Os dois últimos anos deixaram marcas profundas na sociedade. A começar, sem dúvida, pelas vidas perdidas e pelas sequelas que a Covid-19 deixou em tantas famílias. Além disso, houve reflexos sobre a economia, o mundo do trabalho e setores como turismo, cultura, artes. Em muitos casos, os danos são irreparáveis.
Se pouco se pôde comemorar, ao menos um alento vem do ambiente da leitura. Pois não é que, tendo de ficar mais tempo concentrados no lar, os brasileiros (ao menos parte deles) re-descobriram a leitura? Dados divulgados pelo 11º Painel do Varejo de Livros no Brasil apontam que as vendas cresceram 33% em volume e 31% em valor no acumulado de janeiro a novembro, em relação a 2020. Não é pouca coisa.
Para um país em que leitura não chega a ser prioridade, é uma guinada positiva. E, como estímulo, o Magazine indica quatro livros lançados nesta reta final de 2021 que podem constituir excelente leitura no ano que vem. De temáticas variadas, já representariam mais do que a média de leitura do brasileiro em um ano. E essa, aliás, é uma marca que mereceria ser superada já em 2022…
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Cicatriz que dói na alma
O novo livro da jornalista Adriana Negreiros ocupa-se com coragem, autenticidade e amplitude de um tema que, por mais urgente que seja a sua abordagem na sociedade brasileira (a bem da verdade, em qualquer sociedade), segue como um tabu: o do estupro e da violência sexual contra as mulheres. A vida nunca mais será a mesma: cultura da violência e estupro no Brasil foi lançado pela Objetiva, com 304 páginas, a R$ 49,90.
A autora contempla os variados aspectos que envolvem a questão, desde o pensamento persistente de que, em muitos casos, a própria mulher seria culpada pela agressão sofrida. Adriana menciona as diferentes formas como o assédio, a violência ou o próprio estupro vão se constituindo, na família, no universo do trabalho ou em espaços públicos, em discursos que buscam inibir, sufocar, silenciar ou disfarçar as agressões.
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E refere que esse drama não se limita a idade, condição social, raça e cor, perpassando a vida e a rotina das mulheres em todos os ambientes. Uma obra contundente, cuja leitura tende a contribuir para a tomada de consciência.
Alimentar, caro Watson
Um assunto onipresente na vida de cada pessoa é a alimentação. Afinal, não importa o que faça, que idade tenha ou onde viva, providenciar alimento é tarefa de cada dia. E o escritor e professor francês Jacques Attali, influente no ambiente da cultura no mundo todo, traz contribuição ou reflexão oportuna para os debates em torno desse tema.
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A epopeia da comida: uma breve história da nossa alimentação, com tradução de Mauro Pinheiro, em 301 páginas, a R$ 59,80, resgata os fatos mais significativos associados ao modo como, ao longo do processo de evolução, o ser humano se relacionou com os alimentos.
O livro dialoga com outras importantes pesquisas e publicações de especialistas, mas Attali dá a sua contribuição pessoal, da condição de quem foi assessor especial do presidente francês François Mitterrand por uma década e de quem é fundador de organizações internacionais voltadas a fomentar qualidade de vida. Na obra, aborda justamente o que, afinal, favorece a qualidade de vida numa refeição, e não necessariamente a quantidade ingerida.
Queridos cãopanheiros
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Se tem uma leitura sempre aprazível, esta é sobre a relação das pessoas com seus animais de estimação, em especial os… catioros. Grandes ou pequenos, peludos ou nem tanto, brincalhões ou invocados, não tem jeito: eles se acomodam em um espaço em nossas vidas do qual ninguém mais consegue (ou não deveria querer) desalojá-los. E a especialista Alexandra Horowitz, doutora em ciência cognitiva, é uma mestra quando se trata de analisar os diferentes aspectos que envolvem a ligação humano-canina, ou de tutor com o amiguinho tutelado.
Em texto já basilar, A cabeça do cachorro, de 2010, então lançado no Brasil pela editora Best-Seller, nos familiarizou com tudo o que passa na… mente dos latidores. Agora, ela volta às livrarias com nova e deliciosa obra, Seu cachorro e você, pela mesma editora, em tradução de Isabela Sampaio, com 392 páginas, a cãopensadores R$ 49,90. Se a sua relação com seus amiguinhos caninos já vai de vento em popa, excelente; mas este livro tem o dom de iluminar situações e comportamentos que deixam a gente de queixo caído.
Esse tem muito o que dizer
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Quando alguém menciona o nome do filósofo e professor francês Edgar Morin, já se tem garantia de profundidade no conteúdo. Se sempre foi assim, essa evidência só se solidificou com o passar do tempo. E esse tempo passou… Em 8 de julho de 1921, Morin completou 100 anos! É da altura de um século, de quem viu, de ponta a ponta, o mundo a partir do fim da Primeira Guerra Mundial, passando pelo entre-guerras, o trauma da Segunda Guerra, na qual teve participação ativa como membro da Resistência Francesa à invasão nazista, até o pós-guerra, a Guerra Fria, o final do século 20 e este início de século 21 cercado de tanta inquietação.
Ao longo de sua trajetória acadêmica e profissional, Morin lançou inúmeros livros, praticamente todos editados no Brasil. A eles junta-se agora um sucinto mas contundente depoimento. Em Lições de um século de vida, que acaba de chegar pela Bertrand, em tradução de Ivone Benedetti, com 112 páginas, a R$ 39,90, ele diz o que a sua sabedoria e erudição lhe inspiraram, da altura de centenário, para o bem de todos nós. E como não ouvir Morin?
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