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Relatos de sucesso para fornecer uma injeção de ânimo

O parque da Expoagro Afubra, em Rio Pardo, recebeu ontem o 3º Seminário de Tendências e Oportunidades para a Horticultura. O evento foi promovido pelo programa Juntos para competir, uma parceria entre Farsul, Senar/RS e Sebrae/RS. O recado transmitido aos 300 participantes foi sintetizado na fala do agricultor Jorge Luis Mariani, presidente da Cooperativa de Produtores Ecologistas de Garibaldi (Coopeg). Ele detalhou como conseguiu revolucionar a propriedade de quatro hectares por meio de conhecimento e tecnologia. Ao invés de apenas trabalhar na lavoura abaixo de sol forte, foi estudar para encontrar alternativas na crise e melhorar a qualidade de vida da família.

O vitivinicultor fatura R$ 500 mil por safra, com a produção de 70 toneladas de uva. Tudo graças ao pensamento agroecológico. Outro diferencial foi a abertura para o turismo rural, que agregou renda e ampliou a divulgação. A comunidade, que enxergava as novas práticas com desconfiança, aos poucos, percebeu que as novidades estavam gerando resultados.

“Os vizinhos me chamavam de louco. Meus primos continuam a trabalhar da mesma forma que há 30 anos, estão atrasados. Nem preciso buscar informação hoje. Chegam até mim pelos visitantes que recebo. Agricultores de diversas regiões, estrangeiros, doutores”, comentou Mariani. Segundo ele, o turismo também se mostrou um bom negócio. “As pessoas querem ser bem recebidas em um ambiente rústico, ouvir histórias do lugar. Pagam R$ 10,00 para dar passeio de carroça. Também vamos às escolas ensinar como cultivar produtos orgânicos. As crianças influenciam a família e são futuros consumidores.”

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O consumo, aliás, foi destacado na palestra da doutora em agronegócios Márcia Dutra de Barcellos, do Centro de Estudos e Pesquisa em Administração (Cepa) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). A pesquisadora mostrou um panorama global no consumo de alimentos. Os idosos, por exemplo, representam 11% da população ativa e 70% deles são independentes financeiramente. A preocupação com o envelhecimento estimula a adoção de hábitos saudáveis. O Brasil tem 15 milhões de veganos e vegetarianos, em um crescimento de 40% ao ano. “As pessoas querem coisas novas. Produtos de alta qualidade e procedência. É um momento único de valorização do que é do campo”, disse. “As grandes marcas estão explorando isso. As oportunidades estão surgindo, principalmente com produtos premium e gourmet. Quem produz deve explorar as potencialidades.”

Aposta que deu certo em Santa Cruz

O proprietário da BEF Verduras, Blásio Etges, de Santa Cruz, contou que a família iniciou o plantio de tabaco na propriedade em 1950. A partir de 1977, passou a cultivar banana da terra. As hortaliças entraram na rotina apenas em 1980. O início foi com repolho e beterraba. Atualmente, Blásio conta com 25 clientes, entre restaurantes e supermercados. As entregas são diárias. A variedade foi ampliada: alface, rúcula, salsa, cebolinha, couve e espinafre também são produzidos. As hortaliças orgânicas são lavadas e embaladas, depois colocadas em uma câmara fria. Os lucros possibilitaram investimentos, como a irrigação. 

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O próximo passo são auditorias, que estão sendo realizadas para que a produção tenha rastreabilidade. Ou seja, os consumidores poderão conferir todo o processo por um código de barras. “Estamos vendendo na Coopersanta e na Ceasa Regional. Também plantamos milho, para fazer silagem e alimentar o gado. Toda a família está envolvida no processo”, disse.

Recuperação nos hortifrutigranjeiros

A economista Marina Marangon Moreira, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), aposta em recuperação dos hortifrutigranjeiros em 2018. A análise leva em consideração oito variedades de frutas e cinco de hortaliças.

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Ela aponta que, após 1,8% de queda na área plantada de frutíferas neste ano, em 2018 a tendência é de recuperação, com aumento de 1,4%. Para as hortaliças, a redução chegou a 5% em 2017. No ano que vem, a projeção é de cair 0,5%. O cenário é de recuperação do PIB, com um câmbio mantido em torno de R$ 3,00. “A crise foi positiva para o consumo de alimentos saudáveis. A cautela nos gastos faz com que as famílias façam mais comida em casa, comprem em feiras. Isso favorece a cadeia produtiva.” Mais projeções podem ser vistas no site hfbrasil.org.br.

Falta de dados atrapalha o planejamento

O agrônomo da Emater de Santa Cruz do Sul, Assilo Martins Corrêa Júnior, afirma que no município há 120 famílias que cultivam hortaliças, em uma áera de 350 hectares. Ele salienta, porém, que há poucos dados concretos para traçar um perfil do setor na região. Um dos motivos é a falta de emissão das notas fiscais por parte dos produtores. Outra peculiaridade é a desconfiança durante visitas de pesquisadores, como os do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por ser uma atividade dinâmica, as mudanças acontecem a curto prazo e as informações ficam desatualizadas em pouco tempo. Esse fator prejudica incentivos do poder público, por exemplo, pela escassez de parâmetros.

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Assilo ressaltou que, na região, a maior parte das vendas acontece nas feiras rurais, em supermercados de pequeno porte ou na Ceasa Regional. As vendas online ainda são tímidas, iniciadas recentemente pela Coopersanta. O agrônomo sublinha que a busca por orientação é fundamental. “É importante produzir em um ambiente controlado para ter produto na época de melhor preço, utilizar insumos adequados, superar desafios como pragas e mão de obra deficiente”, observou. 

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