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Resiliência para sobreviver

Depois de três enchentes devastadoras num espaço de oito meses no Vale do Taquari – e outras regiões do Rio Grande do Sul – estamos diante da disputa eleitoral que mais mexe com a população. A busca do mandato de prefeito e vereador diz respeito diretamente à vida de todos nós, impacta as famílias, negócios, rotina de quem convive nas comunidades. Ao contrário dos ditos “paraquedistas”, que são aqueles candidatos a deputados estadual e federal, além de senador, que aparecem apenas nos anos de eleição, este pleito permite uma escolha mais criteriosa. Os aspirantes aos cargos eletivos de outubro são conhecidos de toda a população que vai escolher, através do voto, seus representantes. Os candidatos estão entre nós todos os dias, conhecemos suas biografias, parentes e como ganham a vida.

Ao longo da campanha eleitoral, é possível comparar o discurso com a realidade. Na prática, o eleitor pode – e deve – comparar o que está escrito nos folhetos bonitos e coloridos com a vida pregressa de quem reivindica o direito de nos representar. Durante os debates e no horário político gratuito, cada um de nós pode verificar se as trajetórias pessoal e profissional do candidato são coerentes. Basta ter atenção, cotejar teoria e prática, constatar a honestidade de quem pede nosso voto, analisando a vida dos candidatos que conhecemos ao longo de nossas vidas.

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Nos municípios assolados pelas enchentes, a situação é inusitada. Não apenas pelo clima de consternação, depressão e destruição, mas pelo fato de essas comunidades necessitarem de união para reconstruir o que as águas levaram embora. O paradoxo da solidariedade em contraponto à disputa eleitoral vai exigir de toda a população equilíbrio, sobriedade e visão de futuro para compreender que é preciso agir com racionalidade.

O pós-eleição será ainda mais desafiador. As feridas abertas ao longo da disputa deverão ser sanadas com rapidez. A energia deverá se concentrar na reconstrução, na busca de consensos e no esforço para reconstruir a vida de milhões de conterrâneos. Tão logo a tragédia das águas amainou, instalou-se o debate sobre a conveniência da realização das eleições municipais neste ano. De lado a lado foram alinhavados argumentos, como a necessidade de uma mudança constitucional, a impossibilidade de se fazer exceções pontuais em municípios atingidos pela intempérie.

O certo é que a disputa está posta, a campanha está nas ruas, os debates já começaram e a troca de ofensas, farpas e cobranças corre solta. Além da reconstrução dos municípios, o trabalho de reconciliação exigirá energia, paciência, compreensão e tempo. Será mais uma experiência inédita na vida de todos nós no eterno exercício de resiliência. E sobrevivência.

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Guilherme Bica

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