Tive um sonho. Raramente, no dia seguinte, lembro por onde andei nessas ocasiões estranhas. Algumas pessoas conseguem recordar com detalhes o que sonharam e contar narrativas fluidas para quem quiser ouvir. Eu esqueço tudo minutos depois de levantar.
Mas um sonho ficou em minha memória por quatro ou cinco dias. Não eram imagens nem palavras, só uma melodia. Eu nunca havia escutado a música, mas permaneceu nítida na minha cabeça. Sem encontrar semelhança ou referência nos artistas e canções que conhecia, concluí que ela não existia. Surgiu, ou eu fiz com que surgisse, enquanto dormia.
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Depois de quase uma semana, a música desapareceu. Uma pena, parecia ótima. Se não me faltasse conhecimento técnico, poderia ter colocado a melodia no papel ou na tela, em uma transcrição “espiritual”. Infelizmente, não sei tocar nem La Bamba. Não tive paciência ou disciplina para ir além. Mas há histórias sobre composições que nasceram de modo similar. Dizem que Yesterday, dos Beatles, teria aparecido em um sonho de Paul McCartney. Não sei. Nem sei se o que imaginei foi tão bom quanto Yesterday.
Enfim, o episódio me intrigou. É desconcertante pensar que algo existiu somente em sonho, sem jamais se transformar em realidade. Uma possibilidade que não vai se concretizar. Um desperdício.
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E é um erro ignorar a força da imaginação onírica, o que ela é capaz de inspirar. Por exemplo, parte significativa do que escreveu um dos grandes autores latino-americanos, o argentino Jorge Luis Borges. Em seu conto As ruínas circulares (do livro Ficções), um mago dá vida a um novo homem após sonhá-lo com insistência, noite após noite.
E se os sonhos fossem compartilhados? No filme húngaro Corpo e alma, de 2017, dois funcionários de um abatedouro, homem e mulher, têm exatamente as mesmas visões quando dormem. Embrutecidos pela rotina no matadouro, à noite sonham que são animais. Nem se conhecem, mal trocam cumprimentos, mas essa coincidência vai impactar suas vidas.
Sonhos: realidades em potência, promessas que eventualmente não se cumprem. Às vezes, por preguiça.
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