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Quebra de 57% na safra da uva é a maior já registrada no Rio Grande do Sul

A safra da uva no Rio Grande do Sul sofreu este ano a maior quebra já registrada no estado: uma redução de 57% em relação à colheita do ano passado. Segundo dados preliminares do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), foram colhidos em 2016 apenas 302,2 milhões de quilos de uva em território gaúcho. Em 2015, a safra alcançou 702,9 milhões de quilos.

A principal causa da quebra histórica foi uma sucessão de fatores climáticos que prejudicaram o desenvolvimento das uvas ao longo do ano, como geadas e excesso de chuvas. Como consequência do prejuízo, o preço de produtos derivados da uva, como vinhos e sucos, deverá sofrer acréscimo.

Já os viticultores (produtores de uva) estão preocupados com o fato de a quebra ter ocorrido justamente em um ano em que o custo da produção foi maior, devido ao aumento dos preços dos insumos e dos impostos no estado. Com a colheita de menos da metade do esperado em volume de frutos, muitos deles terão dificuldades para investir na próxima safra.

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“Está sendo difícil compensar o prejuízo. Se os produtores repassarem todo o custo de produção para o preço do produto, não conseguem vender nada. Eles vão ter que assumir alguns desses custos”, disse Dirceu Scottá, presidente do Ibravin.

A necessidade de aumentar o preço final dos produtos da uva é encarada com preocupação pelos produtores. “Considerando o aumento dos impostos e a situação econômica do país, estamos estimando uma queda de pelo menos 10% no consumo este ano”, afirmou Itacir Pozza, presidente da Vinícola Aurora. A cooperativa, composta por 1.100 famílias de viticultores, teve um prejuízo menor do que a média estadual: recebeu 51,3% do volume correspondente à safra de 2015 — um total de 33,6 milhões de quilos de uva.

O Rio Grande do Sul é o maior produtor de uva do Brasil. O estado responde por cerca de 90% de toda a produção nacional, conforme os números do Ibravin. Em terras gaúchas, existem em torno de 15 mil propriedades vitícolas que abrangem área total de 40 mil hectares. A maior parte delas está localizada na Serra, no nordeste do estado, e na região da Campanha, na metade sul do território gaúcho.

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Quebra histórica

Os viticultores mais antigos da Serra gaúcha afirmam que não se lembram de um resultado tão baixo quanto o de 2016. Remy Valduga, 75 anos, trabalha nas terras herdadas do pai, no Vale dos Vinhedos — região localizada entre os municípios de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul e Garibaldi. Segundo ele, a quebra da última colheita é histórica.

“Houve algumas quebras no passado que foram esporádicas, regionais. Eu nunca havia visto uma tão abrangente quanto a deste ano, que atingiu toda a população dos produtores de uva”, afirmou o viticultor. Ele contou que perdeu 70% da safra em sua propriedade, de um hectare e meio: “Eu esperava produzir entre 60 mil e 70 mil quilos, mas só consegui colher cerca de 22 mil quilos”.

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Nos arquivos do Ibravin não existem registros de um resultado tão ruim quanto o da safra 2016, no Rio Grande do Sul. “Em conversas com os mais velhos, nós chegamos à conclusão de que essa é a maior quebra em mais de 50 anos”, afirmou o presidente do instituto, Dirceu Scottá.

O presidente da Aurora, Itacir Pozza, lembrou que uma safra em 1982 também foi prejudicada pela geada. “Mas, depois, não teve tanta chuva e granizo quanto no ano passado. Uma quebra como essa que estamos enfrentando, creio que seja a primeira vez”, disse Pozza.

Pouco volume, qualidade superior

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Apesar do volume da colheita ter sido decepcionante para os produtores, a qualidade da uva da safra 2016 empolgou os apreciadores de vinho. “Eu comentei com outros enólogos [especialistas na produção de vinhos] que achei uma pena essa safra ter sido tão pequena, porque ela foi excepcional”, destacou Scottá. Ele afirmou, no entanto, que foi justamente a redução da quantidade de frutos nas videiras que elevou a qualidade da uva.

Itacir Pozza comentou como funciona a relação entre quantidade e qualidade na viticultura: “Quando há menos uvas na videira, ela consegue concentrar mais energia em cada fruto. Isso é próprio da planta”.

A baixa produção na safra 2016 também é vista pelos produtores como uma esperança para a próxima colheita. “A planta conseguiu descansar melhor este ano. Ela guardou mais energia e se prepara para uma safra maior no ano que vem”, estimou Pozza.

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Scottá lembrou, no entanto, que existem parreirais onde as videiras foram danificadas pela geada e pelos granizos: “Isso deve afetar os próximos dois anos de produção. Também temos que considerar que nem todos os viticultores estarão capitalizados o suficiente para investir em uma safra cheia para 2017”.

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