Seria bom acreditar que uma situação de calamidade como a que estamos enfrentando vá servir para alguma coisa. Para que nos tornemos mais solidários ou conscientes ou mais humanos, enfim, melhores de algum modo. Não recupera o que foi perdido, mas é um mínimo consolo.
Certas situações são encorajadoras, sobretudo o esforço de exércitos de voluntários empenhados em ajudar as vítimas das cheias. Sim, há os costumeiros inúteis que se dedicam só a atrapalhar, seja por razões políticas ou por pura falta do que fazer. Mas as mobilizações de ajuda têm se mostrado mais numerosas e efetivas.
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Vamos “aprender” alguma coisa com a desgraça? Era o que se dizia na época da pandemia de Covid-19, há não muito tempo. “Nós vamos sair disso melhores.” Mas, aparentemente, não houve nada de especial.
Ou será que houve? Donativos para os gaúchos chegam de todos os lugares do Brasil. Nem tudo é exatamente aproveitável, mas a quantidade impressiona. No domingo passado, um navio da Marinha saiu de Maceió com destino ao Porto de Rio Grande. A embarcação transportava 24 toneladas de itens arrecadados em estados do Nordeste para doação às vítimas das enchentes. Nessa hora, o que diriam os prepotentes que enchem a boca para chamar nordestinos de “parasitas” ou adjetivos piores? Um golpe e tanto no discurso bairrista e arrogante da autossuficiência.
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Mas claro que esse discurso resiste, infelizmente. Por mais que as chuvas e enchentes arrastem tudo e todos – sem discriminação nenhuma – , brasileiros que se acham melhores do que outros continuam por aí. Alguns não escondem que suas aspirações para um futuro próximo seriam algo como o cenário do filme Guerra Civil (aquele do Wagner Moura, não o do Capitão América).
Numa cena especialmente forte, o miliciano de um dos lados no conflito (os EUA estão rachados em uma nova Guerra de Secessão) decide se um grupo de jornalistas deve morrer ou não. O critério dele é simples e se traduz nesta pergunta: “Que tipo de americanos vocês são?”. Não é uma questão filosófica, é geográfica mesmo: são do Texas? De Manhattan? De onde?
Que tipo de brasileiro pensaria nisso?
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