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Quando vamos, queremos voltar

Rodamos 2,8 mil quilômetros para contar, nas ondas da Rádio Gazeta FM 107,9, a trajetória do Futebol Clube Santa Cruz na fase classificatória da Divisão de Acesso do Gauchão em 2023. Esse cálculo rápido leva em conta apenas os sete jogos do Galo fora de casa na competição. Por ser setorista da equipe, estive em todas as viagens. Quero dizer com isso que eu e meus companheiros de jornada já rodamos algum trecho por este Rio Grande do Sul neste ano.

Nossa viagem mais recente foi para Pelotas, no último domingo, 16, na última partida da fase classificatória. Saímos, eu, Eder Soares (nosso motorista oficial), Mateus Machado e André Guedes, às 8h30. A viagem de ida foi tranquila: parada para o café, muitas histórias e risadas, mas sem deixar de lado nossa apreensão com a precária situação da RSC-471. Desde Pantano Grande até o sul do Estado, a rodovia apresenta inúmeros buracos, desníveis e rachaduras, além de praticamente não oferecer acostamento e pontos de desvio para eventuais paradas emergenciais.

Com a claridade do dia, fomos observando e desviando das crateras. Éder Bambam por muitas vezes teve de apelar para a pista contrária para não dar com a roda em alguma delas, o que, sem dúvida, causaria danos ou até acidente. Por se tratar de um domingo, o movimento reduzido na estrada permitiu essas manobras. Chegamos a comentar que o estado da rodovia parecia pior no trecho de ida do que no de volta, que, aparentemente, apresentava problemas menores.

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Chegamos em Pelotas por volta do meio-dia, almoçamos no mesmo restaurante em que a delegação do Galo havia feito sua refeição e seguimos para o Estádio Boca do Lobo, que os pelotenses orgulhosamente destacam como o mais antigo do Rio Grande do Sul.

Aliás, clima de tensão em Pelotas. O Áureo-cerúleo precisava da vitória sobre o Santa Cruz para garantir uma vaga nas quartas de final da competição. Classificado com três rodadas de antecipação e líder do grupo B, o Galo jogava para manter o anímico do grupo forte para a próxima fase e, quem sabe, tirar do páreo uma das camisas mais pesadas na disputa da Série A2. Jogo pegado, ambiente inóspito e o placar de 1 a 0 para o time da casa. Encerramos nosso trabalho e, apesar de chateados com a derrota da equipe que acompanhamos tão de perto, a sensação era de termos feito uma boa jornada esportiva. Fizemos mais uma vez nosso papel com êxito. Recolhemos os equipamentos, carregamos o carro e iniciamos o caminho de volta para casa.

No trecho, ainda paramos em um posto em Canguçu para comer algo. Quase no momento da nossa saída, a delegação do Galo chegava para jantar. Os colegas da Rádio Santa Cruz também estavam por ali fazendo refeição e ficaram um pouco mais quando deixamos o local. Cumprimentamos eles e seguimos nosso trajeto. Como de hábito, a conversa fluía e até já repetíamos as mesmas histórias, com algumas variações, que contamos uns para os outros nessas viagens. Adendo: essas resenhas no carro renderiam uma série de colunas sensacional! Papo para outra hora, porque este não é um texto de humor.

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Confesso que do banco de trás nem sabia exatamente por onde andávamos, só sei que, pela condição terrível da estrada, a velocidade era baixa. Para nossa sorte! Sem possibilidade de desviar, nosso carro acabou atingindo com as duas rodas do lado direito uma verdadeira cratera na rodovia, em um ponto próximo de Encruzilhada do Sul, assustando todos que estavam no interior. Impossível desviar. Havíamos dado sorte até ali, na verdade. Com a noite, ficava quase impossível visualizar a sequência monstruosa de panelas na RSC-471, principalmente quando a luz precisava ficar baixa para cruzar por outro veículo que vinha na direção contrária. Nosso motorista, que até então, orgulhosamente, nunca havia tido intercorrências nas viagens (apesar de enfrentar diversas estradas ruins em todos esses anos de trabalho), pouco pôde fazer além de segurar firme o volante até um ponto onde pudéssemos parar. Não capotamos ou sofremos um acidente sério porque a velocidade era efetivamente baixa.

Distantes de qualquer luz que indicasse moradia ou posto de assistência, sem sinal nos telefones, num frio de rachar, começamos a raciocinar e tentar acionar alguém para nos socorrer. Para nossa profunda gratidão, dentro de meia hora, antes mesmo de acionarmos o seguro do carro, os amigos da Santa Cruz pararam para nos prestar auxílio. Porém, a furação de parafusos do estepe da viatura deles não condizia com a roda da nossa e nosso dilema seguia. Para nossa alegria e alívio, dois bons homens que seguiam em direção a Encruzilhada perceberam nossa situação e ofereceram ajuda. Emprestaram-nos um pneu e assim conseguimos retornar, escoltados pelos colegas da emissora conterrânea, em segurança para casa.

Reportar já me levou a muitos lugares. Pegar a estrada é inevitável nesta profissão que escolhi e que tento honrar diariamente. Gosto de viajar, seja a passeio ou trabalho. Conhecer lugares novos e pessoas diferentes, contar histórias interessantes é algo que motiva o meu fazer diário. Nesse contexto, o jornalismo esportivo tem grande relevância. Acompanhando, especialmente, a caminhada do Futebol Clube Santa Cruz nos últimos anos, rodei boa parte deste Rio Grande do Sul. E tenho uma prática de fé: sempre ao sair de casa, rogo a Deus para que eu e meus companheiros de jornada possamos retornar em segurança às nossas famílias. Ele sempre está conosco e se faz presente de várias formas. E estará novamente ao nosso lado quando viajarmos, provavelmente no próximo domingo, para contar a primeira partida do Galo pelas quartas de final contra o Passo Fundo, no Vermelhão da Serra.

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Contudo, é revoltante a situação desta rodovia. A precariedade da RSC-471 desrespeita os usuários e os expõe a risco de morte. Nossa ocorrência não teve gravidade, além dos danos materiais, mas quantos não têm a mesma sorte? Quantos profissionais saem de casa, orando para retornar em segurança, mas, expostos à irresponsabilidade de quem deveria manter a rodovia minimamente em condições, acabam não retornando? É revoltante, e urgente que alguém faça algo antes que vidas sejam ceifadas, vozes silenciadas, histórias interrompidas.

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Heloísa Corrêa

Heloisa Corrêa nasceu em 9 de junho de 1993, em Candelária, no Rio Grande do Sul. Tem formação técnica em magistério e graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Trabalha em redações jornalísticas desde 2013, passando por cargos como estagiária, repórter e coordenadora de redação. Entre 2018 e 2019, teve experiência com Marketing de Conteúdo. Desde 2021, trabalha na Gazeta Grupo de Comunicações, com foco no Portal Gaz. Nessa unidade, desde fevereiro de 2023, atua como editora-executiva.

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