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Quero sair de casa!

Li, em algum lugar, que mais de 70% das pessoas que trabalhavam em casa – e gostavam da novidade – mudaram de ideia depois de oito meses de confinamento. Isso não causa estranheza. Afinal, era algo diferente, formato de atividade que povoou nossa imaginação há muito tempo. Ouviu-se muito sobre essa possibilidade tornar-se rotina, mas jamais experimentamos na prática essa revolução das relações de trabalho.

Estou desde 20 de março em casa. Mantenho uma jornada de 12 a 14 horas de trabalho por dia. Graças ao maldito celular, é impossível para um curioso e ansioso ficar distante das notícias. Na semana passada, pela primeira vez, resolvi “tirar um ronco” no meio da tarde. Estava exausto. Fechei as cortinas, levei meia hora para relaxar e usufruir de uma das poucas coisas boas de levar trabalho para casa.

Para espanto da minha filha, dormi por quase três horas. Incrivelmente, despertei sem a consciência pesada. Ela confessou que temeu que tivesse herdado meus boletos e dívidas, mas despertei. Até à noite, fiquei meio anestesiado, um dos motivos por que não cultivo o hábito de sestear.

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Milhões de brasileiros estão em prisão domiciliar há quase um ano. O retorno tem sido uma montanharussa. O abre e fecha, libera e restringe. Toda a esperança reside na milagrosa vacina, salvadora, que permitirá a volta ao “normal”. As festas de fim de ano vêm aí, seguidas das férias de verão, fuga em massa para as praias, aglomeração. O justo descanso para quem sofreu como nunca em 2020. Mas será que isso vai acontecer?

Gosto de gente, de conversar, trocar ideias, circular por vários lugares. Minha paciência está no limite, e faço do trabalho uma fuga. Não imagino trabalhar em outra atividade, mas jornalismo é absorvente, principalmente para um curioso ansioso.

Especialistas garantem que milhões de trabalhadores deixarão de se deslocar todos os dias para seus empregos, fixando a residência como escritório. O home office chegou antes do previsto, sem a necessária adaptação. Os próximos meses são de expectativa, mas não acredito em alterações substanciais da rotina.

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Continuaremos mascarados, com medo, distantes de amigos, do chope e do churrasco, distantes de beijos e abraços, do afeto que temos com familiares, amigos, colegas. É difícil prever as consequências psicológicas, mas o que já estamos vendo é assustador. Falo de doenças mentais – alcoolismo, depressão, suicídios –, cujas estatísticas estão sendo escondidas. Por enquanto.

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