Faz praticamente um ano que ao invés de recorrer ao plantão pediátrico do IPE, a secretária da Escola Ernesto Alves, Jaqueline do Nascimento, 34 anos, é obrigada a levar os filhos Pietro, 6 anos, e Valentina, 4, ao Centro Materno Infantil (Cemai). Já quando os pequenos necessitam de alguma consulta em horário comercial, a mãe prefere marcar direto no posto de saúde. Segundo ela, é mais rápido do que esperar uma vaga na agenda da única pediatra que atendia pelo convênio no município até então. Nesta semana, outra especialista firmou convênio com o plano.
Desde que a emergência pediátrica pelo Instituto de Previdência do Estado foi suspensa em Santa Cruz do Sul, em 19 de setembro de 2016, esse tipo de situação se repete. De lá até hoje, abaixo-assinado, processo no Tribunal de Justiça e reuniões tentaram encontrar soluções para o caso. Mas até agora, nada. “Sempre fui bem atendida no Cemai. O problema é que nós, que temos planos e pagamos por ele, acabamos ‘tirando o lugar’ de quem realmente precisa”, lamenta Jaqueline.
Na tarde dessa terça-feira, a autora do abaixo-assinado encaminhado ao Ministério Público com 2.192 assinaturas, a professora Janaína Venzon, e o policial Laerte Teixeira estiveram na sede do órgão em Santa Cruz para verificar em que pé anda o processo contra o instituto. Após a Justiça local estabelecer multa de R$ 2 mil por dia e não vê-la aplicada, pois a 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado suspendeu, o promotor Érico Fernando Barin afirmou que o Judiciário deve agilizar a tramitação. O Ministério Público voltou a solicitar que o IPE cumpra a medida liminar e tome uma atitude para enfrentar o problema. Segundo Barin, a situação está mais do que provada e o IPE já deveria ter resolvido o impasse ou, no mínimo, adotado uma medida para amenizar os transtornos.
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O promotor sugeriu que a autora do abaixo-assinado agendasse reunião com a juíza da terceira Vara Cível, Letícia Bernardes da Silva, para obter informações. Janaína já entrou em contato com o fórum e vai aguardar a magistrada retornar das férias.
Falta de anestesistas é motivo de insatisfação
Outro gargalo do plano que indigna quem precisa fazer cirurgia em Santa Cruz é a falta de anestesistas. Hoje, todo usuário que necessita se submeter a algum procedimento pelo convênio é obrigado a pagar o especialista “por fora”. A média de cobrança, segundo os advogados Samuel Klafke de Almeida e Tibicuera de Almeida, representantes dos conveniados que entram na Justiça para reaver o valor, gira em torno de R$ 1 mil a R$ 4 mil.
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“Já atendemos cerca de 20 clientes que entraram com processo contra o IPE”, diz Klafke. Segundo ele, o Poder Judiciário vem atendendo ao pedido de quem ingressa com esse tipo de ação. Nesses casos, o IPE reembolsa os usuários, mas segue a tabela do Código Brasileiro Hierárquico de Procedimentos Médicos, com valores abaixo dos que são praticados pelos especialistas particulares.
IPE alega que mudança vai qualificar o serviço
Em resposta aos contratempos causados pela falta de atendimento em Santa Cruz, a assessoria de comunicação do IPE respondeu, na tarde dessa segunda-feira, que mudanças previstas para ocorrer no instituto, como a separação entre IPE Saúde e IPE Previdência, deverão qualificar o serviço prestado.
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“A relação com os prestadores de serviços será fortalecida com a possibilidade de um novo sistema de remuneração, readequando os valores e valorizando o vínculo do IPE com a rede credenciada.” A coordenadora de comunicação do IPE, Grazielle Azambuja, garantiu mais agilidade na gestão e inclusão de novos procedimentos e especialidades médicas. Os projetos relacionados às mudanças do Instituto de Previdência do Estado tramitam na Casa Civil e devem ser encaminhados para a Assembleia Legislativa nos próximos dias. A assessoria do convênio não respondeu a questões específicas relacionadas ao Plantão Pediátrico.
“Temo que meus filhos fiquem doentes”
A professora de português da Escola Ernesto Alves, Aline da Silva, de 31 anos, é outra pessoa que enfrenta transtornos após o cancelamento do serviço. Por residir em Vera Cruz, a servidora mãe de Murilo, 5 anos, e Lívia, 10, também fica impedida de receber atendimento no Cemai. “A minha sorte é que, não faz muito tempo, o Hospital Vera Cruz passou a oferecer uma pediatra à noite”. Segundo ela, o maior problema ocorre nos fins de semana. “Tenho medo que meus filhos fiquem doentes sábado e domingo, pois fico sem saber o que fazer. Até posso levar no clínico geral, mas não é a mesma coisa.”
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