Um esquema que movimentava pelo menos R$ 500 mil por mês perdeu forças na manhã dessa terça após uma operação conjunta entre Polícia Federal, Polícia Civil e Brigada Militar em Santa Cruz do Sul. A ação cumpriu três mandados de prisão e cinco mandados de busca e apreensão nos bairros Santo Inácio e Bom Jesus. Um dos envolvidos, identificado como Wagner da Silva Ribeiro, o Wagninho, 28 anos, seria o sucessor de Cássio Alves dos Santos, até então braço direito de Chapolin e líder do tráfico em Santa Cruz do Sul, que foi preso em janeiro deste ano. A companheira de Ribeiro, de 29 anos, também foi presa nessa terça. Embora a PF não tenha divulgado o nome da suspeita, a Gazeta do Sul apurou que se trata de Jenifer Flores da Silva, que atuava como gerente de uma casa de bingo. O terceiro alvo não foi encontrado e é considerado foragido da Justiça. Por isso, o nome dele não será divulgado.
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Os alvos
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Conhecido como Wagninho, era responsável por recolher os lucros de todas as operações do núcleo da facção que costumava ser comandada por Cássio Alves. Além do tráfico, o dinheiro vinha de outras atividades ilegais, como bingo e jogo do bicho. Oficialmente, ele teria uma empresa para prestação de serviços elétricos registrada no próprio nome. Na ficha policial, ele tem antecedentes por ameaça, estelionato, lesão corporal e tráfico de drogas. A última acusação levou-o à prisão em 2016. Na época, em um endereço no Bairro Bom Jesus, a Defrec – então comandada pelo delegado Luciano Menezes – apreendeu grandes quantidades de cocaína e crack, além de materiais para fracionar e embalar entorpecentes. A companheira de Wagninho, Jenifer Flores da Silva, também estava no local, mas não foi presa.
Wagner Ribeiro cumpriu pena no Presídio Regional de Santa Cruz e passou a usar tornozeleira após progredir de regime. Apesar disso, continuava exercendo as atividades para a facção. Há algumas semanas, após sair do perímetro autorizado pela Susepe, foi preso novamente. Para a Polícia Federal, o fato de transportar R$ 28 mil alguns meses antes de Cássio ser preso mostra que Wagninho tinha um papel importante no esquema há mais tempo. “Ninguém entrega essa quantia para alguém sem confiar, o que nos leva a crer que eles (Wagninho e o foragido) já eram braços do Cássio antes da prisão, mas teriam ganhado mais importância depois que ele foi detido em janeiro”, comenta o delegado Mauro.
Com antecedentes por difamação, lesão corporal, estelionato e jogos de azar, ela é companheira de Wagninho e responsável por realizar os depósitos para a facção. Foi vista levando grandes quantidades de dinheiro, em notas pequenas, para depositar em bancos de Santa Cruz. A PF não conseguiu apurar os valores exatos, mas observou que Jenifer costumava levar pilhas de dinheiro vivo na bolsa. Os valores foram depositados para contas de empresas e pessoas de regiões de fronteira no Mato Grosso e Paraná, além de São Paulo.
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A quebra de sigilo bancário solicitada pela Polícia Federal deve esclarecer o destino dessas quantias. “Ela ajudava ele (Wagninho) nessas funções devido às limitações que ele tinha por causa da tornozeleira, e mais ainda depois que foi preso. Agora vamos buscar saber quem são essas pessoas que receberam o dinheiro, mas acreditamos que sejam pagamentos por armas e drogas”, diz o delegado. Em diversas ocasiões, Jenifer foi flagrada gerenciando uma casa de bingo na Rua Fernando Abott. O estabelecimento foi tema de uma reportagem da Gazeta do Sul em 2017, que frequentou o local e viu ele ser aberto poucas horas depois de a Polícia Civil confiscar os equipamentos.
Era um dos alvos da operação nessa terça-feira mas não foi localizado e passou a ser considerado foragido da Justiça. Por isso, também não teve o nome divulgado. Conforme o delegado Mauro, o suspeito estava junto com Wagninho na abordagem de outubro do ano passado e teria dito que os R$ 28 mil seriam fruto da sua atuação como jogador de futebol. Foi essa alegação, inclusive, que deu o nome Cartão Vermelho à operação, já que é o cartão usado para expulsar um atleta que transgrediu a regra do jogo. Ele tem antecedentes por posse de drogas e lesão corporal. Seria acompanhante de Wagninho nas ações e teria funções semelhantes dentro do esquema. A PF não descarta que ele poderia ser um sucessor de Wagninho, já que boa parte das funções atribuídas ao comparsa haviam sido delegadas recentemente ao suspeito, depois que Wagninho foi preso.
No nome do foragido havia pelo menos dois veículos, um deles avaliado em mais de R$ 100 mil, que tinham no registro o endereço dos pais de Cássio Alves. A residência deles, no Bairro Bom Jesus, foi um dos alvos da operação. “Nós encontramos na casa os documentos desses automóveis. O suspeito colocaria os automóveis em seu nome para não chamar a atenção para o Cássio, mas colocaria o endereço dos pais dele para que o comparsa pudesse ter controle sobre os carros. Ele é um cara que frequenta festas e ostenta um estilo de vida que a profissão de jogador amador não sustenta, e provavelmente viu nesse esquema da facção um meio de conseguir dinheiro fácil”, explica o delegado. A polícia constatou que, recentemente, o homem viajou diversas vezes para a fronteira com o Paraguai. “Ele pode estar em muitos lugares”, comenta.
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Além dos suspeitos contra quem havia mandados de prisão expedidos, um homem foi intimado para depor na manhã dessa terça. Ele estava junto com Wagninho e V.I.S.R quando a Polícia Federal apreendeu os R$ 28 mil. O carro usado pelo trio estava registrado na mãe desse jovem. Durante o depoimento, ele negou qualquer participação no esquema criminoso. Após ser ouvido, foi liberado.
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