A morte do papa Francisco, ocorrida no início da manhã desta segunda-feira, 21, causou comoção a milhões de pessoas ao redor do mundo. O pontífice, que durante seus 12 anos na liderança da Igreja Católica defendeu a paz, a igualdade social e o combate às mudanças climáticas, ficou marcado pela sua simplicidade. Essa característica é lembrada pelo hoje bispo emérito da Diocese de Santa Cruz do Sul, dom Aloísio Alberto Dilli, que teve a oportunidade de se encontrar com o pontífice no Vaticano em maio de 2022.
A experiência, chamada de Visita ad Limina Apostolorum, (“visita ao limiar dos apóstolos”, em latim), levou os bispos e arcebispos de todas dioceses do Rio Grande do Sul à sede da Igreja Católica, onde participaram de agenda com o papa. A atividade, normalmente, é prevista para ocorrer a cada cinco anos, mas fazia treze que não acontecia no momento da última visita.
No retorno ao Brasil, dom Aloísio, que ainda ocupava o cargo de bispo da Diocese de Santa Cruz do Sul, concedeu entrevista à Rádio Gazeta FM 107,9 e comentou sobre a experiência vivida na Europa. A audiência com o papa, que reuniu todos integrantes da comitiva gaúcha, durou cerca de duas horas. “Ele foi extremamente simples conosco”, destacou.
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Logo ao cumprimentar o pontífice, dom Aloísio disse a ele que trazia saudações e preces de todos os diocesanos da região. O bispo emérito relata que Francisco, então, abriu um sorriso muito grande, agradeceu e deu as boas-vindas. “O papa criou um clima espontâneo, fraterno. Ele disse que nós éramos muito bem-vindos e que ele estava esperando por nós. Ele se expressa humanamente, com uma simplicidade extraordinária”, relembra o então líder da diocese. Francisco, inclusive, chegou a brincar que faria a reunião em “portunhol”, já que os visitantes falavam o “brasileiro” e não o português de Portugal.
A simplicidade do líder do Vaticano também se manifestou ao ter oferecido água aos visitantes gaúchos e indicado onde ficavam os banheiros. Segundo dom Aloísio, o papa também deixou claro que estava lá não para dar um discurso, mas sim para ouvir o que os bispos e arcebispos tinham a dizer. Entre os assuntos que pautaram a conversa, estava a guerra entre Rússia e Ucrânia, que havia se iniciado há pouco mais de dois meses; mas também passou pelo futebol, esporte que Francisco acompanhava assiduamente, com menções aos ídolos Pelé e Diego Maradona.
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Dom Aloísio, que também já tinha se encontrado com os dois chefes anteriores, João Paulo II e Bento XVI, contou que a visita a Francisco foi diferente devido à “sinodalidade”. A palavra deriva de sinodos, do grego, que significa “fazer o caminho juntos”. O bispo de Santa Cruz do Sul também teve a oportunidade de fazer uma pergunta ao pontífice, questionando ao papa de onde vinha sua força para ter uma comunicação simples, mas ao mesmo tempo muito firme.
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Francisco brincou que a questão poderia ter sido respondida na Secretaria da Causa dos Santos, mas acrescentou: “Olha, a minha grande força é eu poder servir a todos que eu encontro no dia a dia. Que coisa bonita, servir, respeitar, valorizar cada pessoa humana que eu encontro. E fazer isso com alegria.” Para dom Aloísio, isso significa que ele é um homem com muita confiança em Deus.
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Ao final da visita, o bispo ainda foi presenteado com um medalhão de Nossa Senhora da Sabedoria e um rosário, além de itens menores para poder dar a outras pessoas. “Mas em primeiro lugar, recebi aquela lembrança do encontro. Isso está no coração da gente, reanima a gente”, ressaltou.
Ouça a entrevista completa com dom Aloísio Dilli, em maio de 2022:
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Dom Itacir relembra atitudes do papa
Na manhã desta segunda-feira, 21, após o anúncio da morte do papa Francisco, o sucessor de dom Aloísio como bispo da Diocese de Santa Cruz do Sul, dom Itacir Brassiani, conversou com a Rádio Gazeta sobre o legado do líder religioso. O bispo relembrou que a atuação do pontífice foi marcada pela dimensão social, na defesa do trabalho, da moradia e da posse da terra para quem trabalha, além do cuidado da casa comum.
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Dom Itacir comentou que o ministério ficou marcado por quatro atitudes fundamentais. A primeira, segundo o bispo, foi pedir a humildade do povo de Deus para que o abençoe e reze por ele, colocando-se como um cristão. A segunda marca foi a escuta e o convite de caminhar junto, que desembocou no processo sinodal. A terceira foi o chamamento à alegria do evangelho, convidando os fiéis a serem testemunhas, peregrinos e alegres. Já a quarta foi sua proximidade com diversos segmentos da sociedade, especialmente em relação às pessoas vulneráveis.
Para o bispo de Santa Cruz do Sul, a notícia da morte de Francisco não surpreende, visto que já havia completado 88 anos e, “embora fosse vitalício no ministério petrino, não era imortal, como nenhum ser humano o é. Também não nos entristece, porque não deve deixar tristeza uma vida tão honrada, tão bela, tão corajosa, tão sinodalmente cristã. A notícia nos estimula a viver confiando-nos uns aos outros, sonhando e construindo, com Francisco – aquele de Assis e este que veio “do fim do mundo” – uma Igreja com as marcas do Crucificado e Ressuscitado”.
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Diocese emite nota pela morte de Francisco
A Diocese de Santa Cruz do Sul, relembrando a passagem bíblica de Mateus 25:21 (“servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor”), emitiu uma nota pelo falecimento do papa Francisco. Confira na íntegra:
Com o coração entristecido, mas cheio de esperança na ressurreição, a Diocese de Santa Cruz do Sul une-se à Igreja no mundo inteiro para comunicar o falecimento de Sua Santidade o Papa Francisco, ocorrido na manhã de hoje, às 7h35 (horário de Roma).
Pastor manso e firme, o Papa Francisco conduziu o rebanho do Senhor com a ternura de um pai, a coragem de um profeta e o coração de um verdadeiro discípulo de Jesus. Amou com especial predileção os pobres, os esquecidos, a criação de Deus e toda a humanidade ferida.
Neste momento de dor, mas também de fé, elevamos nossas orações ao Deus Uno e Trino, confiando que o Santo Padre, servidor fiel do Evangelho, seja acolhido nos braços do Pai com a alegria reservada aos justos.
Agradecemos por sua vida, por seu testemunho de simplicidade, alegria e amor misericordioso. Que o Senhor da Vida o recompense com a plenitude da luz eterna.
Colaboraram Marcio Souza e Ronaldo Falkenback
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