Dos mais de 13 mil quilômetros quadrados de território da região de abrangência do Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale do Rio Pardo (Corede/VRP), a maior parte é formada por zonas rurais. A área engloba 23 municípios e apresenta extensa cobertura vegetal, rica em variedades de espécies de plantas e com formações naturais que resultam em lindas paisagens.
Ocupando parte das bacias hidrográficas do Baixo Jacuí e do Rio Pardo, a região possui áreas com belezas muitas vezes desconhecidas pelos moradores das zonas urbanas. Em um mundo onde popularizou-se o uso de aparelhos de GPS em qualquer telefone celular, os mais belos refúgios, em boa parte dos casos, não estão nem ao menos registrados nos mapas disponíveis nos aplicativos dos smartphones, como o popular Google Maps, e é preciso ter informações sobre como chegar a esses espaços sem se perder na extensa malha de estradas do nosso interior.
Rios, balneários, cachoeiras e percursos pelos caminhos rurais formam um itinerário muito interessante para quem prefere, principalmente em tempos de pandemia, ocupar espaços menos frequentados pela população em geral, afastados das tradicionais aglomerações do litoral gaúcho, por exemplo. Para inspirar quem gosta de procurar belos cenários em suas horas de lazer e quer ficar longe da disseminação do vírus, a Gazeta do Sul foi atrás de alguns exemplos de pessoas que prestigiam os pontos turísticos que ficam bem perto de nossa realidade.
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Passeio “em casa”
O morador do município de Herveiras, Marcos Aurélio Luedtke, aproveitou o momento da pandemia em 2020 para prestigiar as belezas do interior em um passeio em família, evitando a aglomeração dos destinos mais badalados. Acompanhado da esposa Jôse e dos filhos Philipe e Benjamin, o servidor municipal de 43 anos presenciou belíssimas paisagens junto à natureza sem deixar a região onde mora.
“Resolvemos fazer alguns passeios aqui perto, em lugares em meio à natureza. Nosso município tem algumas das mais belas paisagens do Vale do Rio Pardo, em virtude da topografia serrana, e muitas pessoas daqui desconhecem. Em diversas localidades encontram-se belezas naturais encantadoras. Alguns desses locais começam a ser procurados agora no verão. Em um dos finais de semana eu e minha família resolvemos ‘descer’ a Linha Biriva, mais ou menos a 20 quilômetros do Centro, e explorar um local que não conhecíamos. Na divisa de Herveiras com Passa Sete, sobre o Rio Pardo, fomos conhecer uma pinguela de 150 metros de extensão – que atende os moradores das localidades vizinhas – e também as muitas belezas naturais às margens do Rio Pardo, ideal para um acampamento neste verão. Foi uma experiência revigorante em um local próximo, para onde queremos voltar neste verão para um bom banho de rio.”
Além do passeio em Linha Biriva, Luedtke recentemente realizou itinerários pela Linha Barbudo Renner, distante três quilômetros do Centro de Herveiras, no local conhecido como Cascata do Recanto. “Outro local lindo em meio à natureza preservada. Com atrações como a cascata Plums, em Linha Plums, e o Poço do Moinho, em Linha Marcondes, locais já mais conhecidos e frequentados. Mas usando um pouco do espírito aventureiro, ainda existem muitos outros belos pontos para visitar e explorar”, observa.
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Conscientização para preservar
Para o historiador João Paulo Reis Costa, morador de Sinimbu, a preservação deve ser sempre observada quando o objetivo é visitar os locais menos conhecidos do interior. Os cenários em meio à natureza, muitas vezes intocados, não recebem estrutura para a visitação de pessoas, sendo inexistente a presença de lixeiras na maioria deles. Uma de suas paisagens preferidas é a costa do Rio Pardo, na divisa de Gramado Xavier com Lagoão.
O professor relata que não é incomum perceber práticas inadequadas por parte dos visitantes. “Toda vez que vamos lá juntamos muitas latas e plástico. Infelizmente, as pessoas acabam acampando próximo ao rio, fazendo fogo perto das árvores, cortando parte da vegetação”, explica.
Por ser caminho para o município de Lagoão, o ponto que João Paulo costuma visitar pode ser considerado um local muito frequentado. “São áreas de Serra, um rio muito interessante que é o Rio Pardo, um rio de pedras. A gente fica até temeroso de indicar ou evidenciar esses lugares, pois daqui a pouco começa a ter uma massificação de ida e aí a preservação de quem vai e cuida acaba sendo perdida. Isso mostra como a gente precisa rever esse conceito de uma natureza serviçal, como um mero recurso natural e não parte da nossa vida e a gente parte dela.”
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O professor ressalta que é primordial aproveitar as belezas do interior de uma maneira sustentável. “Preservar esses espaços deveria ser uma política pública. Deveríamos ter um trabalho muito forte de conscientização na região em especial, porque o Rio Pardo dá nome à região, é a principal bacia hidrográfica e dependemos dele para viver.”
