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Festival

Psicodália: terra de música, arte e sonhos

Em 2016 vivi alguns dos melhores dias do ano em uma cidade pacata e distante no norte de Santa Catarina, chamada Rio Negrinho. Em minha primeira experiência em festivais, contei aqui no Elas por Elas como foi participar do Psicodália. Se você nunca ouviu falar, melhor ler a matéria do ano passado que explica como tudo funciona, cartão Dália, gestão de resíduos e mais.

O festival que acontece todos os anos na Fazenda Evaristo na época da Carnaval conquista a todos que o visitam.  Comigo não foi diferente. Depois de experimentar uma única vez a magia do evento, fiquei a postos para comprar o ingresso do ano seguinte, que prometia ainda mais: uma edição comemorativa de 20 anos do festival. Não minto se disser que foi quase um ano de preparação, acompanhando o anúncio de atrações, torcendo para que as minhas bandas preferidas estivessem presentes, comprando barraca, galochas, colchonete, capa de chuva e demais apetrechos indispensáveis para acampar durante os seis dias.

Falei tanto do Psicodália que não houve amigo meu que não soubesse pra onde eu estava me encaminhando no dia 23 de fevereiro, dia de partida da excursão que saiu de Santa Maria e passou em Santa Cruz do Sul com destino ao norte catarinense. Foram os colegas de trabalho, a família, os amigos e até o taxista que tiveram que aguentar meu falatório interminável sobre as maravilhas do Psicodália. E não é pra menos. Toda preparação é recompensada.

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Rolaram muitas mensagens lindas pelo festival. Foto: Paola Severo

Logo na chegada, centenas de almas dobradas pelo peso das mochilas, carregando malas, sacolas, bolsas, instrumentos musicais, sofrendo com o sol e exaustos com a longa viagem – como era meu caso, depois de cerca de 14 horas no ônibus. Mas mesmo assim, nada tirava o sorriso do rosto. Aquela sensação de borboletas no estômago, uma ansiedade deliciosa de quem vai reencontrar um velho amor.

Antes de passar pelo pórtico eu já tinha visto várias figuras que mereciam ser destaque de uma matéria. O moço que fazia malabares equilibrando objetos na cabeça e que piscou pra mim quando parei para admirar seu talento. O rapaz sorridente de barba comprida e rosto cheio de glitter que está presente em todos os festivais. Um casal com um bebê de colo participando pela primeira vez.

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A chegada é cheia de excitação. Nem o stress de montar acampamento e resolver os problemas que vão aparecendo estraga a animação do povo que esperou um ano inteiro para estar ali. No caminho para nosso local de costume, no camping Tutti Fruti, vejo que não fui a única que investiu na preparação. Já vejo pessoas com fantasias, bandeiras e placas penduradas.

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Psicodália é arte, cultura e gente maneira. Fotos: Paola Severo

Ao caminhar pelas estradinhas de terra, neste primeiro e nos dias subsequentes, existe um sentimento de reconhecimento. Cada rosto lembra uma história pela qual eu mesma passei, parece absurdo que eu seja tão diferente daquelas pessoas, e ao mesmo tempo tenha tanto em comum. Uma das melhores coisas do festival, que você não vai encontrar na maioria das matérias sobre o Dália, é o quanto o público que está lá é receptivo. A grande maioria dos presentes é extremamente cordial e amigável, e dessa forma você se vê em alguns dias criando relações de amizade.

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Como gosto de observar, o Dália é pra mim um deleite de humanidade. Tanto pela diversidade dos elementos, quanto pelas cenas inusitadas. O rapaz loiro de Canela, que estava sentado à beira do lago numa manhã, dando bom dia a todos que passavam. Um dos atendentes do Bar do Meio que sempre fazia piada quando eu ia pegar refil de água. O casal cujo filhinho de olhos verdes encantava todo mundo com seu jeito doce. Aquela dupla amada que tatuou a flor símbolo do festival no ombro. O Ernesto, menininho sapeca papeando com todo mundo no último dia. O casal de Itajaí que casou na beira do lago em uma cerimônia tão linda e real que me fez chorar (e até tentei pegar o buquê).


O casamento psicodálico maravilhoso da Bruna e do Carlos. Foto: Paola Severo

Para uma contadora de histórias o Psicodália seria uma fonte inesgotável de material, mas prefiro não contar todas essas histórias, e no lugar disso fazer um convite: se tem vontade, vá ao festival, você não irá se arrepender.

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Shows e oficinas

Uma das vantagens do Dália é que não importa qual a sua programação dos sonhos para esses seis dias: é só realizar. Teve quem passasse os dias dormindo, descansando dessa vida louca que a gente leva, curtindo o contato com a natureza longe de celulares, computadores e redes sociais. Algumas opções são os banhos de lago e a trilha da cachoeira.


Erasmo Carlos se apresentou na noite de segunda-feira. Foto: Divulgação: Psicodália

Para quem como quer mesmo é assistir aos shows, a programação inicia à tarde e entra madrugada adentro com apresentações de bandas dos mais variados estilos, desde as independentes até os megashows de Ney Matogrosso, Erasmo Carlos, Sá e Guarabyra, Céu, Metá Metá e Liniker e os Caramelows. A edição comemorativa teve a participação de 52 bandas, divididas em quatro palcos – Lunar, Sol, Guerreiros e Palco de Dentro -, além de apresentações com palco livre, para o qual o público pode se inscrever durante o evento, e no Palco do Lago, que estreou este ano com atrações surpresa todos os dias.


