Apontada como a mentora intelectual do assassinato do médico santa-cruzense Gabriel Paschoal Rossi, de 29 anos, Bruna Nathália de Paiva, também de 29, atualmente presa, ficou em silêncio durante seu depoimento à Polícia Civil no fim da tarde de quinta-feira, na cidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul, onde aconteceu o homicídio em 27 de julho.
Em entrevista exclusiva à Gazeta do Sul nessa sexta-feira, o delegado Erasmo Cubas, que chefia as investigações, comentou que busca identificar detalhes sobre a relação entre Bruna e Gabriel, para colher mais informações e concluir o inquérito do caso. Sobretudo, quer traçar por completo o perfil misterioso da mulher, que nunca havia sido pega pela polícia mas, pelo apurado nas investigações, chefiava um grupo criminoso especializado em aplicar golpes por meio de cartões de crédito clonados e saques de aposentadorias de pessoas já falecidas.
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“A Bruna tem traços de psicopatia. É uma pessoa quieta, mas tem a mente bem aguçada para mentir e bolar planos”, afirmou o delegado. Conforme o chefe da Seção de Investigações Gerais (SIG) do 1º Distrito Policial de Dourados, o santa-cruzense atuava para a mulher na organização especializada em crimes de estelionato, mas teria ameaçado denunciar o esquema.
O objetivo era forçar Bruna Nathália a lhe pagar uma dívida de R$ 500 mil, o que teria sido o estopim para ela encomendar o assassinato. “A gente sabe que tinha essa dívida por causa de uma carta escrita à mão que ele mandou para ela”, salientou Cubas. A Polícia Civil ainda não sabe há quanto tempo Bruna e Gabriel Paschoal Rossi se conheciam, nem em qual empreitada criminosa teve origem a dívida de R$ 500 mil.
“Sabemos que o Gabriel atuava para o grupo fazendo saques e também utilizando cartões de crédito clonados. Só que ele repassava o valor quando fazia saques de cartões de benefício ao grupo de estelionato, para que daí sim fosse distribuída a renda aos participantes do esquema”, detalhou o delegado.
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Para o crime, Bruna traçou um plano de alugar duas casas na cidade de Dourados, onde o médico morava, e prometeu R$ 50 mil a cada um dos três homens cooptados para a ação, totalizando R$ 150 mil. No entanto, Gustavo Kenedi Teixeira, de 27 anos; Keven Rangel Barbosa, de 22; e Guilherme Augusto Santana, de 34, foram enganados pela mandante.
Os três não ganharam a maior parte do dinheiro e também terminaram presos. “Os executores não receberam todo o valor acordado. Um recebeu cerca de R$ 10 mil e os outros dois, em torno de R$ 5 mil cada um”, revelou Erasmo Cubas. Em seus depoimentos, os três confessaram o crime e apontaram Bruna como a mandante. Eles estão recolhidos na Penitenciária Estadual de Dourados.
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Segundo a Polícia Civil, os quatro criminosos foram de ônibus de Pará de Minas, em Minas Gerais, até Dourados. Eles chegaram à cidade no dia 26 de julho. Após dormirem em uma das residências alugadas, na Rua Monte Alegre, no Bairro Vila Progresso, por volta de 5 horas do dia 27, os três homens foram com um motorista de aplicativo até a moradia na Rua Clemente Rojas, no Bairro Vila Hilda. Nessa casa aguardaram Gabriel chegar – Bruna não foi à cena do crime e ficou no outro imóvel, coordenando as ações.
Segundo o delegado, o santa-cruzense foi atraído sem suspeitar até a casa. Supostamente, Bruna teria pedido para Gabriel apresentar um conhecido dele, que teria noções sobre a venda de cargas de entorpecentes em Ponta Porã, cidade que fica na divisa com Pedro Juan Caballero, no Paraguai. No local, ele foi dominado e teve a boca fechada com uma meia, para que não gritasse.
Após o assassinato, no mesmo dia, o grupo foi até a capital Campo Grande. No local, Bruna comprou passagens de avião e os quatro voltaram para Minas Gerais. Com o objetivo de não levantar suspeitas, a mulher alugou a casa onde dormiram por apenas um dia, mas o imóvel onde ocorreu o homicídio pelo período de 15 dias, para que o corpo fosse encontrado muito tempo depois do crime. Tendo o celular de Gabriel, ela criou uma cortina de fumaça, com a divulgação de várias informações falsas para os amigos do santa-cruzense. A tentativa era dificultar o trabalho da polícia. De acordo com a perícia, Gabriel ficou 48 horas ou mais agonizando antes de morrer.
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Formado em Medicina há cinco meses na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), o médico santa-cruzense trabalhava em três casas de saúde na cidade. Após o desaparecimento em 27 de julho, os amigos passaram a procurá-lo. No dia 2 de agosto, foi registrada a ocorrência de desaparecimento e a polícia passou a realizar buscas.
O corpo de Gabriel foi descoberto na manhã de 3 de agosto, após uma vizinha sentir um forte odor vindo da casa onde ele foi assassinado. Na ocasião, o cadáver estava em decomposição, sobre uma cama, e apresentava sinais de tortura, com mãos e pés amarrados com fios de televisão e carregadores de celular.
A morte teria sido provocada por estrangulamento. No interior da casa, foram encontradas manchas de sangue na parede e dentro de sacolas plásticas. O rápido trabalho de investigação da Polícia Civil chamou a atenção. Os pedidos de prisão foram solicitados no dia seguinte à descoberta do corpo, na sexta-feira, 4 de agosto, às 21 horas.
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No sábado, 5, às 15 horas, os deferimentos já haviam sido concedidos pelo Poder Judiciário, com manifestação favorável do Ministério Público. Isso fez com que a equipe policial se preparasse ainda no fim de semana para ir até Pará de Minas, com 16 agentes, a fim de prender os criminosos na última segunda-feira. Com exceção de um homem, que tinha antecedente por lesão corporal, os outros presos não apresentavam registros em suas fichas.
O quarteto vai responder por homicídio duplamente qualificado, com as qualificadoras – que podem ampliar a pena – de meio cruel (tortura) e recurso que impossibilitou a defesa da vítima (em virtude de Gabriel ter sido pego de surpresa). “Estamos aguardando alguns laudos periciais e tentando descobrir mais da relação do Gabriel e da Bruna para identificarmos detalhes sobre o que originou toda essa situação e concluirmos o inquérito”, finalizou o delegado Erasmo Cubas.
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