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De olho nas construções
Para o santa-cruzense Ronaldo Wink, os percursos pela zona rural não são novidade. Prestigiar as belas paisagens do interior do Vale do Rio Pardo com a família e amigos sempre foi um interesse que pode ser aproveitado com passeios de carro pelas estradas de chão batido que cortam a região. Apaixonado por sua profissão, o arquiteto gosta de analisar as estruturas das construções que podem ser encontradas pelos trajetos do nosso interior.
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Com as restrições de opções de lazer, os caminhos das zonas rurais se tornaram ainda mais comuns. “Antes da pandemia eu já conhecia muito a região, o interior do município, sempre considerava que ela tinha um grande potencial de paisagem e natureza, principalmente o Rio Pardinho. Com essas restrições, o nosso interior se tornou uma opção para dar uma volta nessas viagens que a gente costuma fazer”, afirma.
Entre as belezas arquitetônicas da região, Wink destaca as igrejas do interior, as residências antigas e até os cemitérios, que reúnem obras de arte em muitos túmulos antigos. “Há muitos lugares que a gente, mesmo passeando muito, acaba não conhecendo tudo. Na nossa região, eu pretendo seguir a Gramado Xavier, para onde já fui uma vez pela rodovia, entre Vale do Sol e Herveiras”, afirma.
Como sugestão, ele destaca o roteiro Rio Pardinho–Sinimbu: “Neste ano de pandemia eu vi muitas famílias circulando pelo trecho. É uma ótima opção para reunir em volta de uma cesta de piquenique.”
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Roteiros de bicicleta
Rodar pelas estradas se equilibrando sobre duas rodas, aproveitando uma visão privilegiada dos cenários naturais, é a recompensa de quem tem o preparo e a disposição necessária para pedalar. Os que já têm o costume, garantem: com a prática surge a perfeição, e mesmo para iniciantes, é possível ter boas experiências pilotando uma bicicleta pelas paisagens da região.
O gerente regional da Emater em Soledade, Carlos Corrêa da Rosa, é um apaixonado pelas bikes. Integrante da Associação Gaúcha de Cicloturismo (Agacitur), ele participa de passeios regulares por percursos dentro e fora do Vale do Rio Pardo. “Há grupos de bikers e ciclistas da região quase diariamente em Santa Cruz. São percursos de 50, 100 ou 200 quilômetros. Às vezes pode parecer muito, mas dá para fazer em algumas horas”, explica. Corrêa da Rosa comenta que em função da pandemia, muitas pessoas optaram por ter momentos de lazer praticando exercícios físicos ao ar livre, o que impulsionou na população o interesse pelas bicicletas e por corridas e caminhadas.
Após ficar um período parado em virtude de estudos e trabalho, Carlos Corrêa da Rosa resolveu recomeçar com as pedaladas na metade do ano passado, com a intensificação das restrições em virtude da pandemia de Covid-19. Para o 2º secretário da Agacitur, o pedal se transformou em uma possibilidade de turismo. “É uma viagem que tu pode fazer inclusive em família. Tendo preparo físico, pode viajar com a esposa e filhos, e quem sabe conhecer o município ao lado. O ciclismo e o cicloturismo foram fortalecidos com a pandemia.”
Corrêa da Rosa destaca que os passeios de bicicleta são uma possibilidade de a pessoa sair, fazer exercício físico, ter uma atividade mental e contato com a natureza e comer produtos de qualidade. “Normalmente tu para em empreendimentos da agricultura familiar e tem uma alimentação sadia. A prática do cicloturismo caiu como uma luva, uma coisa boa dentro da pandemia”, diz.
Dicas para pedalar
Para quem ainda não tem a experiência para desbravar terras mais distantes, Corrêa da Rosa sugere alguns caminhos a serem percorridos no Vale do Rio Pardo, que são rotas dos grupos de ciclismo. “O pessoal que gosta de pedalar fazendo um pouco mais de força já sai para o lado de Boa Vista, vai em direção a Pinheiral, ou sobe Boa Vista e Linha João Alves. O pessoal que não gosta de fazer tanta força tem opção de pedalar em direção ao Distrito Industrial, a Vera Cruz, a Linha General Osório, a Sinimbu. Vai depender do perfil do ciclista. Há os grupos que mesclam durante a semana, fazem um pedal mais ‘light’, de 30, 40, 50 ou 60 quilômetros. Grupos formalizados existem em todos os dias da semana, tu pode escolher em qual quer pedalar. Vai de domingo a domingo. Alguns saem às 5 da manhã, vão a Passo do Sobrado, tomam café, e as 8 ou 9 horas estão de volta. Outros saem às 2 da tarde, outros às 7 da noite e voltam às 10, 11 horas, meia-noite. Então são várias opções dentro do seu perfil.”
Ainda como dica para quem escolher as pedaladas como opção de lazer, além de adquirir uma boa bicicleta, é importante garantir a segurança do passeio com uso de capacete, luvas e demais instrumentos de proteção, e garantir a hidratação levando sempre a garrafa de água.
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