Um protesto pela valorização da agricultura familiar e da pequena propriedade reuniu cerca de 100 pessoas em Linha São João, interior de Ibarama, na tarde de sábado, 12. Composta exclusivamente pelos produtores e suas famílias, a manifestação teve como objetivo pedir mais atenção do poder público, classe política e empresas para as dificuldades enfrentadas especialmente pelos fumicultores em relação ao preço.
Conforme um dos organizadores do ato, o agricultor Marcelo Secretti, de 22 anos, a desvalorização da fumicultura atingiu uma situação insustentável e que levou os produtores da região Centro-Serra a se unirem para exigir melhores condições. “Nós estamos muito esquecidos, se vê pouco movimento das entidades para cobrar um valor mais justo pelo tabaco, que está em defasagem. O fumicultor é mal remunerado e ainda sofre humilhação na hora de comercializar o produto”, afirmou.
Segundo Marcelo, o custo dos insumos necessários para a produção vem subindo anualmente e o preço praticado pelas indústrias não acompanha essa alta, gerando desvalorização. “O reajuste é insuficiente, mal chega a cobrir a alta do insumo. Então nós estamos aqui nos movimentando, também para cobrar dos nossos políticos, dos nossos governos, que estão nos deixando de lado.” Ele destacou que a fumicultura é a principal atividade de aproximadamente 160 mil famílias na região Sul do Brasil.
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Marcelo conta que cresceu vendo os pais trabalhando nas lavouras de tabaco, deu continuidade ao trabalho deles e ama o que faz, mas as dificuldades e as incertezas em relação ao futuro podem tirá-lo da atividade. “Para mim é uma paixão, eu sempre gostei de trabalhar na fumicultura, mas infelizmente, com essa desvalorização, ninguém ao lado e todo mundo batendo no agricultor, eu estou desanimado. Nessa safra ainda vou permanecer, mas se continuar esse desprezo por nós, na próxima eu não sei”, disse.
Classificação do produto é motivo de insatisfação
Outra reivindicação dos manifestantes foi em relação à classificação do tabaco nas fumageiras. Segundo o produtor Matheus Teichmann, 36 anos, o preço inicialmente ficou abaixo do esperado. “Começaram com uma compra baixíssima e agora estão emparelhando todas as classes. A maioria vendeu o produto ‘do cedo’, perdendo muito dinheiro. Agora, ‘do tarde’, estão levando tabaco ruim e as empresas estão comprando por BO1, que é a melhor classe”, afirmou.
Teichmann diz que, nos últimos anos, os fumicultores vêm trabalhando praticamente em vão, visto que o dinheiro restante ao final da safra mal consegue cobrir os investimentos necessários para o ciclo seguinte. “Nós precisamos nos reunir para ver se mudamos essa janela, porque a coisa está ficando feia”, alerta. Ele conta que nasceu e foi criado no campo, tentou a vida na cidade e acabou voltando para a zona rural. “Ainda considero a agricultura como a melhor alternativa, mas nós precisamos de políticas públicas para ajudar o pequeno produtor a ir para frente.”
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O agricultor demonstrou preocupação com o futuro das propriedades rurais do Centro-Serra, que já enfrentam escassez de mão de obra. “O pequeno produtor está ficando velho. Os mais novos estão indo embora porque não dá mais, não tem lucro. Muitos estão abandonando as propriedades, posso te dar o exemplo de diversas aqui no interior de Ibarama que estão abandonadas”, observa.
Durante o discurso, os produtores observaram que, apesar das dificuldades, a atividade ainda é a que traz maior rentabilidade, haja vista a geografia e o relevo acidentado da região. Eles também cobraram investimentos dos governos para terem a possibilidade de diversificação, considerando as dificuldades de armazenamento, transporte e comercialização de outras culturas como milho e soja.
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Entidades
Na sexta-feira, entidades representativas do setor– Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) e federações da Agricultura (Farsul, Faesc e Faep) e dos Trabalhadores Rurais (Fetag, Fetaesc e Fetaep) – divulgaram nota conjunta demonstrando seu descontentamento com a comercialização da safra de tabaco 2020/2021. O texto diz que não são aceitáveis mudanças na política de compra, que na safra atual foram de grande rigidez para uma completa valorização, gerando prejuízos aos produtores que já haviam vendido sua produção.
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