É em um lugar que mais parece uma ilha verde, no meio da zona urbana de Santa Cruz do Sul, que mora a professora aposentada Nadir Emma Helfer, de 73 anos. Na casa, localizada no Bairro Goiás, ela aproveita seu tempo fazendo o que mais gosta: mexer na terra. A atividade rotineira de Nadir é uma influência das antigas escolas normais rurais, onde foi aluna e também lecionou.
Foram quase 50 anos dedicados à educação, entre colégios e o Ensino Superior, na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). A experiência vivida nas escolas rurais traz uma lembrança importante para a região: a mudança na vida das famílias que passaram a investir na fruticultura (veja no quadro abaixo).
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Logo na chegada à casa de Nadir, é perceptível a presença do verde, que é um respiro em meio ao ambiente urbano. Mas o que não se imagina é que, nos fundos da residência, Nadir cultiva 30 árvores frutíferas, 11 tipos de chás, 12 de temperos e em torno de dez variedades de verduras.
E vai além, pois ela também tem um açude com peixes e algumas galinhas poedeiras, que colocam quatro ovos por dia. “As pessoas se surpreendem quando sabem que existe isso aqui, porque é no meio da cidade, é como uma ilha.” Além dos alimentos proporcionados exclusivamente pela natureza, os porongos cultivados pela aposentada se transformam em peças de artesanato, com as quais Nadir presenteia os amigos.
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Diversificação de culturas
Agora, as escolas normais rurais ficam na lembrança. Porém, Nadir reitera a importância dos estabelecimentos para o ensino na região. Para ela, é fundamental a criação de escolas técnicas com formação nessa área.
Ela salienta que o cultivo de alimentos naturais não é apenas um trabalho. “Passamos a perceber essa mudança depois de alguns anos, quando esses filhos começaram a trabalhar como agricultores e pegaram gosto. Isso é o mais importante: o aluno sentir como algo natural, espontâneo, esse gosto pela terra”, diz. Até hoje, a aposentada utiliza técnicas que aprendeu e ensinou na escola normal rural, como fazer esterqueira e não usar produtos químicos.
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Nadir relembra que foi em meados de 1967 que a história de alguns produtores, que trabalhavam apenas com o tabaco, começou a se transformar. “Fui para a Linha João Alves e ali começou um trabalho meu e de um colega, para mudar um pouco a mentalidade daqueles agricultores. A terra era muito acidentada, era uma dificuldade. Começamos a fazer um trabalho de tentar diversificar, primeiro com os alunos e depois com os pais. Agora, em Linha João Alves, se planta basicamente verduras e frutas”, comenta.
A professora frequenta as feiras do município e costuma encontrar ex-alunos daqueles tempos, ou filhos deles, que estão trabalhando com a agricultura familiar. “Tem uma ex-aluna minha que trabalha lá e eu sempre vou na tenda dela. Eu até lembro que o pai dela, na época, já carregava a carroça e vinha para a cidade trazer algumas frutas.”
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