No último dia de 2023, o Portal Gaz relembra reportagens de grande repercussão, situações que viralizaram na internet e crimes que chocaram a população na Retrô do Gaz. O dia 14 de novembro, portanto, não poderia ficar de fora. Foi o segundo dia do ano com mais audiência no site – quase 380 mil acessos -, o que levou à sobrecarga do servidor e consequente instabilidade do sistema. Mesmo assim, a equipe da Redação Integrada da Gazeta não deixou de informar qualquer detalhe da Operação Controle.
A cobertura da ofensiva deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime (Gaeco) do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) começou logo cedo. Pouco depois das 7 horas, foi publicada a primeira notícia, que dava conta do cumprimento de 139 ordens judiciais. Na ação, foram apreendidos inúmeros documentos e dispositivos eletrônicos, encaminhados para análise, além do bloqueio de bens e valores, e sequestro de imóveis.
Entre os alvos estavam servidores municipais que terminaram afastados por seis meses. Um deles foi o vice-prefeito Elstor Desbessel (Progressistas); também quatro secretários – Edemilson Severo (Administração), Marcio Farias Martins (Desenvolvimento Econômico e Turismo), Everton Oltramari (Planejamento e Governança) e Valmir José dos Reis (Segurança e Mobilidade Urbana); e o vereador Henrique Hermany (Progressistas). Em entrevista à Rádio Gazeta 107,9 FM, o promotor João Beltrame descartou o envolvimento da prefeita Helena Hermany (Progressistas).
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A investigação que culminou na Operação Controle iniciou em junho de 2022 e indicou fraudes em licitações, nas quais um grupo político teria direcionado o processo a um grupo empresarial específico, além de valores superfaturados. Entre as obras envolvidas estariam a duplicação da BR-471, a reforma do Autódromo Internacional e contratos de aluguel. Os afastamentos são necessários, segundo o MP, para que as pessoas suspeitas de envolvimento nos crimes, não tivessem como dar continuidade ao esquema.
Organização criminosa
O coordenador do Gaeco, o promotor de Justiça André Dal Molin, classificou o grupo como uma organização criminosa. Ele detalhou que o núcleo político era supostamente chefiado pelo vereador Henrique Hermany, que tinha ligação com algumas empresas, das quais ele era advogado. Para o MP, a “organização criminosa” planejou, fraudou e direcionou licitações; e fez contratos de aluguéis sem interesse público, com dispensa de licitação e valores com sobrepreço.
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A ofensiva do dia 14 de novembro fez buscas nas residências dos envolvidos, no Palacinho, na sede de empresas, e na Câmara de Vereadores. A então presidente do Legislativo de Santa Cruz, Bruna Molz, contou, em frente ao prédio da Câmara, que recebeu uma ligação do promotor Érico Barin às 6 horas, solicitando que ela abrisse a sede do Legislativo. Nem ela ou qualquer servidor teve acesso às dependências da Câmara até que a ação no gabinete do vereador Henrique Hermany fosse finalizada.
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Ao longo do dia, líderes políticos se pronunciaram sobre a Operação Controle. Um deles foi a vereadora Nicole Weber. No Instagram, ela afirmou ter levado denúncias ao Ministério Público. O Portal Gaz ainda ouviu os demais partidos com representação em Santa Cruz sobre o ocorrido.
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Na manhã daquela terça-feira, a Prefeitura de Santa Cruz emitiu uma nota, informando que estava colaborando integralmente com o andamento da operação. “A Prefeitura reforça seu compromisso com a transparência e seu propósito de que todos os aspectos relativos ao tema sejam amplamente esclarecidos”, dizia o texto. Poucas horas depois, às 11h30, a prefeita Helena Hermany se pronunciou pela primeira vez, em entrevista coletiva.
Além de declarar confiança na equipe de licitações e reforçar que “a verdade vai prevalecer”, ela comentou sobre o afastamento do filho Henrique Hermany das funções de vereador. “Me orgulho de ter uma família política; me orgulho do meu filho”, disse. Helena ainda lamentou as acusações e a possibilidade de paralisação das obras investigadas.
No início daquela tarde, foi a vez de Elstor Desbessel quebrar o silêncio. Apesar de chateado, o político demonstrou tranquilidade em relação à acusação de envolvimento em uma organização criminosa. “Estou muito tranquilo e já tomando as devidas providências, buscando a minha defesa para mais uma vez provar que não tenho nada a temer”, declarou, em entrevista coletiva, questionando a forma como a operação foi conduzida. “Por que fazer todo um circo?”
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Na sequência, Henrique Hermany recebeu a imprensa em casa. Ele disse que foi surpreendido pelo cumprimento de mandados na sua residência e em seu gabinete. “Nunca houve nenhuma interferência minha como líder de governo, enquanto vereador, ou como advogado em qualquer processo licitatório no município de Santa Cruz do Sul”, declarou.
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Na quinta-feira, 16, Helena Hermany decidiu se pronunciar novamente. Na ocasião, ela afirmou que a Operação Controle se tratava de uma “armação política” e tentou explicar os números apontados pelo MP como sendo de prejuízo aos cofres públicos – cerca de R$ 47 milhões. No mesmo dia, a vereadora Nicole Weber também optou por conceder uma coletiva de imprensa, na qual ela afirmou não estar se promovendo com a investigação. “Esse é meu perfil, ser vereadora e fiscalizadora”, disse, em resposta à Helena.
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Após a manifestação da prefeita, o Ministério Público emitiu uma nota, afirmando que não estava gerando prejuízos a Santa Cruz. “Temos a convicção de que, quando [Helena Hermany] tiver pleno acesso às provas coletadas na investigação, entenderá a gravidade dos crimes”, dizia o texto.
Com o afastamento do vereador Henrique Hermany, Edson Azeredo, primeiro suplente do partido, assumiu a vaga na Câmara. Já a função de líder de governo foi para Ilário Keller.
Dez dias após a Operação Controle, a prefeita exonerou os quatro secretários municipais afastados, bem como um diretor em cargo de comissão. Com isso, os atuais secretários das pastas de Saúde, Administração, Desenvolvimento Econômico e Turismo, Planejamento e Governança e Segurança e Mobilidade Urbana são, respectivamente, Fabiano Dupont, Marinalda Arena Dias Spindler, Cesar Cechinato, Karianne Pacheco e José Osmar Ipê da Silva.
As últimas informações sobre a Operação Controle dão conta de que a Justiça autorizou o repasse de parte das informações sobre a investigação para a Câmara de Vereadores e para a Prefeitura. Antes, no entanto, as solicitações haviam sido negadas. A decisão de liberar o acesso foi do juiz Orlando Faccini Neto, que determinou aos poderes Legislativo e Executivo, manter o sigilo, mas tomar as medidas necessárias.
Nesse sentido, o Conselho de Ética da Câmara de Vereadores está analisando as 8 mil páginas do inquérito. A conduta do vereador Henrique Hermany será avaliada pelos integrantes da comissão, composta pelos parlamentares Nicole Weber, Francisco Carlos Smidt (PSDB) e Leonel Garibaldi (Novo).
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A Operação Controle recebeu esse nome pelo fato de o MP ter considerado que havia um grupo que controlava determinadas secretarias do Poder Executivo santa-cruzense, cometendo crimes de fraudes em licitações.
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