Os fatos históricos associados aos horripilantes crimes da Rua do Arvoredo (hoje Rua Coronel Fernando Machado), no centro histórico de Porto Alegre, chamaram a atenção no País e no mundo. Também não é para menos: nos anos de 1863 e 1864, o casal Catarina Pulse e José Ramos, residente em uma casa naquela via, entrou para o noticiário policial quando se descobriu que eles assassinavam pessoas e desossavam os cadáveres, cuja carne era transformada em linguiças, comercializadas entre a população, num rito de canibalismo.
Cento e sessenta anos depois, ao que tudo indica, a maldição ressurgiu. É o que sugere novo romance do escritor porto-alegrense Tailor Diniz, um dos mestres da narrativa de suspense ou de investigação em realidade gaúcha. Os canibais da Rua do Arvoredo já remete diretamente aos acontecimentos macabros a partir do título. Mas não só. Nas primeiras linhas do romance, o leitor descobre que tem diante de si um casal de personagens chamados… Catarina e José.
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Se não são os mesmos atores do século 19 renascidos, sem dúvida estão sob forte influência espiritual deles. Afinal, como se descobrirá, os espíritos ditam as regras nesse novo tempo. E quem acompanha atentamente o desenrolar dos acontecimentos é um narrador que a tudo testemunha, de um ponto de vista privilegiado, em um universo digital e com conexões quase ilimitadas, para não dizer… diabólicas. Em manobra que zomba das teorias conspiratórias da “Nova Ordem Global”, Zinidt Oden, “filho do globalismo e voyeur convicto”, relata as novas aventuras de “Cata” e José.
Ele, estudante de culinária; ela, de medicina, exímia na dissecação de cadáveres. Sob a influência dos espíritos que se concentram na casa na qual residem (o local em que os crimes da Rua do Arvoredo efetivamente ocorreram, no passado), começam a se aventurar no mesmo modus operandi de seus xarás do século 19: belíssima, ela seduz homens e os atrai até o porão da residência; ali, José se encarrega de matá-los. Destrinchados, terão sua carne fornecida a uma lanchonete da vizinhança, onde resultarão em hambúrgueres que fazem mais sucesso a cada dia, com telentrega por toda a cidade.
A sensualidade é uma das marcas da narrativa de cunho investigativo que Tailor Diniz construiu em torno dos crimes de canibalismo. Catarina e José, o casal de personagens centrais de Os canibais da Rua do Arvoredo, agem sob influência de espíritos, por sua vez movidos pela sede de vingança contra as autoridades que, no passado, atrapalhavam seus “negócios”.
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Catarina e José, no século 21, jovens e esbeltos, renascem também em sua sexualidade. E é ela quem os instiga em busca de prazer, ao mesmo tempo em que atendem, de forma voluntária ou involuntária, ao que determinam os espíritos. Assim, enquanto cumprem seus compromissos de estudantes, também saem à noite para “caçar” incautos, com Catarina lançando mão de uma beleza algo demoníaca. Como já ocorrera no passado, é claro que, a certa altura, tamanho envolvimento com um crime hediondo acabaria por fugir ao controle.
A forma como Tailor Diniz estruturou a narrativa efetivamente prende o leitor, com os acontecimentos, na reta final, sucedendo-se em um ritmo frenético.
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“Enquanto caminham até a porta, abraçados, como dois namorados, ela diz:
– Hoje à noite a gente vai sair para dançar.
Ele a puxa mais para perto e lhe beija os cabelos.
– Boa ideia!
– Vamos comemorar o nosso renascimento.
Entram na casa.
– Além do mais, temos uma missão a cumprir – ela diz.
José fica intrigado.
– Missão a cumprir?
Ela ri, dá um selinho nele e desconversa.
– Ora, Zezinho, comemorar o renascimento da nossa vida sexual não é uma missão a cumprir?”
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