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FUMICULTURA

Projeto Repensar: produção de tabaco em corda é cada vez menor

Foto: Arquivo Pessoal

Além de queda no interesse dos consumidores, variedade exige muito trabalho manua

Por Camila Dalberto 17 anos, aluna da Escola de Ensino Médio Cristo Rei, de Passa Sete, participante do Projeto Repensar – o papel da educação na categoria Redação (Notícias), sob orientação do jornalista Pedro Garcia.

A produção de tabaco em corda vem encolhendo a cada ano que passa. Antigamente um cultivo tão cobiçado na região Centro-Serra, no decorrer dos últimos anos vem dando espaço para outras produções menos trabalhosas em que não há tanta exigência de serviço braçal, e sim do uso de maquinários.

O tabaco de corda já foi muito produzido no passado, na região, e era visto como o principal meio de obter renda para o sustento das famílias. Por mais que, até o momento do plantio, tenha grande semelhança com o Virgínia (variedade mais comum na fumicultura brasileira, conhecida também como tabaco de estufa), as diferenças começam a ser observadas a partir de seu desenvolvimento na lavoura, como na significativa altura da planta, que pode chegar a cerca de cinco metros. O talo da folha é retirado manualmente, e as folhas necessitam de um tempo nos estaleiros para murchar e para que ocorra o amarelamento. Após isso, estão devidamente prontas para a corda ser formada.

Por causa dessas dificuldades, o volume de produtores está em declínio. Um exemplo é Jairo Giehl, que irá diminuir o plantio na safra que se aproxima. Aos 51 anos, é morador de Pedra Lisa, interior de Segredo, onde cultivou tabaco durante toda a vida. “Me criei no fumo em corda”, relata. Ele e a família não plantam só o tabaco, mas também tudo o que necessitam para a própria subsistência, além de possuir criação de aves ornamentais. Segundo Giehl, há anos em que a produção compensa e as boas vendas o alegram, porém em outras safras não, o que faz com que ele repense a atividade. Na safra de 2020/2021, a família cultivou cerca de 15 mil pés de tabaco em corda e a estimativa para a próxima é reduzir.

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No caso do agricultor e aposentado Gilberto Dalberto, a ideia é parar de vez com o plantio de tabaco em corda. Ele tem 57 anos e reside em Lajeado Sapopema, interior de Passa Sete. Assim como Jairo, também foi criado no meio do cultivo desse produto, mas ficou até os 17 anos junto à família na produção, quando então decidiu ir atrás de novas oportunidades.

Dalberto morou em São Leopoldo, na Região Metropolitana, por cerca de 35 anos, onde se aposentou trabalhando como industriário. Depois, retornou para sua terra natal e em 2018 decidiu voltar a plantar tabaco de corda. “Fui atraído pela pouca quantidade de produtores nesse ramo do tabaco em corda porque o preço estava sendo mais valorizado”, conta.

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Nas safras que produzira, plantava cerca de 11 mil pés, mas neste ano decidiu suspender o cultivo. Segundo Dalberto, manter a produção não estava mais valendo a pena por todo o esforço e trabalho que era demandado. Além disso, o valor pago pelos compradores não compensava. “Não houve queda, apenas não teve aumento. Porém, os insumos estão mais caros e o preço de venda se manteve, o que desestimula os produtores”, lamenta.

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Lei da oferta e procura, dizem compradores

Com a produção do tabaco em corda em menor volume comparado ao Virgínia e Burley (variedade cujo processo de cura é feito “ao vento”, geralmente pendurado em galpões), o número de compradores também se torna inferior. No passado, com uma plantação acentuada, a quantidade de pessoas que faziam a compra diretamente dos agricultores era grande. No entanto, atualmente, na região Centro-Serra, é perceptível como isso decaiu. Muitos migraram para outras atividades.

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Um dos compradores que não largou o tabaco em corda é Viturino Dalberto, morador de Linha Quinca, já no perímetro urbano de Sobradinho. Aos 73 anos e mais de 51 ligados à compra, ele recorda dos tempos áureos da produção na região. “Quando comecei, em agosto de 1969, se vendia muito fumo. Sobradinho produzia cerca de 2,5 milhões de quilos por ano do fumo em corda”, conta.

Ele relata que, quando o fumo de estufa começou a entrar no mercado, o comércio para o de corda caiu progressivamente. Foi quando muitos agricultores migraram para outras produções. Segundo ele, no decorrer dos anos, houve o início da mecanização na lavoura, em que o agricultor trocou o boi e arado pelo trator e implementos e deixou de ter tempo para parar e fumar um cigarro de palha, feito pelo próprio fumante na hora, o que era costume de gerações passadas.

Atualmente, Viturino compra tabaco de corda e certa quantidade do Virgínia e Burley. Os palheiros fabricados por ele em Sobradinho vão para muitos lugares, como cidades de fronteira: Santana do Livramento, Quaraí, Uruguaiana e São Borja, entre outras. Já os charutos são vendidos em todas as capitais do País.

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Viturino acredita que o comércio para o tabaco em corda sempre existirá. Ele esclarece que o principal motivo para o colono perder ou obter mais lucro em diferentes safras está relacionado com a famosa lei da oferta e da procura. “Hoje, se a produção do tabaco de corda passar de 70 mil quilos, baixa o preço do fumo porque o consumo máximo que temos é 70 mil quilos.”

Visão semelhante tem a empresa GT Tabacos, fundada por Isidoro Trevisan, já falecido, e hoje sob comando do filho Gilvan, de 55 anos, e o neto Gibran Trevisan, de 28. Ambos também têm a ideia de que o fumo em corda não irá acabar e que a lei da oferta e da procura assola tanto produtores quanto compradores.

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A empresa tem cerca de 60 anos de história. A sociedade começou em Vila Gramado e hoje possui sede na cidade de Sobradinho. Trabalham na compra do tabaco de estufa e de corda. Também produziram por 20 anoso fumo de corda, mas pararam há poucos anos e mantiveram apenas a compra. “O consumo do tabaco de corda virou uma coisa mais para quem tem condições. Em uma tabacaria, qualquer pedaço de fumo é R$ 100,00”, comenta Gibran. Com a entrada do cigarro e o tabaco de estufa de pacote, a variedade de corda começou a se tornar algo mais caro. Mas ele acredita que não terminará, porque virou algo mais artesanal e de qualidade.

A firma comercializa o tabaco bruto, em rolos ou pequenos pedaços da corda. O produto é embalado e vendido em todo o Brasil para distribuidores, tabacarias e principalmente para público particular.

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Como é a produção

  • Do plantio até o momento da colheita, o processo é realizado da mesma forma que o tabaco de estufa, conforme o amadurecimento da folha, iniciando na colheita da baixeira (primeiras folhas a se desenvolverem) até chegar à ponteira (últimas folhas a serem colhidas), o que é um desafio para os produtores devido à altura da planta.
  • O próximo passo é destalar – unir duas folhas e retirar o talo. Em seguida, as folhas são estaleiradas – estendidas em taquaras para começar o processo de murcha, o que as deixa com uma coloração amarela.
  • As folhas ficam estendidas por cerca de três dias, até o momento em que é possível iniciar a fabricação da corda, quando as folhas são torcidas e enroladas.
  • Assim que a corda está pronta, é mergulhada na garapa (espécie de caldo feito à base da água do tabaco) e pode ser colocada em um sarilho (pedaço roliço de madeira) para que ali seja enrolada ou deixada estendida embaixo de uma varanda. Desse modo, ocorrerá o processo de cura, até o momento da entrega ao comprador

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