Após três homens atearem fogo em Cheikh Oumar Foutyou Diba, 25, no sábado, 12, em Santa Maria (RS), o imigrante senegalês disse à reportagem que quer voltar para seu país. Diba saiu de Santa Maria na terça, 15, e está morando temporariamente na casa do presidente da Associação de Senegaleses de Caxias do Sul, Abdou Lahat Mdiaye, 27, conhecido como Billie. Os dois não se conheciam.
“Estou sentindo muita tristeza e não gosto de lembrar [do crime]. Estou tomando remédio para os machucados e, por enquanto, estou bem. Não consigo falar muita coisa”, disse Diba, por telefone. Ainda abalado com o ataque, o rapaz não quis receber a reportagem na casa em que está vivendo. Segundo ele, sua maior preocupação é com a família que ficou no Senegal, porque notícias sobre o ataque estão sendo veiculadas em jornais, rádios e televisões do país africano.
De acordo com Billie, a foto de uma pessoa queimada está circulando nos veículos de comunicação como se fosse de Diba. “Conversei com a minha mãe para dizer que estou bem, para ela não se preocupar. Mas ela está doente, tem problema de saúde”, contou a vítima do ataque.
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‘NÃO É NORMAL’
Billie viajou de ônibus de Caxias do Sul, na serra gaúcha, até Santa Maria (a cerca de 320 km de distância) para buscar Diba. De lá, eles retornaram em um carro da Secretaria de Saúde de Santa Maria, com um funcionário e uma enfermeira para acompanhar Diba.
Eles chegaram a Caxias na madrugada desta quarta, 16. “Ele me contou que quem fez isso com ele não vale nada e que não deve ser uma pessoa normal”, disse Billie. Diba relatou ao novo amigo que não acredita que tenha sido vítima de preconceito. Para o presidente da associação, Diba se sentirá mais à vontade em Caxias porque a cidade possui uma comunidade de senegaleses maior que a de Santa Maria.
“Ele vai se sentir melhor aqui, mais seguro. Sempre terá alguém para falar com ele”, diz Billie, que é proprietário de uma movimentada loja no centro da cidade. No local, há diversas cabines telefônicas usadas principalmente por senegaleses e haitianos para ligar para seus países. A loja funciona como ponto de referência para os recém-chegados.
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“Quem chega agora se sente melhor. Ver que é possível abrir um negócio vai dar coragem, vai ser um estímulo [para os imigrantes]”, conta Billie. O empresário está há três anos no Brasil e há um ano montou a Tuba Telefonia, que tem uma funcionária brasileira.