Um dos importantes patrimônios do município de Rio Pardo teve sua reforma concluída e trouxe à tona parte da história que remonta ao início do século 20. Apesar de existir desde 1886, foi somente em 1909 que o Clube Literário e Recreativo ganhou sua sede própria. O local é muito conhecido por seus eventos – o Carnaval é o mais famoso –, e ninguém vivo havia visto a cor original do prédio. Mas após um trabalho minucioso, agora, todos poderão ver o Clube Literário pintado de cinza, que é a cor original, a mesma daquele ano de inauguração.
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A responsável pela recuperação da cor original foi a arquiteta e especialista em patrimônio histórico Vera Schultze. Ela relata que foi contatada pelo diretor do Clube Literário, Eduardo Ferreira Pellegrini. “Ele perguntou se eu tinha alguma ideia de como teria sido a primeira pintura. Falei que não, mas que para descobrir poderíamos fazer uma decapagem. É um trabalho em que vamos descascando, abrindo janelinhas nas camadas de tinta e cada uma vai sendo numerada.”
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O instrumento utilizado para isso é um bisturi, fino e delicado o suficiente para retirar camada por camada. “Assim, fomos retrocedendo nas diferentes camadas de pintura até chegar em um cinza. Como a gente sabe que é a primeira? Porque abaixo dela havia só o reboco”, explica a profissional.
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Com a recuperação da cor original, o que aconteceu foi uma visita ao passado. “Eu achei sete camadas de cor, passei por vários momentos da cidade. Encontrei até a cor do ano em que debutei, porque quando se faz uma repintura, se prepara, limpa, lixa, mas não se tira totalmente o pigmento anterior.”
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O significado disso, bem mais que somente uma coloração, fica evidente na fala de Vera, que salienta que nenhum rio-pardense vivo conhece o Literário nessa cor. “É uma questão emblemática você voltar e conhecer as origens do monumento. Sendo de uma época bem anterior, por que não conhecê-lo na sua íntegra? E a cor é importante para isso.” Segundo ela, o processo de decapagem gerou um sentimento afetuoso dos rio-pardenses, que falaram sobre cores que lembravam de ter visto nas paredes externas do Clube. “Mexeu com as pessoas”, acrescenta.
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Eduardo Pellegrini salienta que agora a ideia é manter a coloração original. “Claro que diretorias vão e vêm, mas a ideia era o resgate dessa cor e manter na sua originalidade, porque ficou lindo”, diz. Vera Schulze fez o serviço de recuperação de modo voluntário, como uma forma de presentear o espaço que abriga tantas memórias. “Eu dei como presente para o clube que foi o da minha vida toda, onde eu debutei, onde vivi tantas coisas e do qual minha mãe foi rainha em 1941. Eu pensei em deixar minha marca no clube também”, afirma.
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Em 2017, quando tomou posse a atual diretoria do Clube Literário e Recreativo de Rio Pardo, o local passava por dificuldades financeiras. Naquele momento, a prioridade foi reconquistar o alvará do Corpo de Bombeiros, que estava vencido. “Foi um investimento grande em equipamentos de emergência, placas, extintores”, lembra o diretor Eduardo Ferreira Pellegrini.
Depois, o foco foi a recuperação financeira do clube, com a realização de eventos como o Carnaval. “A gente reorganizou o Baile do Chope e, parcelando dívidas e ajustando fluxo do caixa, conseguimos juntar esse dinheiro para começar a reforma.” A revitalização começou pelo telhado, que estava muito deteriorado. O forro do salão foi trocado, assim como a iluminação e a pintura interna. O piso original também foi recuperado. Até então, já foram investidos mais de R$ 100 mil.
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Até sexta-feira, o espaço recebe o 28º Seminário Estadual de Língua Portuguesa e Literatura Rio-Grandense e o 24º Fórum de Educação de Rio Pardo. O prédio datado de 1909 é patrimônio histórico arrolado pelo Município. É mantido por meio de locações para eventos; por recursos obtidos em festas organizadas pelo próprio Clube Literário e Recreativo de Rio Pardo e pelas contribuições dos sócios. Durante a pandemia de Covid-19, como o clube ficou sem realizar eventos, o local foi cedido para a Prefeitura de forma gratuita para que servisse de ambulatório.
Segundo arquivos do Clube Literário e Recreativo de Rio Pardo, a entidade surgiu a partir de um anseio de moradores, que gostavam de se reunir para incentivar o convívio social e trocar ideias nos âmbitos intelectual, cultural e político. No ano de 1886, destacavam-se na vida da comunidade rio-pardense pessoas como o tenente-coronel Antônio de Sena Madureira, comandante da Escola de Tiro, e Heráclito Americano de Oliveira, que escrevia para o jornal O Lutador. Os dois lideraram um grupo que idealizava a formação de uma sociedade capaz de congregar os anseios das pessoas que buscavam diversão saudável e desenvolvimento intelectual.
Em 10 de outubro de 1886, eles se reuniram na casa de Apolinário Domingos Ferreira para instituir um grêmio social e lavraram a ata de criação com 67 sócio-fundadores. Em junho de 1887, o clube se instalou em um edifício localizado na Rua Andrade Neves, na esquina do Beco Mateus Simões. Aos poucos, o clube se tornou um centro social, onde eram discutidos os problemas locais e a cultura brasileira. A partir de 1903, os associados passaram a sentir necessidade de uma sede própria. Para isso, foi aprovada a proposta de cobrir parte das despesas da construção com ações públicas, tomadas pelos sócios. Assim, no dia 28 de maio de 1909, em sessão extraordinária, a diretoria recebeu as chaves do prédio localizado na Rua Andrade Neves, 317, que é a sede do clube até os dias de hoje.
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De acordo com Vera Schultze, o Clube Literário e Recreativo foi construído em eclético neoclássico. “É um estilo eclético bem da época do fim do século 19 e início do século 20. Prédios públicos, principalmente, tinham esse carimbo neoclássico. Além de um modismo, imprimia um certo caráter formal”, observa.
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