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Projeto resgata papel de mulheres sambistas

Uma série de shows para destacar o papel fundamental das mulheres cantoras de samba no Rio Grande do Sul inicia no próximo mês. O projeto Divas do Samba, com direção das produtoras culturais Angélica Fonseca e Marta Nunes, convidou sete artistas que marcaram gerações cantando samba para apresentações que serão transmitidas gratuitamente online. A iniciativa, que está sendo realizada pela empresa Angel Produções, foi selecionada por meio do Edital Criação e Formação Diversidade das Culturas, da Fundação Marcopolo, realizado com recursos da Lei Aldir Blanc.

A parceria das duas produtoras com projetos marcados pelo fortalecimento das culturas populares já vem de longa data. Angélica e Marta trabalharam juntas no curso de capacitação em projetos em 2013; na campanha de representatividade para empoderamento de crianças negras Pretinhosidades em 2016 e na produção audiovisual Pobre Preto Puto, que contou a história do ativista da militância negra e LGBTQIA+ Nei D’Ogum em 2017. Recentemente, as duas foram contempladas pelo Prêmio Trajetórias, Mestra Griô Sirley Amaro, da Secretaria Estadual da Cultura.

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A idealização do Divas do Samba veio de Marta Nunes, que por muitos anos produziu festas de aniversário para a mãe, Vilma, que foi cantora de rádio e festivais. A diva inspiração do projeto é muito querida e lembrada pelos amigos de sua geração, se apresentando em aniversários, festas e escolas de samba. O objetivo do projeto, desenvolvido em 2018 por Marta, Angélica e o produtor musical Roberto Pohlmann é promover o legado das mulheres cantoras de samba. Após passar por vários editais para a captação de recursos, em 2021 os organizadores conseguiram realizá-lo por intermédio do edital da Fundação Marcopolo.

A intenção das diretoras é que as apresentações resgatem a participação feminina no gênero samba, exaltando as mulheres sambistas. O projeto visa aumentar a visibilidade e divulgar para um público mais amplo a força feminina no samba, mobilizando as mulheres deste universo e ampliando as redes de contato e a união de forças, além de provocar e promover uma experiência inovadora de difusão, valorizando a pluralidade de expressões culturais.

De acordo com a produtora cultural Marta Nunes, no Rio Grande do Sul a cultura negra sempre foi vista como secundária, e os sambas e sambistas, percebidos como algo de fora, uma cultura que não é considerada tipicamente gaúcha. Atualmente também são poucos sambistas gaúchos com projeção nacional. “Neste cenário temos poucos exemplos de mulheres que, de alguma forma, resistem. Em Pelotas tínhamos, até novembro de 2020, a Mestra Griô Sirley Amaro, compositora de marchas e ranchos de Carnaval. Em Porto Alegre podemos citar Lanna Campos, Glau Barros e Pâmela Amaro.”

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Em Santa Cruz do Sul, assim como em outras cidades do interior do Estado, o apagamento desta expressão cultural e das mulheres sambistas é ainda maior. “Ao longo da história local, tivemos sambistas de renome, como o compositor e intérprete Alcemiro e o musicista Romário. Podemos citar muitos grupos de samba de raiz e pagode que circulam nas noites em casas de evento santa-cruzenses. Em nenhum deles se observa a presença de mulheres em destaque ou que figurem de forma permanente”, explica.

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As divas de Santa Cruz do Sul

VILMINHA, de 79 anos, atuou nos anos 1950 e 1960 como cantora de rádio em programas em Santa Cruz do Sul e Porto Alegre. Se apresentou em grandes festivais de música promovidos pela Rádio Santa Cruz em Santa Cruz do Sul, no programs Calouros Santa-Cruzenses, entre outros. Também se apresentava pelo interior do Estado e em Porto Alegre no programa conhecido como Clube do Guri, na Rádio Farroupilha.

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VERA LUZ, 57 anos, iniciou cantando aos 11 anos em um coral de colégio confessional. Aos 12 já se apresentava como solista. Vocalista de diversas bandas locais, como a Hallellujah e a N’Band, fez parte do grupo que se apresentou nos espetáculos Nas Asas das Américas e 100 anos de samba, samba canção e seresta, esse último em parceria com o Alcemiro Santos, um dos mais proeminentes sambistas de Santa Cruz do Sul, tendo integrado juntamente com ele o grupo de samba e seresta Chão de Estrelas, com o qual fez muitos shows.

