Afonso Antônio Dick, de 72 anos, construiu uma carreira invejável na educação. Ele estima que teve 1,6 mil alunos em mais de quatro décadas de sala de aula. Hoje aposentado, dedica-se a uma atividade que também lhe proporciona grande realização pessoal: os cuidados com o jardim e com um imenso pomar.
Afonso Dick estudou em seminários de Santa Cruz do Sul e Caxias do Sul, e aprendeu diversos idiomas, como latim, grego, francês e italiano. Em Santa Cruz, lecionou no Ernesto Alves por três anos, dando aulas de Português.
Em 1970 iniciou uma trajetória de 30 anos no Polivalente. “Era para lecionar Francês. Mas acabei dando aulas de Português. O Poli era um projeto inovador”, relembra. De fato, a proposta da escola, no Bairro Faxinal, era exercitar técnicas agrícolas, comerciais, industriais e domésticas.
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“Era um estímulo aos alunos, para que pudessem despertar o interesse por alguma das áreas e, depois, iniciar a formação profissional conforme essa vocação”, detalha. Afonso também deu aulas de Idioma e Literatura Latina no curso de Letras da antiga Fisc e depois na Unisc. Foram 12 anos de docência na universidade.
Mas a vida do professor também é marcada pelo amor pelas plantas. Para ele, os cuidados com o pomar, a horta e o jardim são rejuvenescedores. Uma verdadeira terapia.
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É quase uma herança, já que a família o ensinou a cultivar o que a natureza proporciona desde a infância, na localidade de Linha Nova. Já quando professor, levava as frutas e verduras produzidas em casa para o preparo da merenda na escola.
Há uma década, após o falecimento da mãe, aos 100 anos, Afonso passou a viver na residência atual, na Rua Pastor Hildebrand, no limite do Centro com o Bairro Margarida. Na área de 300 metros quadrados, o ex-professor aproveita cada centímetro.
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Na frente, o jardim é convidativo. As flores rosadas das três-marias destacam-se ao lado do corredor de entrada. No canto do muro há uma prévia do que está por vir: um vistoso mamoeiro com os frutos da segunda safra do ano. É possível ver diversas abelhas e borboletas.
Nos fundos, com vista da cozinha, o pomar se exibe com vigor. São maracujás, uvas, bergamotas, carambolas, limões, mamões e romãs. Outros pés aparecem ainda sem frutos: jabuticaba, araçá, flauma, uvaia, caqui e acerola.
Afonso não utiliza nenhum recurso artificial. Retira um pouco de terra úmida do mato, no fim da rua, e faz uma cobertura com folhas para dar maior nutrição às plantas. Como mora sozinho, reparte a colheita com os vizinhos e os irmãos, João e Roque Dick. Segundo Afonso, a presença dos pássaros é constante. Papagaios e periquitos adoram as carambolas, espalhadas na copa alta da árvore.
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Sustentabilidade
Afonso armazena água da chuva para irrigar o pomar e o jardim. A horta produziu boas verduras no verão e agora será preparada para a temporada seguinte. Restaram somente alguns ramos de beterraba.
Algumas das plantas foram transplantadas na casa antiga, na Rua Thomaz Flores, que tinha terreno três vezes maior. Outras foram adquiridas ou dadas a ele como presente.
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“Eu prezo pela alimentação rica em frutas e verduras. Isso me ajudou muito quando tive um câncer de próstata. O cultivo é sem agrotóxicos ou adubo químico”, comentou.
Assinante da Gazeta do Sul há 25 anos, Afonso leu uma matéria sobre a ora-pro-nóbis no mês passado e descobriu que tinha um pé escondido em um dos vasos. Agora, decidiu expandir a variedade no jardim. Essa, inclusive, dá para colocar no prato. É uma Panc (abreviação para plantas alimentícias não convencionais).
Professor de latim, Afonso explica o significado do nome da planta: rogai por nós. Religioso, ele agradece a Deus pela fartura no pomar. “É uma dádiva”.
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