Na maioria das cidades brasileiras, é comum o abandono de certos espaços – públicos ou privados – após perderem a sua função. E ressignificá-los é uma das soluções propostas pela engenheira civil Giovana Ulian.
Doutora em Urbanismo e especialista em Gerenciamento Ambiental, a profissional desafia o setor imobiliário a dar um novo olhar para lugares desocupados por meio da regeneração urbana. O conceito tenciona o reaproveitamento de estruturas antigas que, por algum motivo, ficaram sem sentido nos dias atuais e podem ser transformadas em empreendimentos potenciais. “É sobre respeitar o legado histórico dos espaços e das dinâmicas urbanas e entender sua importância para a ressignificação e geração de lugares”, afirma.
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Para isso, Giovana instiga os profissionais a saírem dos escritórios e irem para a rua antes de elaborar o projeto de revitalização. A escuta vira um compasso, por meio de entrevista com moradores em torno do imóvel, familiares proprietários do terreno e até quem apenas transita pelo espaço.
“A gente foca demais no projeto e esquece dessas histórias, desses elementos e coisas que de fato se magnetizam, de fato geram atração às pessoas. Essa conversa pode revelar coisas nunca imaginadas para aquele lugar”, defende.
Além de contribuir para o desenvolvimento urbano, a regeneração pode facilmente gerar altíssimo valor imobiliário. Por meio do conceito, as singularidades do lugar se tornam um atrativo econômico à medida que geram mudanças sociais em torno do espaço aproveitado.
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Dados apresentados pela profissional mostram que 75% dos consumidores estão dispostos a frequentar e gastar mais com cidades que proporcionem experiências autênticas e singulares. “É um dado só para comprovar aquilo que estamos falando. Tenho certeza que todos nós, quando vamos viajar e consumir, buscamos singularidade. Então por que às vezes não conseguimos imputar isso nos nossos projetos?”
Essas foram as temáticas apresentadas pela engenheira durante sua recente participação na 4ª Semana de Arquitetura e Construção. O evento, realizado na Associação de Entidades Empresariais de Santa Cruz do Sul (Assemp), reuniu estudantes, arquitetos, engenheiros, líderes políticos e outras pessoas ligadas ao setor.
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Santa Cruz tem aspectos que podem ser explorados
A engenheira civil, quando questionada sobre o potencial de Santa Cruz do Sul no conceito de regeneração urbana, compara a cidade a um diamante a ser explorado. Ao trazer exemplos mundo afora – também projetos no qual trabalha atualmente –, Giovana revela um município com uma fonte quase inesgotável de singularidades.
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Ela cita três particularidades e mostra como elas podem ser ressignificadas. A herança cultural, responsável por preservar a história municipal e explorada como um atrativo turístico, proporciona felicidade aos visitantes, enquanto a atmosfera interiorana, com um ritmo de vida mais desacelerado, cria conexão entre as pessoas e passa uma sensação de acolhimento. Há ainda a gastronomia, que além de preservar as tradições históricas e culturais da região, fomenta uma sensação de afeto.
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“O que importa é o que as pessoas sentem. O que importa quando as pessoas vão embora é o que elas vivenciaram aqui. O sentimento, a emoção provocada pelo lugar nas pessoas, isso tem valor”, reforça.
Exemplos pelo mundo
Não faltam exemplos de casos bem-sucedidos de regeneração urbana pelo mundo. E Giovana apresenta três deles para mostrar como espaços desabitados podem ganhar um novo significado.
Em Nova York, uma linha férrea obsoleta se tornou um dos principais pontos turísticos da cidade. Trata-se do parque High Line, revitalizado por um movimento da população. Em um trecho com mais de 2 quilômetros, a 10 metros do solo, turistas e moradores têm acesso a um enorme jardim suspenso com diversas atrações artísticas e culturais. A atração trouxe mudanças não só para os moradores, mas também para os empreendimentos, alavancados graças à movimentação diária.
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Não foi diferente em Miami. Lá, um distrito inabitado foi repaginado e virou um complexo cultural. Hoje, a Wynwood Walls é considerada a maior galeria de arte a céu aberto, com grafites de artistas de todo o mundo desenhados nas paredes de seus grandes galpões. Anualmente, quase 3 milhões de pessoas visitam o espaço, beneficiando os mais de 400 estabelecimentos em volta dele. Por isso, o complexo virou uma das áreas mais valorizadas da cidade.
Já em Lisboa, um antigo centro de prostituição e, posteriormente, de venda de drogas também entrou na mira da regeneração urbana. Agora a Pink Street, localizada no Cais Sodré, tornou-se um dos principais cartões-postais da capital portuguesa, atraindo milhares de turistas e movimentando o comércio local.
Giovana ressalta que os três espaços continuaram respeitando as características da sua história, mas ressignificados para o período atual.
“Aqui a gente começa a trazer o conceito de regeneração urbana. A partir do momento em que essa estrutura não faz mais sentido, veremos esse espaço com um olhar de ressignificação”, reforça.
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