Em meio às incertezas econômicas causadas pela pandemia do novo coronavírus, o futuro do mercado de trabalho passa pela adequação dos espaços e das relações entre patrões e empregados. A possibilidade de execução das tarefas a distância e as ferramentas de gestão de pessoas – adaptadas para esta nova realidade – poderão representar um novo momento no mundo do trabalho a partir de agora.
O engenheiro agrônomo Mauro Luiz Feuerborn é a prova de que a mudança é possível. Há mais de 30 anos ele atua na área de pesquisa da JTI em Santa Cruz do Sul e conta que se surpreendeu com a ferramenta. “É tudo novo, estamos todos nos adaptando. Houve um investimento e uma preparação tecnológica e emocional para que pudéssemos realizar esta tarefa”, contou.
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Feuerborn explicou que na sua equipe oito profissionais estão atuando a partir de suas casas, no modelo home office, e que esta pode ser uma ferramenta de uso por temporadas dentro da atividade de pesquisa da empresa. “A atividade de pesquisa não permite que todo o trabalho seja feito a distância; porém em algumas épocas, como esta agora, de entressafra, podemos sim atuar neste modelo, que está dando certo.”
Além da adaptação ao home office, a força de trabalho regional tem condições de sobreviver à pandemia. Para o professor de Direito Empresarial da Faculdade Dom Alberto César Cechinato, a economia da região poderá reagir de forma rápida às dificuldades financeiras. “Os vales do Rio Pardo e Taquari têm segmentos industriais de alimentos, que seguem sendo consumidos. Estas empresas mantêm a sua força e representatividade”, analisou. Cechinato acredita que, na esteira, o setor fabril do tabaco – força da economia santa-cruzense – também tem condições de enfrentar o atual período com trabalho e manutenção da atividade. “Existem clusters mundiais que são muito valorizados, e a produção de tabaco é um deles. No caso do Brasil, a tecnologia e a qualidade do tabaco brasileiro fazem a diferença e, por isso, seguem importantes no cenário global.”
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A importância de monitorar qualidade e saúde laboral
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A implantação do trabalho a distância na modalidade home office por imposição da pandemia é um teste também à gestão de crise das organizações. A psicóloga Janaína Schneider atua como gestora de carreiras na Universidade do Vale do Rio Taquari (Univates), de Lajeado. Segundo ela, para trabalhar com as equipes em modo conectado, fora do campus da universidade, a gestão precisou passar por treinamento específico. “Criamos um modelo de gestão de risco, no qual todos os líderes participaram de capacitação. A intenção é observar a saúde mental das equipes, avaliar possíveis problemas e oferecer ajuda”, disse.
Janaína explicou que a comunicação transparente também é aliada para manter a motivação dos colaboradores que estão em home office durante o período de isolamento social. “Essa transparência nos dá condições de incentivar o profissional a seguir motivado e comprometido com as tarefas do trabalho a distância”, destacou.
Por meio de reuniões virtuais, gestores acompanham o andamento do trabalho e mantêm contato próximo com suas equipes, se colocando como referência frente às incertezas do cenário atual. “O colaborador percebe que há uma redução de receita e sabe dos eventuais problemas que ela causa. O ideal é atualizar constantemente as pessoas sobre a situação e o posicionamento da empresa em relação à situação econômica.”
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Cinco mandamentos
Não é de hoje que as organizações primam pela qualificação e a necessidade de constante aprimoramento profissional. No entanto, em um cenário pós-coronavírus, com a retração da economia, a oferta de trabalho deverá tornar-se mais escassa e ainda mais seletiva. Para a coordenadora de gestão de carreiras da Univates, Janaína Schneider, nunca o termo “qualificação” teve tanto significado. “Quem eventualmente ficar de fora do mercado terá que buscar uma qualificação em sua área. Também é necessário explorar possibilidades, como aprender novas tarefas e despertar o espírito empreendedor.”
