Acredito na força do exemplo. E aqui quero discorrer sobre um exemplo positivo, desses que fazem a gente se encher de esperança e perceber que há, por toda parte, aqueles que ainda fazem questão de demonstrar gentileza e empatia. E eu tive o privilégio de encontrar recentemente uma dessas pessoas e de me sentir tocada pela sua humanidade. Pra mim, todo gesto revestido de boa vontade é valoroso, por isso faço questão de compartilhar. Guardo comigo, emotiva e observadora que sou, que tudo aquilo que carregamos em nosso íntimo é o que podemos oferecer aos outros.
Talvez seja por isso que tenha ressoado de forma tão significativa pra mim ouvir uma moça que estava no caixa do supermercado me dizer “estamos aqui para nos ajudar”. Ela não só expressou afeto como também me fez lembrar que temos, todos, um propósito nesse mundo. Penso que o primeiro deles é justamente nos enxergarmos como semelhantes e estendermos as mãos uns aos outros.
Tudo isso se desenrolou em mais um dia qualquer, de promoção de frutas e verduras. Como de costume, aproveitei para conferir as ofertas durante o meu intervalo do almoço. Muitas pessoas, aliás, fizeram o mesmo que eu e o resultado foi de correria e movimentação pelos corredores.
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Depois de passar minhas compras no caixa, pedi licença à moça para buscar mais um produto que havia esquecido por conta da pressa e da falta da lista prévia daquilo que eu precisava. Ela me respondeu gentilmente com um “é claro!”. Quando chego de volta, ela já estava colocando as minhas compras nas sacolas. Surpresa com a atitude dela, já que essa não é uma prática comum de se ver nos atacados, onde o cliente é quem guarda as mercadorias, eu me apressei em ajudá-la enquanto ia agradecendo seu gesto despretensioso. Sublinho a palavra “despretensioso” porque naquele momento, naquele caixa, não havia nenhum outro cliente esperando para ser atendido. Era somente eu e, portanto, não havia fila que pudesse justificar a atitude daquela moça.
Imagino que a reação dela, ao ouvir meu agradecimento, também tenha sido de surpresa porque imediatamente ela começou a explicar que já havia trabalhado em mercado de pequeno porte e estava acostumada a fazer de tudo um pouco, motivo pelo qual não se importava em ajudar os clientes. Disse também, quase em tom de desabafo, que alguns dos seus colegas de setor não gostavam de fazer o mesmo e que, inclusive, manifestavam isso verbalmente a ela. Ao passo em que a nossa conversa se desenvolvia, providenciei o pagamento, agradeci outra vez e, antes que eu saísse com o carrinho de compras, ela sentenciou “nós estamos aqui para nos ajudar, né?”. Eu olhei para ela e, sorrindo, devolvi um “com certeza”.
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Sem me dar conta do tanto de tempo que eu havia passado naquele mercado, saí com as compras rumo ao estacionamento com aquela frase martelando, repetidamente. Enquanto guardava as coisas no carro, fiquei pensando no quanto nós podemos ser melhores todos os dias. É de pouquinho em pouquinho, somando atitudes de generosidade e respeito, que podemos acolher uns aos outros e perceber que, independentemente do ambiente e das condições que se tenha, sempre será possível fazer a diferença na vida de alguém, desde que haja vontade e direcionamento para agir assim. A moça do caixa daquele atacado, embora eu sequer saiba o seu nome, tornou o meu dia melhor e, certamente, tornará o de muitas outras pessoas que passarem por ela e repararem naquilo que ela está fazendo.
São recortes como esse que nos humanizam. Se permita, também, a reparar naquilo que acontece ao seu redor e a fazer de todos os encontros, com quem quer que seja, uma oportunidade diária de troca e de aprendizado. E se algo não sair conforme o planejado, lembre de exercitar a paciência, pois sem ela embaçamos nossa visão e corremos o risco de nos fecharmos em nós mesmos.
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Nota: O primeiro “Recortes de humanidade” foi publicado em julho de 2023.
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