Nasci em 2 de dezembro de 1950, em Trombudo (Vale do Sol). Jamais me esqueço das minhas origens. De vez em quando faço um passeio pela jovem cidade.
Uma das características daquela época era que os colonos tinham famílias numerosas, algumas até com 12 filhos. Quando cresciam, ajudavam nas lides de casa ou na roça. Não havia a mecanização das lavouras, como hoje. No preparo das terras usava-se o arado puxado por bois ou mulas. As capinas deixavam as lavouras limpas do inço. Raramente se usava veneno.
Nossa família era constituída de seis irmãos e uma irmã. Nenhum deles seguiu a profissão de agricultor. O pai era alfaiate e possuía uma pequena fração de terras, onde se cultivava milho, mandioca e pasto para as duas vacas e um porco, que era engordado para o consumo doméstico.
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Nos domingos, a obrigatoriedade das famílias católicas era assistir às missas. Todos usavam roupas especialmente costuradas. Até sapatos eu colocava – que infelizmente sempre me causavam bolhas no calcanhar. Achava essa indumentária dispensável. Preferiria ir descalço. Tênis não existia e se algum guri tivesse uma Conga era considerado rico. Raro na localidade.
Sentia-me aliviado quando voltava para casa depois da missa rezada em latim, que achava chata. Não entendia nada que o padre falava. E o pior, as bolhas nos pés pareciam jabuticabas, incomodavam.
O padre Emílio Backes era muito rígido com a presença dos paroquianos às celebrações. Conhecia os católicos da vila por nome. Se alguém faltasse, era questionado durante a semana.
Após o compromisso religioso, era preparado um lauto almoço. Em alemão dizia-se “Sontag essen”, que significa “comida de domingo”. Nesse cardápio não se comia feijão, pois esse era consumido, diariamente, só até sábado.
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Os pratos principais eram constituídos de batata inglesa cozida, arroz, massa caseira preparada pela mãe – auxiliada pela minha irmã Sidelga – acompanhada de uma gostosa carne de porco frita na panela de ferro, até ficar bem passada. O molho, acrescido de alho e cebola, ficava uma delícia. A salada não poderia faltar. Quando meus irmãos, que estudavam e trabalhavam na cidade, voltavam nos finais de semana, a mãe Elzira acrescentava uma galinha recheada feita no forno de pão. A gostosa sopa de galinha não poderia faltar na refeição.
O pai Edwino não se envolvia na cozinha, serviço exclusivo das mulheres. Se a data fosse muito especial, comprava uma garrafa de cerveja Casco Escuro da Polar, resfriava no fundo do poço, amarrada numa corda, onde ficava por horas. Geladeira não existia. Na hora do consumo, pedia para um filho pescá-la, e ela vinha estupidamente resfriada. Os filhos se contentavam com um copo d’água da cacimba e raramente degustavam uma gasosa da Celina, um guaraná Frisante da Polar ou Grapete da Celina, servidas naturalmente. Que tempos maravilhosos esses da nossa infância!
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