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Medidas podem ser mantidas no país após a pandemia
Para a advogada Kellen Eloisa dos Santos, da equipe BVK Advogados, talvez o maior legado para as relações trabalhistas seja a manutenção dos novos hábitos e comportamentos impostos pela Covid-19 no universo corporativo, com a consequente revisão das reais necessidades de manutenção de processos e grandes estruturas, adotando-se formas de contratação alternativas, como o teletrabalho ou home office, uma medida pouco usada e que se mostra possível e eficiente, com benefícios para empresas e empregados. “Além disso, deve ser revista a ideia de que a flexibilização das relações trabalhistas é prejudicial. Nesta pandemia já é possível verificar que durante o período de crise pode-se flexibilizar as relações de trabalho, mantendo os direitos dos empregados, de forma a adequar cada realidade”, completou.
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Kellen, que atua na área do Direito do Trabalho, destacou que para a contratação por meio do teletrabalho há necessidade de uma estrutura tecnológica que possibilite que os sistemas possam ser acessados de forma remota, bem como que facilite a comunicação entre os colegas de trabalho e clientes. “Se a empresa já possui esta estrutura tecnológica, a contratação nesta modalidade representa significativa economia, principalmente em estrutura física, manutenção e aluguel.”
Já para os funcionários, a advogada explicou que a contratação para o trabalho em home office também proporciona benefícios, como melhora na qualidade de vida, principalmente em grandes centros ou quando a residência do funcionário fica distante da sede da empresa, uma vez que o tempo e as despesas que seriam dispensadas para deslocamento podem ser utilizadas em proveito próprio.
A especialista advertiu que todos os vínculos entre o empregado e o empregador devem ser formais, ou seja, por meio de contrato escrito. A empresa que contrata na modalidade de teletrabalho deve ter contrato formalizado com seus funcionários, assim como a empresa que contrata a mão de obra terceirizada deve ter contrato prevendo essa forma.
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Aposta no segundo semestre
Para o empresário do ramo supermercadista, Celso Müller, a esperança deve vir a partir de julho. Assim que a pior parte da pandemia passar ele acredita que empreendimentos programados deverão sair do papel. “Inicialmente houve uma corrida aos supermercados e nós nos utilizamos da mão de obra que tínhamos. Não foi necessário contratar mais. Porém, a criação de novas frentes deverá ficar para o próximo semestre.”
Müller refere-se aos empreendimentos que ele programa para Santa Cruz do Sul, com a instalação de mais duas unidades de supermercados, uma na Avenida do Imigrante, no Centro, e outra em Linha Santa Cruz. “Estava tudo pronto para o início dessas obras, mas agora vamos esperar. Acredito que a partir de julho ou agosto já será possível retomar esta atividade”, projetou o empresário.
Outro segmento que aposta no segundo semestre é o dos medicamentos. A GAM Distribuidora de Produtos Farmacêuticos de Santa Cruz do Sul projeta ampliação para o período. Segundo o gerente da planta santa-cruzense da empresa, Haroldo Corrêa, o investimento para aumentar em 4 mil metros a instalação no Distrito Industrial deverá ocorrer a partir de julho. “Até houve um aumento de demanda logo que o isolamento social da pandemia foi anunciado. No entanto, o mercado normalizou e não foi necessário fazer contratações”, confirmou. Segundo ele, a partir da ampliação e do consumo, a empresa poderá considerar um movimento de contratação de mão de obra. “Todos estão esperando o segundo semestre”, frisou.
Terceirização
Entre as oportunidades de contratação também surge a terceirização de mão de obra, uma alternativa para reduzir custos operacionais das empresas.
Segundo a advogada Kellen Eloisa dos Santos, aparecem como principais benefícios para as empresas que optarem pela terceirização dos processos a redução de custos operacionais e a mão de obra especializada. Isso proporciona aumento da qualidade e da produtividade que possibilita maior planejamento e execução de ações para a expansão do negócio.
“Como sabemos, o avanço tecnológico está cada vez mais presente nas relações de trabalho e, certamente, será o futuro de muitos empregos. Acredito que este é o momento de as empresas refletirem e adequarem o seu quadro laboral utilizando-se destas possibilidades, como, por exemplo, o teletrabalho, que pode ser adotado a partir de então como regra e não exceção”, complementou.
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