Em meio à 10ª Conferência das Partes (COP-10) da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco da Organização Mundial da Saúde (OMS), surge a dúvida: é possível e viável substituir o tabaco por outros cultivos em pequenas propriedades? Para responder a essa pergunta, a Gazeta do Sul buscou dados junto à Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), ouviu produtores e representantes da categoria com o objetivo de entender a realidade do campo e quais são as reais possibilidades para uma eventual substituição.
De acordo com o presidente da Afubra, Marcílio Drescher, a maioria (40,2%) dos 124 mil produtores no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná possui propriedades que variam entre um e 10 hectares. Dentro desse número, é preciso considerar ainda que nem toda a área está própria e disponível para a agricultura. Parte é destinada à vegetação nativa, área da residência e galpões, açudes e outros. O tamanho médio das lavouras de tabaco é de 2,3 hectares.
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A partir disso, é preciso analisar os números. Na safra 2022/2023, a última com dados consolidados, o rendimento médio do tabaco por hectare foi de R$ 41,9 mil. Na comparação com a soja e o milho, o retorno foi de R$ 6,5 mil e R$ 5,4 mil, respectivamente. Isto é, para ter uma rentabilidade semelhante à de 1 hectare de tabaco, o agricultor precisaria plantar 6,3 hectares de soja ou 7,66 hectares de milho. “Muitas vezes essa pequena área ainda está localizada em terreno íngreme e que dificulta o trabalho”, comenta Drescher.
Outra questão é o custo de produção e o investimento necessário. Drescher lembra que o cultivo dos grãos precisa de tratores, colheitadeiras e outros maquinários, além da maior demanda por insumos. Já o tabaco é muito menos exigente nessas questões e os produtores ainda contam com os incentivos das empresas. “Com apenas 2,5 hectares plantados, o fumicultor consegue um faturamento de mais de R$ 100 mil.” Ele acrescenta que esse valor não é lucro líquido e abrange os custos de produção, mas cerca de 50% desse custo é com mão de obra, que em muitos casos é familiar. “O salário dele já está ali no meio, enquanto na soja e no milho há um gasto com operação muito maior.”
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Outro ponto levantado pelo presidente da Afubra trata da estabilidade. Dentro do sistema integrado de produção, os fumicultores recebem incentivos das empresas para o plantio e garantia de compra da produção. Além disso, nunca houve redução no preço pago pelo tabaco. “Tem as variações da classificação, que podem levar para cima ou para baixo, mas o preço da tabela sempre se manteve ou subiu conforme o custo de produção.” O seguro oferecido pelo sistema mutualista da Afubra contra granizo também é visto como um fator determinante e que não existe em outras culturas.
Na compreensão do presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Santa Cruz do Sul, Sinimbu, Vale do Sul e Herveiras, Sérgio Luiz Reis, a organização da cadeia produtiva, o conhecimento da cultura e a tradição que vem de gerações também são motivos que sustentam a fumicultura. Ele chama a atenção ainda para toda a infraestrutura já existente nas propriedades. “Por ser uma cultura de safra anual, possibilita ao produtor realizar tarefas inerentes ao cultivo de forma organizada e por etapas, diferentemente de outras atividades que exigem rotinas semanais ou até mesmo diárias”, avalia.
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Acerca da rentabilidade, Reis segue pela mesma linha de Marcílio Drescher ao afirmar que, em pequenas áreas, não há outra opção de plantio que proporcione renda suficiente para o sustento das famílias. “Temos ainda comercialização garantida por meio do sistema integrado e financiamento dos insumos de forma desburocratizada, se comparado com outras alternativas.”
O fumicultor e agroinfluenciador Giovane Luís Weber reforça o discurso. “Com quatro hectares você planta 60 mil pés de tabaco, o que é suficiente para sustentar uma família com muita tranquilidade.” Além disso, o cultivo de alimentos para subsistência e o plantio de eucalipto para a obtenção de lenha também são práticas comuns nessas propriedades.
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Depois de já ter conhecido praticamente todas as regiões produtoras no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, Weber acumulou experiência e pôde acompanhar a evolução de muitas propriedades. Segundo ele, a remuneração do tabaco permitiu que muitos pudessem investir na diversificação, como a criação de gado leiteiro. “Hoje temos produtores com toda a infraestrutura montada e tudo isso foi custeado com os ganhos do tabaco, sem a necessidade de financiamento.”
Alguns, com maior disponibilidade de terra, puderam abandonar o cultivo do tabaco, mas a maioria manteve como uma segunda fonte de renda. “Por ser uma cultura mais braçal, é plantado em áreas mais íngremes, onde o maquinário não consegue chegar”, argumenta.
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Outro levantamento da Afubra mostra a diversificação das propriedades produtoras de tabaco no tocante à atividade agropecuária com fins comerciais. Dos R$ 18,5 bilhões de receita gerados pelos fumicultores nos três estados do Sul, 59,1% são oriundos do tabaco, enquanto 29,3% são de origem animal (criação de aves, suínos e bovinos para obtenção de carne, leite e ovos) e 11,6% são de outros cultivos vegetais, como milho e hortifrutigranjeiros com destinação comercial.
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