Não sei vocês, mas sempre que o meu aniversário se aproxima, começo a fazer balanços – o que já fiz, o que ainda não fiz, o quanto mudei, etc. Às vésperas de soprar 32 velas, me peguei pensando sobre o que considero um dos maiores aprendizados que acumulei até aqui: o de que não existem ideias absolutas. Talvez seja o exercício do jornalismo, que nos põe em contato direto com a realidade dura todos os dias. Mas cada vez mais me convenço de que não há narrativa que dê conta da complexidade do mundo, não há ideologia sem arestas ou contradições e não há verdade ou opinião que não possa (e deva) ser contestada.
Dias atrás, um motorista de aplicativo passou a reclamar longamente do serviço da Corsan. Uma queixa justa, pelo que pude entender da história. Ao fim da cantilena, sentenciou: “Não adianta. Só privatizando mesmo”. Até aí, tudo bem. O curioso é que, logo na sequência, ele engatou uma crítica semelhante ao fornecimento de energia elétrica. Quando enfim encerraram as lamúrias, igualmente justas por sinal, não me contive e provoquei: “E a RGE não é privada?”. Passaram-se uns bons segundos de silêncio até que ele soltou um breve “pois é”.
Acho engraçado como esse gre-nal mundano que apequenou o debate público parece querer nos forçar a vestir camisas do tipo “privatize já” ou “não à privatização”, como se fossem fórmulas mágicas. Ocorre que poucas coisas são tão simples a ponto de não merecerem uma boa problematização.
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Afirmar que tudo o que é público funciona mal é injusto. Há poucas semanas, fui ao Cemai receber a dose de reforço contra a Covid-19. Vi um ambiente muito bem organizado, com servidores gentis, prontos para tirar qualquer dúvida e respeitosos com pessoas de mais idade. Li que, em algumas cidades, agentes de saúde vão pessoalmente às casas de pessoas não vacinadas para tentar convencê-las a se imunizarem. Não parece primeiro mundo? O grande legado desta crise talvez seja justamente a importância de uma estrutura sólida de saúde pública.
Por outro lado, tratar o setor privado como um monstro a ser mantido distante é infantil e desnecessário. Meses atrás, visitei o complexo portuário de Rio Grande e é visível a disparidade entre os terminais concedidos e o chamado porto velho, ainda gerido pelo poder público. Sob gestão privada, as operações se mostram mais eficientes, produtivas, organizadas e modernas. As privatizações também foram importantes no setor de telefonia, e quem frequenta aeroportos percebeu que as coisas melhoraram após as concessões.
Com uma eleição presidencial a caminho, convém ficar alerta a quem oferece dogmas como resposta aos nossos problemas. Não é preciso ter mais de 32 para saber que a vida é um pouco mais complicada do que o “oito ou oitenta”.
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