RITA DE CÁSSIA, 44 anos, começou sua carreira aos 10 e aos 13 ganhou o primeiro prêmio no Festival da Canção da Escola. Na adolescência conquistou títulos de beleza como a Mais Bela Negra, Rainha do Carnaval e Musa do Samba. Rita costumava cantar em igrejas e escolas, para apoiar comemorações e homenagens locais. Também se apresentou em eventos na Souza Cruz, onde foi premiada. Com 21 anos, fez parte da Banda Scala, onde começou a cantar no Carnaval, com bandas pela região. Teve uma participação especial, junto com a filha e o irmão, na escolha da Rainha da Oktoberfest, onde fez homenagem às soberanas e candidatas.

GABRIELA SANTOS, a diva mais jovem, tem apenas 20 anos. Ao longo dos últimos três anos fez participações esporádicas em sambas da cidade, mas ganhou visibilidade no último ano pelo lançamento, em outubro de 2020, do seu primeiro EP, Reencontro, com músicas autorais, cujas composições a cantora contribui. O EP está disponível no Spotify. O videoclipe Dizeres, também lançado em 2020, tem mais de 10 mil visualizações. Em 2020 foi presença marcante como intérprete do samba-enredo da Acadêmicos do União. Gabriela participou do Palco Livre em Santa Cruz do Sul e do Canta Vera Cruz.

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As divas de Santa Maria

VERA LEAL vem de uma família de músicos e começou aos 12 anos. Montou, junto com sua família, o conjunto Vento Norte. Também integrou vários grupos de Santa Maria: Os Sombras, Os Garotos da Querência, Angelsom, Esquema Som e, por último, o Cadência do Samba, com quem se apresenta em uma autêntica casa de samba da cidade, o Boteco do Maré. Trabalhou com canto e dança nas escolas por meio do Mais Educação, tendo, nesta época, formado um grupo de pagode exclusivamente com meninas. Participou de diversos festivais e foi intérprete de sambas-enredo de escolas de samba.

ROSANE, NEGA ZANE, começou a carreira de cantora com o irmão Jorge, que na época foi seu maior incentivador. Mesmo com talento, deixou a música para seguir uma outra paixão, a Matemática. Rosane se formou em Licenciatura em Matemática e atuou como professora nas escolas da região, vindo a reencontrar a música e a performance depois da aposentadoria. Formou com o irmão a Dupla da Balada e se apresenta interpretando canções dos mais variados ritmos em Santa Maria.

EVELÍNY é uma compositora, cantora e artista visual radicada em Santa Maria e também uma mãe, professora e cozinheira profissional. Passou tardes da infância nos estúdios de rádio com seu pai e também frequentou ensaios de uma tia cantora lírica na Capital. Na faculdade, a artista descobriu, ao lado de amigos violeiros, o prazer de cantar e a felicidade de compor letras e melodias. Cantou durante sete anos com duplas de MPB na noite de Santa Maria e região e formou uma banda com músicos profissionais da UFSM, lotando bares acompanhada de pandeirista e violeiro. Ela também é uma das idealizadoras da Banda Geringonça, seu maior suporte artístico até hoje.

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Transmissão dos shows

O projeto terá execução de forma híbrida, presencial e online, seguindo todos os decretos vigentes. A iniciativa organiza uma produção completa de show, contando com uma equipe de 25 pessoas remuneradas pelo projeto. “A gravação será no Teatro Espaço Camarim. A locação também envolve equipe de segurança e será sem público presente, cumprindo todos os protocolos, pensando em proteger as Divas e também a equipe de riscos de contaminação”, explica Angélica.

A live de lançamento do Divas do Samba será em 25 de julho, às 11 horas, Dia internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha e data também em homenagem à líder quilombola Tereza de Benguela. A partir da segunda-feira, dia 26 de julho, às 19 horas, ocorrem as apresentações individuais diárias. A cada dia uma das Divas do Samba se apresenta mostrando todo seu talento em um show de 30 minutos de duração. As transmissões serão no canal União no You Tube e na página oficial do projeto no Facebook.

A direção geral é de Angélica Fonseca e Marta Nunes. A Produtora Supernova e Faksanto ficam por conta do audiovisual. O espetáculo terá fotografia da Agência Comunicando, de Juliano Reheir, identidade visual de Luciele Oliveira, som e iluminação da PRO Produtora Artística e redes sociais com Simone Vianna e Vinicius Stumm. A produção musical é de Bako Lopes e Roberto Pohlmann, com figurinos de Flavia Nascimento e maquiagem de Nataly Pedroso. Também participam músicos e staff.

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