O novo coronavírus aproveitou-se dos melhores instintos da natureza humana para ganhar terreno. A sociabilidade, o desejo natural de estar com outras pessoas, ter contato com quem amamos, tudo isso serviu para a propagação da pior pandemia vista em muitas décadas. A doença explorou nossos sentimentos mais nobres: o ímpeto de ajudar quem adoece, especialmente um familiar ou amigo, cuidar, dar apoio emocional, abraçar. Esse comportamento tornou-se fator de risco.
Ao mesmo tempo, para muitas pessoas, as barreiras físicas impostas pelo distanciamento fortaleceram esse impulso solidário. Elas redescobriram algo importante que estava em segundo plano, uma chama que precisava ser reacesa com urgência. A certeza da fragilidade, própria e dos outros, serviu como alerta. Medidas básicas de segurança, como uso de máscara, viraram prioridade. E não foi preciso nenhuma autoridade lhes repetir todos os dias o que fazer; elas sabiam.
Já para outros, a pandemia ainda é uma “narrativa” criada por grupos políticos e pela mídia, sabe-se lá com que objetivo. A imprensa, dizem, trabalha apenas para “espalhar o terror” entre a população, embora seja muito difícil entender o que os veículos de comunicação – que são empresas privadas – ganham com bandeira preta, lockdown e retração da atividade econômica.
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Os negacionistas decidiram que o coronavírus não é tudo o que estão falando. São aquelas figuras que a todo momento perguntam: “Mas ninguém mais morre de outras doenças?”. Morre, sim. Na última semana, no Rio Grande do Sul, pessoas sem Covid-19 perderam a vida por parada cardiorrespiratória. É que elas não conseguiram um leito de UTI, pois os hospitais estão superlotados em razão da escalada das infecções. Sim, há outras doenças graves, como o câncer, mas o câncer não é um vírus que se espalha rapidamente com a proximidade física e, portanto, exige distanciamento social. Isso é algo extremamente óbvio de dizer, mas é preciso repetir o óbvio, se nem com mais de 270 mil mortos e rede de saúde em colapso alguns entendem a situação.
Como na frase de Pascal, correm frenéticos na direção do abismo após colocar alguma coisa à frente para não vê-lo. Em um momento de curva ascendente do vírus, participam de aglomerações, desprezam máscara e outros cuidados, enquanto comerciantes são obrigados a parar suas atividades. Eles dizem que é preciso viver a vida, todos morrerão um dia, enfrentem o vírus e morra quem tiver que morrer. Mas quem tem que morrer?
Ninguém. Certamente não por ignorância e negligência, jamais por um mal que pode ser evitado. Nada é mais importante do que a sua vida, de seus familiares e das pessoas que ama. Cuide-se e cuide de quem você puder.
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