Quando se vive um tsunami político da magnitude que o Brasil vem experimentando desde o ano passado, a única esperança à qual nos resta apegarmos é a de que sairemos melhores do caos. Nossa confiança nas instituições pode estar seriamente abalada e até a solidez de nosso regime democrático pode estar em xeque, mas ao menos – é o que pensamos –estaremos mais maduros e conscientes para seguir em frente.
Não sei se fui tomado de vez pelo pessimismo, mas cada vez tenho mais dúvidas se, de fato, estamos aprendendo alguma coisa com todo esse engodo. Basta prestar atenção nas discussões do dia a dia, das mesas de bar às redes sociais, para ver que pensamentos extremistas ganham força. Estamos mais politizados, é verdade, mas me preocupa a qualidade dessa politização.
É curioso que, após três décadas de democracia, estejamos ainda enclausurados na lógica do “nós e eles”. Os políticos nos provam diariamente que, em sua maioria, são muito parecidos entre si, e mesmo assim continuamos acreditando em mocinhos e vilões. Se somos simpatizantes de uma determinada corrente, ignoramos suas contradições, fazemos vista grossa aos seus deslizes, compramos suas retóricas baratas, exaltamos seus feitos e minimizamos seus problemas. Já com aqueles de quem não gostamos, somos implacáveis.
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Os discursos sobre o ex-presidente Lula e suas pendências judiciais ilustram isso. Não sei se o que me assusta mais é quem pede a sua prisão a qualquer custo – como se, em um país que se pretende decente, não gostar de um político fosse motivo para querer encarcerá-lo – ou quem afirma, com todas as letras, que independente de qualquer prova, seguirá defendendo sua inocência.
Ambas as visões são reflexo de uma cegueira generalizada. E não adianta alegar que somos um “povo inculto e desinformado”, pois esses discursos são reproduzidos, inclusive, por intelectuais e formadores de opinião.
É como se o País tivesse sido dividido ao meio e só nos sobrasse escolher um lado e “vestir a camisa”. O que poucos percebem é que essa divisão só beneficia o próprio sistema político, que com isso mantém seus exércitos de prontidão e com armas apontadas para o inimigo. Para o País, o efeito é um debate cada vez mais rasteiro e que adia as transformações que tanto esperamos.
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Não precisamos ser Lula ou Moro, Temer ou Janot, coxinhas ou petralhas. Ou melhor: podemos ser o que quisermos, desde que sem perder a lucidez, a autocrítica e o apego ao que é fato – e não crença ou paixão. Prefiro mil vezes ser taxado de “isentão” do que bancar o inocente útil a serviço de um partido, qualquer que seja.
Suspeito, aliás, que é essa “grenalização” que alimenta o radicalismo perigoso que se espalha pelo planeta. Se em pleno 2017 voltamos a ouvir falar em Klu-Klux-Klan, supremacia branca e neonazismo, é hora de se assustar. E pisar no freio.
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