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IMUNIZAÇÃO

Proposta de médica de Santa Cruz vira projeto de governo

“A maioria das pessoas não sabe que a vacina previne seis tipos de câncer”, afirma Denise | Fotos: Itamar Aguiar/SES/Divulgação/GS

Uma iniciativa apresentada pela ginecologista Denise Müller, de Santa Cruz do Sul, ao governador Eduardo Leite tornou-se em ação para aumentar a cobertura vacinal contra o Vírus Papiloma Humano (HPV). Trata-se do projeto Imuniza Escola, uma parceria entre a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) e a Secretaria Estadual da Saúde (SES) com o objetivo de aumentar a proteção de crianças e adolescentes às doenças imunopreveníveis.

O lançamento do programa ocorreu durante o 33º Congresso das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems/RS), realizado no final de outubro, em Bento Gonçalves. Para Denise, presidente da Associação de Prevenção do Câncer de Colo Uterino (Apcolu), trata-se de uma vitória no combate à doença.

A imunização reduz a incidência de cânceres diretamente relacionados ao HPV em locais como boca, garganta, pênis, vulva, vagina, verrugas genitais e ânus. “A maioria da população não sabe que a vacina previne seis tipos de câncer”, frisa a profissional da saúde.

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A Secretaria Estadual da Saúde apresentou o projeto Imuniza Escola durante congresso realizado em outubro em Bento Gonçalves

Mobilização ajudou a ampliar a cobertura na população regional

A presidente da Apcolu reuniu-se com o governador Eduardo Leite em maio. O encontro ocorreu em continuidade a um trabalho entre a associação, o Ministério Público e os municípios da região. A instituição instaurou um procedimento administrativo para incentivar a vacinação contra o HPV e notificou as secretarias de Saúde e de Educação de Santa Cruz do Sul, Gramado Xavier, Passo do Sobrado, Herveiras e Sinimbu.

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A medida foi implementada diante dos baixos índices de imunização na região. Conforme a Secretaria Estadual de Educação, somente 47,6% do público feminino apto a ser vacinado realizou as duas doses, enquanto o masculino chegou a 23,3%.

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A mobilização trouxe resultados. “Em 60 dias, aumentaram os índices de vacina aplicada entre 250% a 400%, mostrando que quando o poder público se mobiliza os resultados positivos aparecem”, ressalta Denise. 

Com o projeto, a médica teve oportunidade de participar de uma audiência com Leite, na qual apresentou a proposta que mais tarde seria o Imuniza Escola. Ela recomendou a criação de uma ferramenta digital para auxiliar famílias e escolas na regulamentação da carteira de vacinação. “Saí da reunião com a promessa de que o projeto seria feito. E foi”, celebra.

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Para Denise, a iniciativa será fundamental para determinar o papel das instituições de ensino na vacinação contra o HPV. “A lei pede para que as escolas peçam a carteira de vacinação atualizada no momento da matrícula. Vendo os índices, podemos observar que elas não têm como fazer isso”, ressalta.

“A lei colocou para a escola uma responsabilidade de fiscalização que ela não tem capacidade técnica de fazer. Essa ferramenta sinalizava para as escolas as famílias que precisam ser lembradas de atualizar o calendário vacinal dos filhos”, enfatiza ainda Denise.

O objetivo é erradicar o câncer de colo uterino

O câncer de colo uterino é o mais associado ao vírus. Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) mostram que dois tipos de HPV, considerados de alto risco, estão presentes em 70% das pacientes diagnosticadas com o tumor maligno. A ginecologista Denise Muller frisa que a doença pode ser erradicada por meio da imunização.

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Atualmente, a vacina utilizada no Brasil contra o HPV aumenta a proteção em 70% para câncer de colo de útero. “É como se eu olhasse para cem meninas que vão ter a doença no futuro. Se eu vaciná-las, vou tirar pelo menos 70 da fila para consulta. No Hospital Ana Nery, há pacientes fazendo radioterapia esperando meses para conseguir uma consulta. Esses meses foram o tempo em que a doença avançou. Imagina, se tirar 70% das pessoas que estão na fila, olha o quanto a gente pode reduzir a espera por tratamento ”, reforça. 

Mas para alcançar esses resultados, as famílias precisam se conscientizar da importância de vacinar crianças e adolescentes entre os 9 e 14 anos, enquanto o imunizante está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). “São cinco anos para vacinar. As famílias precisam lembrar dessa proteção enquanto ela é gratuita. Quando escolhemos ter filhos, assumimos um compromisso de protegê-los”, afirma.

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No entanto, Denise acredita que ainda existe preconceito em torno da prevenção. “Muitas famílias relacionam a vacinação contra o HPV ao momento de falar com seus filhos sobre sexualidade. Quando a criança tem 9 anos, precisamos falar em prevenção de câncer. Esse tema não tem idade. Quanto mais cedo se toma, mais proteção a criança e o adolescente desenvolvem”, defende.

Busca por não vacinados

A ação terá início com o cruzamento de dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e do banco de matrículas da Secretaria de Educação para descobrir quantos alunos de 9 a 16 anos não foram vacinados. As informações são repassadas às Coordenadorias Regionais de Educação (CRE) e às escolas estaduais para começar a busca ativa dos alunos. Esses dados também podem ser utilizados para realizar atividades preventivas da doença e promover a vacinação.

Conforme o levantamento, há 373 mil alunos matriculados nas escolas estaduais aptos a receber a vacina. Destes, 144,5 mil (38,74%) ainda precisam fazer a primeira dose e 228,5 mil (61,26%) a receberam. 
A apuração também revela que mais da metade dos estudantes – 226.536 ao todo, ou seja, 60,73% – não fizeram a segunda dose para completar o esquema vacinal. Atualmente, 146,4 mil (39,27%) concluíram a imunização. 

Com os dados em mãos, será possível identificar e localizar as crianças e adolescentes para informá-los sobre a prevenção. Desse modo, o Estado pretende alcançar a meta de 80% de cobertura vacinal estabelecida pelo PNI para combater a propagação da doença.

Alta mortalidade

Em 2022, conforme o Ministério da Saúde, o Brasil registrou 12.779 novos casos da doença. O RS apresentou uma das maiores incidências, com 1.056 ocorrências. A quantidade superou a previsão do Instituto Nacional do Câncer para o ano passado, 336 (32%) a mais do que o estimado (720). Foi o quarto estado com o maior número de registros, atrás de São Paulo, Paraná e Minas Gerais. 

Para 2023, o Inca estima que o Estado terá mais 620 diagnósticos. O estudo aponta que será o quarto tipo de câncer com maior número de casos entre as mulheres gaúchas. No ano passado, o Rio Grande do Sul registrou 384 mortes, alcançado uma taxa de mortalidade de 6,57 óbitos a cada 100 mil mulheres. O índice foi maior entre a população com 65 anos ou mais. “É um câncer com uma estatística de mortalidade muito grande. Muitas mulheres morrem sem acesso ao tratamento, porque não há equipamentos de radioterapia para tratar todo mundo”, detalha Denise.

No Vale do Rio Pardo, 16 mulheres morreram em decorrência da doença em 2022, conforme o boletim epidemiológico da SES. “Temos casos de pacientes que morreram aos 23 anos. Recebemos casos extremamente graves no Hospital Ana Nery, com o câncer já avançado, muitas vezes em estágio terminal”, alerta. Conforme a SES, por ano, em média 4,8 mil mulheres morrem por câncer de colo do útero.

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