Unidades produtivas que têm apostado na integração de pecuária e floresta, com resultados positivos, estão sendo visitadas pela coordenação do Comitê Gestor Estadual do Plano ABC, que se encontra em fase de reativação. A ideia é identificar no Estado propriedades que sirvam de modelo dentro do contexto da Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC) e que possam ter suas experiências replicadas nas diversas regiões produtivas do Rio Grande do Sul.
O engenheiro florestal Jackson Brilhante, do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), que coordena o comitê gestor, conheceu, nas últimas semanas, sistemas implantados em Bagé e em Vale Verde. Em ambos, os produtores aderiram ao sistema silvipastoril, que é uma opção tecnológica de consórcio de lavoura-pecuária-floresta (consiste na combinação intencional de árvores, pastagens e gado numa mesma área e ao mesmo tempo).
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Brilhante explica que os sistemas silvipastoris têm proporcionado novas fontes de renda aos produtores, por causa da madeira, e conforto térmico para os animais, devido à sombra gerada pelas árvores. Além disso, há outros benefícios como melhoria na qualidade do solo e na ciclagem de nutrientes, controle de erosão e aumento da matéria orgânica do solo.
“A inclusão de árvores nos sistemas agropecuários, em especial as de rápido crescimento, como os eucaliptos, potencializam a remoção de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, o que gera um saldo positivo de carbono e evidencia a capacidade desses sistemas para a mitigação de gases de efeito estufa”, destaca o engenheiro florestal.
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Mais sombra, menos adoecimento do rebanho
Em Vale Verde, o engenheiro da Seapdr foi à propriedade do produtor Marcos André Thiesen, que trabalha com bovinocultura de leite, pastagens e cultivo de tabaco. O sistema de produção silvipastoril começou a ser implantado em suas terras há quatro anos com ajuda técnica da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra).
Eucaliptos foram implantados na propriedade, em pontos estratégicos, para gerar sombra nas áreas em que o gado leiteiro pasteja. O produtor conta que o plantio de árvores poderá gerar ganhos econômicos mais à frente, mas uma das grandes contribuições já notadas é a melhoria da sanidade do rebanho.
“Na minha propriedade tinham poucas árvores, e as vacas acabavam deitando em um único espaço de sombra que existia. Se uma vaca estava doente, transmitia para as outras. Agora, tem mais sombra na área de pastagem e elas se espalham. Aumentou o bem-estar e diminuiu a incidência de mastite”
Marcos André Thiesen, produtor de Vale VerdePublicidade
Com mais conforto térmico, as vacas também consomem mais pasto e, consequentemente, têm mais condições de ampliar a produção.
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Thiesen plantou 400 mudas de eucalipto em uma área de 1,8 hectare. Em outro espaço cultiva tabaco. Recomenda que os produtores interessados busquem apoio técnico para fazer a integração. “É importante saber onde plantar as árvores para que, em algum momento do dia, a pastagem possa receber a luz solar e se desenvolver”, alerta.
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O produtor está satisfeito com a experiência por também ser uma prática recomendada para redução de emissão de carbono. “Temos que fazer algo pelo meio ambiente. Não posso só pensar no que recebi do meu pai. Tenho que saber o que quero entregar para os meus filhos amanhã”, reforça.
Conforme o gerente de produção agroflorestal da Afubra, Juarez Iensen Pedroso Filho, que ajudou a introduzir a integração de culturas na propriedade de Thiesen, a ideia é que a área sirva de modelo para outras regiões produtoras de tabaco.
“Esta propriedade está rompendo paradigmas porque consorcia em uma mesma área mais do que um componente produtivo, com potencial para gerar mais fontes de renda para o produtor e proporcionando ganho ambiental, de conservação de solo e água”, avalia.
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Harmonia com o meio ambiente
A integração de culturas em uma mesma gleba, algo preconizado pelo programa ABC, harmoniza o ambiente. “O sistema é vantajoso porque a árvore cresce e os animais continuam com oferta alimentar, tendo incremento de produtividade, sem comprometer os recursos naturais”, explica Pedroso.
Ainda não foram calculados os níveis de sequestro de carbono na propriedade. No entanto, ele acredita que os resultados já são mensuráveis. “É um trabalho de quatro anos, e as árvores que foram implantadas já ajudam a reduzir o escoamento superficial da água da chuva, mitigam a erosão e já devolvem folhas, cascas e galhos, incorporando nutrientes no solo e resultando na pegada de carbono”, acrescenta.
A Afubra iniciou, em 2017, outra experiência envolvendo silvicultura e pecuária. Em uma propriedade rural em Sobradinho, os técnicos da associação orientaram que o produtor fizesse um desbaste nos eucaliptos existentes, o que possibilitou a entrada de mais luz na floresta e a introdução de forrageiras na área.
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