo após a posse, em 1º de janeiro, Ilário Keller (PP) obteve quase a unanimidade de votos – apenas Alberto Heck (PT) se absteve.
O mesmo acordo levou à eleição, em dezembro, de Rodrigo Rabuske (PTB), que irá presidir o parlamento municipal em 2022. Integrante da oposição ao governo Helena, Rabuske foi o primeiro vereador, pelo menos desde a década de 1980, eleito por unanimidade.
Entre os projetos de maior impacto aprovados, estão o que instituiu o uniforme da rede municipal de ensino; o que ampliou a política de incentivos a empresas; o que autorizou o subsídio tarifário ao transporte urbano; o que permitiu o acordo em torno do Santuário de Schoenstatt e o que modificou a lei dos aplicativos de transporte.
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Dois temas foram marcantes na pauta da Câmara. Um deles foi a defesa dos direitos da mulher: um dos projetos aprovados foi o que institui instrumento de proteção em restaurantes. Outro assunto foi a transparência, como a lei que prevê a divulgação das pessoas vacinadas contra a Covid-19.
Denúncias e quase cassação
Embora sem repetir as grandes crises dos últimos anos, a Câmara de Santa Cruz do Sul não escapou de polêmicas em 2021. A principal delas foi no fim de maio, quando um discurso feito pelo vereador Alberto Heck (PT) durante uma manifestação contra o governo federal levou a um pedido de cassação contra ele, protocolado por três apoiadores de Jair Bolsonaro no município. Na ocasião, Heck chamou de “teatro” o atentado à faca sofrido pelo presidente em 2018. “Se não fosse um teatro, mal ensaiado por sinal, nós só teríamos que dizer: ‘Adélio, seu imbecil por ter errado’. Nós poderíamos estar livres desse mal”, disse. Os vereadores, porém, rejeitaram por ampla maioria a abertura do processo de perda do mandato.
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O ano ainda teve dois novos desdobramentos da Operação Feudalismo, do Ministério Público, que se iniciou em 2019 e levou à prisão de Paulo Lersch em 2019 e à cassação de Alceu Crestani, Elo Schneiders e André Scheibler em 2020. Em julho, o MP denunciou a ex-vereadora Solange Finger (PSD), por supostamente se apropriar de mais de R$ 180 mil em salários de ex-servidores em um esquema de “rachadinha”.
Já em setembro, Paulo Lersch foi denunciado pela segunda vez. Além de novos casos de “rachadinha”, ele passou a responder por lavagem de dinheiro, por supostamente utilizar valores captados de servidores para criar uma empresa de transportes. Os casos ainda tramitam na Justiça.
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Eduardo Leite fora da disputa presidencial
Após uma disputa fratricida na qual chegou a ser apontado como favorito em pesquisas, o governador gaúcho Eduardo Leite perdeu a indicação para concorrer à Presidência da República em 2022. Leite concorreu contra o governador de São Paulo, João Doria, e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.
A campanha foi marcada por trocas de acusações e denúncias entre Leite e Doria. As prévias começaram no dia 21 de novembro, mas acabaram suspensas devido a um problema no aplicativo utilizado para registro de votos. Uma semana depois, o processo foi retomado e o resultado foi de 54,99% dos votos para Doria e 44,66% para Leite.
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Voto impresso e CPI
No centro do poder, os embates foram constantes ao longo do ano. Um dos assuntos que polarizaram discussões foi a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso. Defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, a mudança motivou manifestações a favor e contra nas ruas, inclusive em Santa Cruz do Sul. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reforçou as campanhas acerca da credibilidade do sistema de votação eletrônica. Em agosto, a PEC foi a votação na Câmara dos Deputados e acabou arquivada. Para ter andamento, a matéria precisava de, no mínimo, 308 votos. Porém, o texto elaborado pela deputada Bia Kicis (PSL-DF) teve apoio de 229 parlamentares.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia do Senado foi finalizada em outubro, mês em que o Brasil atingiu a marca de 600 mil mortes. O documento final, elaborado pelo relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), continha 1.299 páginas e pedia o indiciamento de 78 pessoas, inclusive o presidente da República. Em 2022 devem ocorrer desdobramentos do caso, mas analistas apontam que as chances de punição são pequenas. No entanto, a imagem política pode ser a mais afetada.
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O QUE ESPERAR EM 2022
Um ano intenso na política
O presidente Jair Bolsonaro começou 2021 como líder nas pesquisas eleitorais, mas viu os números mudarem após o Supremo Tribunal Federal anular, em abril, processos que tornaram Luiz Inácio Lula da Silva inelegível. Pesquisas recentes mostram Sergio Moro, ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro de Bolsonaro, que se filiou ao Podemos em novembro, na terceira posição à frente de Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Rodrigo Pacheco (PSD) e Simone Tebet (MDB).
Para a cientista política e social Elis Radmann, embora a polarização entre Lula e Bolsonaro seja uma tendência, ainda não há uma certeza e o cenário pode mudar, embalado por uma terceira via competitiva e pela rejeição aos dois protagonistas da disputa. Fundadora do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), Elis disse em entrevista à Gazeta do Sul que parte significativa do apoio a Lula e Bolsonaro, evidenciado nos levantamentos de intenção de voto que os colocam na dianteira da disputa, envolve votos de negação – ou seja, de eleitores que só pretendem votar em um deles para evitar a vitória do outro.
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No Rio Grande do Sul, o cenário ainda vem se desenhando. A única certeza é que o atual governador não vai buscar a reeleição. Entre os nomes em alta para concorrer ao Piratini estão o deputado estadual Edgar Pretto (PT) e o ministro do Trabalho e Previdência Social, Onix Lorenzoni (DEM). Também figuram na lista de pré-candidatos o senador Luis Carlos Heinze (PP), Pedro Ruas (PSOL), o deputado federal Beto Albuquerque (PSB), o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior (PSDB) e o deputado federal Alceu Moreira (MDB).
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Expediente
Texto e pesquisas: Dejair Machado
Textos: Cristiano Silva, Dejair Machado, Iuri Fardin, João Cléber Caramez, Pedro Garcia e Romar Beling
Revisão: Luís Fernando Ferreira
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