A reforma trabalhista proposta pelo governo federal, que inclui pontos como terceirização, parcelamento de férias, alterações na jornada de trabalho e diminuição do horário de almoço, pode parecer assustadora. No entanto, para o economista e apresentador de TV Ricardo Amorim, junto com a reforma tributária, essas mudanças fazem parte da solução para aumentar a produtividade no Brasil e equiparar esse parâmetro com o aquecimento no consumo.
Considerado pela revista norte-americana Forbes, em 2015, como uma das cem pessoas mais influentes do Brasil, Amorim afirmou, em entrevista à Gazeta do Sul, que a economia brasileira está melhorando, até mesmo antes do previsto. O economista, que participa do programa Manhattan Connection, da GloboNews, defendeu as privatizações como medida importante para combater a corrupção e melhorar os serviços. Também acredita que o atual momento do País é ideal para quem pensa em investir.
ENTREVISTA
Publicidade
Ricardo Amorim
Apresentador de televisão e economista
Gazeta do Sul – Qual deve ser o indutor da economia para garantir um crescimento sustentável no longo prazo?
Ricardo Amorim – Na década passada, estimulamos muito o consumo e nada a produção. O resultado foi que o consumo cresceu mais que a produção no Brasil por 13 anos. Isso não se sustenta. Nenhum país pode eternamente consumir mais do que produz, se não acaba dando na grande crise que a gente viu. Isso não se resolve deixando de estimular o consumo, mas estimulando também a produção. Estimula-se a produção deixando-a mais competitiva e isso é feito com uma série de reformas. Quando fazemos uma reforma trabalhista que aumenta a flexibilidade do mercado de trabalho e, além disso, diminui os custos trabalhistas, estimulamos a produção. O mesmo quando fazemos uma reforma tributária que diminui a carga tributária e, principalmente, torna a nossa legislação tributária um pouco mais lógica.
Gazeta – Fevereiro foi o primeiro de 22 meses em que as contratações superaram as demissões no País. A tendência é de estabilização do emprego a partir de agora?
Amorim – Eu já havia ficado surpreso quando em janeiro a indústria, em vários estados, principalmente São Paulo e Santa Catarina, criou mais empregos do que destruiu. Mais surpreso ainda eu fiquei em fevereiro, quando isso foi generalizado não apenas na indústria, mas no Brasil inteiro. A minha expectativa era que isso somente acontecesse a partir do segundo semestre; portanto, não vai ser surpresa se nos próximos meses a gente não tiver um desempenho tão bom. Mas se for sustentado, é um ótimo sinal, um sinal de que a confiança no País está maior do que eu imaginava. Há alguns indícios disso. O total de investimentos estrangeiros em janeiro foi o mais alto em toda a história do Brasil. Nunca em um único mês as empresas investiram tanto e isso provavelmente explica esse desempenho melhor do emprego. Mesmo que ele não se sustente nos próximos meses, esse movimento não só vai continuar, mas ser reforçado a partir do segundo semestre e ao longo do ano que vem.
Publicidade
Gazeta – O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, garante que a recessão no Brasil já acabou. Podemos acreditar?
Amorim – O timing do ministro Henrique Meirelles foi um tanto quanto infeliz quando ele fez essa declaração. Foi só ele falar que a recessão acabou e, logo na sequência, sai o PIB do fim do ano passado com uma redução de quase 4%. O ministro disse, e com razão, que aqueles dados mostravam o retrovisor e não o para-brisa. Ele tem razão, quando vemos os dados mais recentes deste ano, todos muito melhores. Os dados de atividade, de inflação, de investimento, todos eles sugerem que sim, a economia está em uma rota de recuperação que talvez já tenha começado. Só vamos ter certeza daqui um tempo, com mais dados, mas quando olhamos a queda na inflação, isso vem permitindo – e vai continuar permitindo – mais queda de juros. Com menos juros, teremos mais crédito e, por consequência, as pessoas vão poder consumir mais e as empresas vão poder investir mais. Enfim, o quadro todo parece sugerir que de fato a recessão ficou para trás.
Gazeta – Qual a importância das privatizações em alguns setores, como os aeroportos, e até onde essa política deve avançar?
Amorim – As privatizações são extremamente importantes no Brasil por várias razões. A primeira delas é que, na mão do governo, essas empresas têm sido muitas vezes usadas como fonte de corrupção. Segundo, as privatizações normalmente têm gerado melhora de qualidade nos serviços. Terceiro, elas geram uma receita que os governos precisam muito, todos eles têm problema de contas desequilibradas; em alguns casos, estão quebrados. A única forma de resolver isso é, por um lado, cortar gastos e, por outro, aumentar as receitas. Uma das melhores formas é por meio de privatização. Então, eu vejo com ótimos olhos esse movimento que está acontecendo em várias partes do Brasil, de aceleração das privatizações. Aliás, eu gostaria que o governo federal fizesse isso de uma forma inclusive mais agressiva. Principalmente quando, neste momento, o governo está falando mais uma vez em aumentar os impostos, o que seria um absurdo. Um caminho para evitar que isso aconteça é exatamente acelerar as privatizações.
Gazeta – A instabilidade política no País ainda é grande. Qual seria o tamanho do prejuízo para a economia de uma nova troca na Presidência da República, um ano após o impeachment?
Amorim – Se acontecesse, os impactos de um novo impeachment no Brasil seriam brutais. Em primeiro lugar porque desta vez não temos um vice-presidente e, para completar, o pessoal que está na cadeira de sucessão não é exatamente gente que tem maior credibilidade com a opinião pública. Além disso, restaria muito pouco mandato, o que deixaria um presidente sem poder nenhum de tomada de medidas. Em resumo, seria catastrófico. Diga-se de passagem, essa é uma das razões pelas quais eu acredito que são relativamente limitadas as chances disso acontecer, porque os juízes do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) já deixaram claro que vão levar vários critérios em consideração para as suas decisões. Um deles é exatamente a estabilidade institucional do Brasil, que claramente iria por água abaixo caso houvesse um novo impeachment.
Publicidade
Gazeta – O que o senhor recomendaria para o empresário que está “segurando” um investimento ou para alguém que está aguardando para iniciar um negócio: tocar em frente ou esperar mais um pouco?
Amorim – Todo mundo gosta de se sentir mais seguro antes de tomar uma decisão de investimento importante. O problema é que quanto mais seguro nos sentimos, normalmente pior é a decisão. Isso porque a gente se sente seguro depois que as tendências estão muito consolidadas e eventualmente as oportunidades já passaram. Sempre para qualquer investimento, as melhores oportunidades surgem para quem faz primeiro; quem chega depois, já usando o jargão, pega água suja. Quando se faz investimentos financeiros no momento em que a economia já teve um período mais longo de bom desempenho, os preços estão muito mais altos e, pior, o risco de que a gente esteja no fim do ciclo positivo é maior. Agora é ao contrário, estamos na virada de um ciclo muito ruim para um ciclo melhor. Esse é o melhor momento de investimento.