A colheita da soja no Vale do Rio Pardo chega ao fim acompanhada de preocupação para os agricultores. Isso porque o rendimento ficou muito aquém das expectativas em função da estiagem prolongada que atingiu o Rio Grande do Sul pelo terceiro ano consecutivo e derrubou a produtividade das lavouras para uma média inferior a 40 sacas por hectare. Além disso, durante o ciclo da cultura, o preço da saca esteve em queda constante e hoje ela chega a ser vendida por menos de R$ 120,00 em alguns municípios.
Para o produtor Mauro Hoffmann, de Linha Áustria, no interior de Santa Cruz do Sul, a palavra que melhor define o momento vivido pelos produtores é decepção. “Começamos a plantar com o valor da saca em R$ 180,00. No início da colheita, começou a cair e não parou mais. E pelo que estamos acompanhando, segue caindo.” A produtividade média obtida nas propriedades foi de 32 sacas por hectare, muito abaixo do esperado. “Não vou dizer que vou ter prejuízo, mas lucro também não deu”, afirma.
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Ele observa os impactos da estiagem em dois momentos. “O primeiro foi no início do desenvolvimento, quando tivemos aquele calorão em dezembro que provocou muita queda de flores e abortamento de vagens”, explica. O segundo período foi em fevereiro e março, quando novamente o calor excessivo e o estresse hídrico impediram o enchimento de grãos das vagens superiores das plantas.
Já o agricultor Sílvio Rafael Grassel, de Linha Fernandes, no interior de Herveiras, começou a produzir soja em 2018 e recorda o sucesso da primeira safra. De lá para cá, contudo, as dificuldades se repetem. Em 2022 e neste ano ele obteve retorno semelhante no que diz respeito à produtividade, mas o custo de produção na safra atual teve elevação expressiva. “Nunca se teve um custo por lavoura tão alto. Na hora de vender, o mínimo que a gente esperava era R$ 50,00 a mais por saca, e isso não se confirmou.”
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Segundo Grassel, se a situação permanecesse para os próximos anos, seria inviável plantar soja, mas a queda no valor dos insumos traz esperança de dias melhores. “Para quem trabalha com arrendamento, somado ao preço do adubo, sementes, fungicidas, inseticidas e outros, é custo de produção de mais de 40 sacas por hectare, enquanto tem gente aqui tirando 25. A conta não fecha”, ressalta. Ele acredita que na próxima safra muitos agricultores terão de abandonar a cultura por não terem condições de realizar um novo plantio.
A Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) vê o momento atual da cultura com grande preocupação. Para o economista-chefe da instituição, Antônio da Luz, além da quebra em razão da estiagem e a decorrente redução da produção total no Estado, outros estados colheram safra cheia. Essa maior oferta do grão no mercado é o motivo da queda progressiva do preço da saca. “Sem dúvida pressiona, nós estamos com os prêmios todos negativos. Aqueles R$ 170,00 a R$ 180,00 por saca, tão cedo não veremos novamente, porque com esse ‘mar’ de soja teremos uma recomposição dos estoques”, explica.
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Luz acredita, no entanto, que entre julho e setembro o cenário esteja mais positivo em relação ao momento atual. “Nós estamos no olho do furacão. Me parece que vender hoje é vender em um momento pior, mas ninguém sabe com certeza quando é o pior momento”, pondera. Ao projetar o futuro, o economista diz que, sem uma renegociação das dívidas, muitos agricultores podem acabar sem recursos para plantar mais. “Não digo que haverá redução na área plantada, mas aquele ímpeto de crescimento que se tinha não existe mais.”
Ele acrescenta que é positivo não haver aumento de áreas, visto que a previsão é de oferta ainda maior da oleaginosa em 2024, considerando somente uma possível recuperação das perdas no Rio Grande do Sul, Argentina e Estados Unidos.
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