Strange Fruit (“fruta estranha”) é uma canção norte-americana composta na década de 1930. Tornou-se famosa na voz de Billie Holiday e foi interpretada por vários artistas, como Nina Simone e, no Brasil, Seu Jorge. “Black bodies swinging in the southern breeze, strange fruit hanging from the poplar trees”, diz a letra. Corpos negros balançando na brisa do sul, fruta estranha pendurada nos álamos. Referência explícita aos linchamentos de negros no sul dos Estados Unidos, crimes hediondos tratados como espetáculos públicos que atraíam famílias entusiasmadas para assistir.
Lembrei da música ao ver a foto do boneco de Vinícius Jr. enforcado em um viaduto de Madri, na Espanha. Aos que consideram tudo “brincadeira de mau gosto”, não existe nada inofensivo na imagem de um negro pendurado pelo pescoço.
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Isso aconteceu em janeiro. Só nesta semana, após o repúdio internacional a mais uma agressão contra Vini Jr., a polícia prendeu os responsáveis pelo “enforcamento”. Mas todos já foram soltos.
Casos de racismo têm aumentado na Espanha, além dos campos de futebol. Têm sido frequentes no mundo inteiro. No Brasil, ainda fazem parte do cotidiano. E há quem se divirta.
Na última quarta-feira, o Google retirou de sua loja de aplicativos um jogo eletrônico em que o usuário podia agir como dono de escravos. No “simulador de escravidão”, o jogador era estimulado a comprar, vender e aplicar castigos físicos em negros cativos. Após denúncias e manifestações até do Ministério Público Federal, o app saiu do ar. Em sua defesa, a empresa Magnus, criadora do game, afirmou que ele foi criado para “fins de entretenimento”.
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E lembrou que o usuário tinha opções: ser um tirano ou um libertador, um abolicionista. O que me faz pensar nos debates que por vezes surgem sobre personalidades do passado, figuras históricas que apoiaram o racismo. Há quem diga que foram “pessoas de seu tempo”, como se isso bastasse. Mas o tempo da escravidão também foi o de seus críticos; abolicionistas foram contemporâneos de escravocratas. E muitos que defenderam linchamentos nos EUA viveram na época do movimento de direitos civis.
O tempo dos que hoje tentam humilhar Vini Jr. é o mesmo de muitos que detestam o racismo.
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E você, leitor? Qual é o seu tempo?
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