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Caçadores de sorrisos

Quando o refeitório vira bailinho de Carnaval

Sentadinha, dona Hilda Sehnem, de 97 anos, não levantou para dançar. Trajando uma máscara de Carnaval, a residente de mais idade da Associação de Auxílio aos Necessitados (Asan) remexia um pouco o quadril e, vez que outra, não resistia às gargalhadas. Na tarde desse sábado, enquanto o refeitório da entidade se tornou um verdadeiro “bailinho”, ela apenas observou. Foi a solução que encontrou para não perder a festa, já que suas limitações físicas a impediam de se movimentar como os outros residentes da entidade.  “A gente ‘tá’ no mundo pra olhar”, comentou sem muitas papas na língua.

Aqueles olhos, de quem muito já viveu e hoje sente saudades, enxergaram os voluntários do projeto Caçadores de Sorrisos puxarem pela mão os idosos que esperavam um par de dança. Também avistaram o DJ, que ficou encarregado de escolher as melhores canções para embalar a festa. Banho de Lua e Não Deixe o Samba Morrer foram apenas algumas das canções que animaram os festeiros. Envoltos naquele clima de purpurina e confete, uns se deixavam levar fácil pelas melodias, outros precisavam de um incentivo a mais. Dona Maria Gerci da Silva, 70 anos, por exemplo, fez que “não” com a cabeça. Mas bastaram apenas um pouco de insistência e um sorrisinho de um dos dançarinos para que ela cedesse. Depois disso, esqueceu a dor na coluna e só quis saber de ir ao meio da pista improvisada.

Do outro lado do salão, o residente recém-chegado Sérgio Luiz Rosa, 58 anos, conduzia seu par de dança mais devagar. Aproveitava para relatar à jovem dançarina que estava se recuperando de uma cirurgia feita na perna, por isso o motivo de estar um pouquinho mais lento. Para ele, a atividade promovida pelos voluntários só trouxe alegria. “Eu dancei que tomei um ‘suador’”, contou enquanto enxugava testa e ajustava a máscara de Carnaval. Pronto para o segundo round da festa, Rosa contou que se não fosse o baile, ele e os colegas da Asan estariam tomando chimarrão ou, quem sabe, esperando a próxima refeição. “Isso é tão bom, menina. Traz felicidade pra  nós, velhinhos. Nos tira dessa rotina”, ressaltou.

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A quebra na rotina, aliás, é um dos principais ganhos que ações sociais como essa, conforme o técnico de enfermagem que trabalha na Asan, André Konzen,  proporcionam aos internos da associação. “Eles estão acostumados a realizar suas atividades em tempos já determinados. Muitas vezes, nem sabem que dia da semana é. Por isso é fundamental que projetos como este se mantenham. É o plus”, disse.


Dona Hilda observou a festa
Foto: Lula Helfer

“Dura” de corpo, mas boa de dança

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O vestido estampado com borboletas já indicava que dona Noeli Chaves estava no clima da festa. Aos 65 anos, ela foi uma das protagonistas do evento, já que esbanjou ânimo e requebrado na pista. “Dura de corpo” e ruim de ouvido, como assim mesmo se considera, ela pareceu não se importar com as dificuldades que o tempo lhe impôs. “Quando ficamos velhos, tudo fica mais difícil. Mas é só se mexer um pouco para eu ficar ‘faceira’ da vida”, disse.

No intervalo entre uma dança e outra, sentou, tomou refrigerante e se mostrou disposta a uma prosa. Ao ser questionada sobre a idade, não lembrou muito bem. “Acho que eu tenho 45. Ou 49? Não repara, é que não tenho muita memória.” Dona Noeli pode até ter esquecido a idade, mas não esqueceu que dançar é bom. E depois de uma conversa sem muitas delongas, seguiu a batida do som. Era pouco tempo para a prosa e muita dança para colocar em dia.


Dona Noeli foi uma das mais animadas e deu show na pista
Foto: Lula Helfer

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O projeto

Planejado desde 2015 pelo casal Pablo Cardoso e Renata Borstmann, o projeto Caçadores de Sorrisos tem como objetivo oferecer mais do que só doações. Segundo o voluntário, a ideia é que a ação crie o espírito do movimento, do sorriso e da sustentabilidade. “Queremos não só que esse projeto se mantenha, mas também esteja aberto para a participação de outros voluntários. Já estamos planejando mais ações para que essas vindas à Asan se tornem um hábito e não uma exceção.” 

Com o apoio da Open Extreme Brasil, que viabilizou a ida de 28 dançarinos à instituição, o projeto também busca estimular os idosos a saírem da sua zona de conforto. “Queremos que eles pensem, se exercitem e revivam o que foi bom na infância e juventude.” Segundo Cardoso, mais de cem voluntários estiveram envolvidos no projeto. n

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