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BOATE KISS

Repórter da Gazeta relembra cobertura em Santa Maria no dia da tragédia

Foto: Rodrigo Assmann

Caixões foram dispostos para serem velados em uma parte do ginásio

A Gazeta Grupo de Comunicações é o único veículo da região credenciado junto ao Tribunal de Justiça para cobrir em plenário o maior julgamento da história do Rio Grande do Sul. Mas não é de hoje que o caso é acompanhado de perto pela Gazeta. No dia 27 de janeiro de 2013, data da tragédia, uma equipe foi até Santa Maria cobrir os desdobramentos do fato que deixou o País em luto.

O repórter da Rádio Gazeta FM 107,9 Adriano Júnior, o Juba, sentiu de perto o drama dos pais ao verem seus filhos mortos. Ele esteve no Centro Desportivo Municipal, para onde os cadáveres das pessoas falecidas estavam sendo carregados após serem retirados do interior da boate. Como ele mesmo define, recorda cada momento daquele dia, que começou cedo.

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“Eu sempre gosto de chegar nos plantões já por volta de 6 horas. Naquele domingo, quando cheguei, o Antoninho Pereira, que estava comandando na rádio o programa Alma Gaúcha, me avisou que tinha dado um incêndio em uma boate em Santa Maria, e as informações que estavam chegando eram de que dez já tinham morrido. Fiquei atento para esse fato, liguei meu computador, sintonizei rádios de lá e, com o passar das horas, de dez passou para 20, depois 50, 100, 150 mortos.”

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Participante fixo das transmissões esportivas da Rádio Gazeta FM 107,9, Adriano Júnior já havia recebido também a informação de que a rodada do Campeonato Gaúcho tinha sido cancelada. “O Santa Cruz jogava a Série A e uma equipe ia se deslocar para o local do jogo. Quando veio a confirmação de que a Federação Gaúcha de Futebol tinha cancelado toda a rodada, o fotógrafo Rodrigo Assmann, a repórter Rozana Ellwanger e eu pegamos o carro que seria usado para ir à partida e nos deslocamos para Santa Maria.”

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Juba detalha momentos que passou, cobrindo o fato no local | Foto: Rafaelly Machado/Banco de Imagens

Entrada em espaço restrito

Os três deixaram Santa Cruz por volta das 9h30. Na entrada de Santa Maria, junto da Base Aérea, em Camobi, a RSC-287 estava trancada para passagem do então governador Tarso Genro e da presidente Dilma Rousseff. “Depois que liberaram, seguimos para o Centro Desportivo Municipal, onde estavam sendo colocados os corpos das vítimas”, lembrou Juba.

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Uma coletiva de imprensa chegou a ser agendada com a presidente, mas por fim, quem apareceu para falar foi o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha. “Tinha uns 40 repórteres dentro de uma sala pequena.” Com emoção, Adriano relembra o momento em que entrou em um espaço restrito à imprensa. De Santa Cruz, foram enviados enfermeiros e ele entrevistou uma profissional no local, já por volta de 14h30.

“Estávamos no lado do Centro Desportivo Municipal, onde já estavam sendo velados alguns falecidos. A enfermeira me perguntou se eu queria adentrar um espaço que até então estava fechado para a imprensa, onde os corpos estavam dispostos, deitados, para serem reconhecidos pelos pais. Pediu para eu colocar o crachá da empresa para dentro da camiseta e segui-la. Caminhamos por um corredor e chegamos no ginásio.”

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Ele lembra com detalhes o momento. Os cadáveres não estavam cobertos. “A quadra toda estava cheia de gente deitada, em fila. Na grande maioria jovens, e muitos celulares tocando, com ligações de pais, amigos ou namorados. Poucos estavam queimados ou machucados, pois muitos haviam morrido pela asfixia da fumaça. Quando saí dali, fiquei uma hora parado, sem reação.”

Por volta de 18 horas de 27 de janeiro de 2013, a equipe da Gazeta retornou para Santa Cruz. Antes, os repórteres passaram em frente à Kiss, onde fizeram registros. “Eu lembro cronologicamente de tudo que aconteceu naquele dia. É uma das coberturas que fiz que não esqueço e não vou esquecer. No outro dia, participei da Sala do Cafezinho e desabei em choro. É uma carga de emoção muito forte.”

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