A próxima semana já será de Feira do Livro em Santa Cruz do Sul, a partir de sexta-feira. Bom momento para tratar de uma antiga questão: por que ler livros clássicos, nacionais ou internacionais? Textos impressos com séculos de idade ainda têm algo a dizer para leitores desta época de imagens e áudios?
Para a primeira pergunta, o escritor Italo Calvino (1923-1985) dá uma resposta simples: porque é melhor do que não ler. Calvino definia como “clássico” aquele livro que nunca termina de dizer o que tem para dizer. As gerações passam, o mundo se transforma, mas os significados da obra não se esgotam.
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Um exemplo? Viagens de Gulliver, do irlandês Jonathan Swift, publicado em 1726. A maioria conhece pelo menos o início da história, adaptada mais de uma vez para o cinema. Após um naufrágio, o britânico Lemuel Gulliver chega à ilha de Lilliput, adormece e acorda amarrado ao chão, cercado de nativos minúsculos. Parecem humanos, mas não medem mais do que 15 centímetros. (Quem, na infância, não conheceu os brinquedos em miniatura da marca Gulliver? Pois é.) Mas essa é só a primeira das quatro grandes jornadas do protagonista.
Em Lilliput, Gulliver é um gigante, temido e admirado por aquela nanocivilização. Contudo, experimenta o avesso da sensação de poder ao chegar a Brobdingnag, terra de seres gigantescos. Os papéis se invertem: agora ele é quase um inseto. “Têm razão os filósofos quando afirmam que nada é grande nem pequeno senão em relação a outras coisas”, pondera. Tudo é uma questão de lugar, momento, circunstâncias.
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Após conhecer a ilha flutuante de Laputa, o europeu encerra suas aventuras no país dos Houyhnhnms, cavalos falantes com uma sabedoria e educação inauditas. Esse também é o lar de criaturas simiescas e violentas, os Yahoos, que lhe causam profunda repulsa. “Nunca vi animal tão desagradável.” Porém, no seu primeiro contato com os Houyhnhnms, estes o confundem com… um Yahoo. As diferenças são poucas.
Quando vê sua aparência refletida em um lago, Gulliver desvia o rosto, assustado. Pois ali só há um Yahoo capaz de falar. O espelho distorcido lhe dá sua imagem real, e ela é menos civilizada que a de um equino. Para um povo que se lançou aos mares decidido a governar o mundo, é um golpe duro na autoestima. Alguns dizem que Jonathan Swift era antissocial. Talvez apenas não fosse tão pretensioso.
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