André Prando se apresentou no Palco de Dentro. Foto: Paola Severo

Fora da programação oficial se apresentaram os artistas André Prando, Raíssa Fayet e Léo Fressato, entre outros. Os palcos do festival receberam Casa das Máquinas, Cálix, Recordando o Vale das Maçãs, Cátia de França, Perotá Chingó, Relespública, Bernardo Bravo, Iconili, Ian Ramil, Black Papa, Confraria da Costa, Orquestra Friorenta, Los Pirañas, Cadillac Dinossauros, Kingargoolas, Centro da Terra, Itaércio Rocha, Dingo Bells, Francisco el Hombre, Gran Bazaar, Trombone de Frutas com Di Mello, Central Sistema de Som  com Gerson King Combo e Cabruêra.

Uma sacada genial deste foi a distribuição gratuita de um folhetinho com a programação cultural completa para todos os dias de evento. Era só sacar o papelzinho e conferir qual o próximo show, peça, filme ou oficina para não perder os que eram do seu interesse. A arte desenvolvida para o material do festival também ficou super caprichada. Como nos anos anteriores, o copo símbolo evita o uso de plástico descartável e ainda rende uma lembrança bem legal para levar pra casa.

 

Dias sem conforto, mas repletos de música e amizade. Alguns dos melhores dias que vivi. #festival #trip #Psicodália

Uma publicação compartilhada por Uma Leitora (@paola.severo.71) em Mar 2, 2017 às 5:40 PST

Ao todo, foram oferecidas 63 oficinas que contemplaram diversos temas, como teatro, cinema, música, política, esportes e sustentabilidade. Cento e setenta oficineiros compartilharam seus conhecimentos com cerca de 4.500 pessoas, número de vagas disponibilizadas este ano. 


Existem várias opções pra entreter os pequenos. Foto: Divulgação/Walter Thoms.

O sol também visitou a plateia nos seis dias, garantindo temperaturas altas e tendas cheias nas apresentações de teatro e cinema e também nas atividades de recreação infantil. Pelo menos 50 crianças participaram das brincadeiras, inclusive aquelas com idade de até 5 anos, cujos pais tiveram o apoio especializado no Materdália. 

Música, arte e sonhos

6.500 pessoas reunidas num pedacinho de mundo durante seis dias. O quanto especial isso pode ser? MUITO.

Nesse nosso cotidiano com a cara enfiada no celular 12 horas por dia vendo quantos likes cada postagem teve, ficar sem nem olhar o aparelho por alguns dias é libertador. Isso te lembra que seu telefone não é uma extensão do seu braço. Que momentos engraçados e divertidos podem ser apenas vividos e guardados na memória sem a necessidade constante de ficar gravando e fotografando. Que você não precisa de fones de ouvidos para evitar contato com outros seres humanos. Que as pessoas estranhas podem puxar conversa contigo, e pasme, isso ser realmente prazeroso.


A arte está por todos os lados. Fotos: Paola Severo

O Dália te mostra que todas as coisas mais simples, são as que ficam gravadas de verdade. O contato com um artista que você admira. Uma conversa honesta e inesperada com um dos seus conhecidos. Aquela música que ficou tocando dentro do cérebro mesmo depois que o show terminou. O autógrafo e a dedicatória no álbum. O sentimento de comunhão profana compartilhada com todos aqueles dançando no mesmo ritmo. Uma cerveja gelada ou um pedaço de pizza quentinho no meio da noite. Acordar com o sol batendo na barraca. Sujar os pés de barro. Passar horas escrevendo na encosta gramada do lago. Sentar rodeado pelos seus amigos e perceber o quanto você realmente ama e estima aquelas pessoas. Desejar parar aquele momento pra sempre, guardar toda essa felicidade dentro de um potinho, para abrir nos dias de bad e lembrar que viver, não é de todo ruim, afinal.

Tudo é uma experiência coletiva, até quando o evento acaba. Inevitavelmente pensar como esses dias passaram rápido. Voltar pra casa com uma ressaca de viagem, como se nada na vida fosse jamais se igualar. Contar pra todo mundo como os shows estavam incríveis, e como teve perrengue (porque sempre tem). Começar as fazer os planos para a próxima edição.  


O maracatu no Psicodália teve uma energia incrível. Foto: Divulgação/ Nicolas Salazar.

Esse festival, sua organização esmerada e seu público exultante são uma experiência de júbilo. Depois de mais alguns dias lá, em minha segunda participação, volto pra casa com a sensação de que vale a pena ter esperança. Um otimismo tão insólito e anormal pra mim, que me faz cair na risada. Esse sentimento de que os desejos podem ser conquistados, os amores encontrados, que as lágrimas podem passar a ser de riso e de emoção e não só de tristeza. Que os sonhos há tanto sonhados, hoje já revestidos de ilusão e apego ao impossível, podem vir a ver a luz do dia. Que o amor ao próximo é real e que as amizades são duradouras. Que a música e a arte tocam as almas e tem impacto nas vidas que atingem. Podemos viver 2017 com essa ideia de que a vida é boa e o mundo ainda é colorido. Obrigado Psicodália!

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