Em um ano marcado por recordes de violência urbana em Santa Cruz do Sul, a Câmara de Vereadores aprovou esta semana um projeto de lei para garantir mais segurança a uma das faixas mais suscetíveis da população: as mulheres. A proposta, que ainda precisa ser sancionada pelo prefeito Telmo Kirst (PP), permite que mulheres desembarquem de ônibus urbanos em locais mais próximos aos seus destinos na parte da noite e de madrugada, evitando a necessidade de percorrer longos trechos a pé nos horários em que as ruas estão mais vazias.
Pelo projeto, entre 21 horas e 6 horas, passageiras poderão solicitar aos motoristas dos coletivos a chamada “Parada Segura” e, com isso, descer em qualquer ponto dentro do itinerário, não somente nos terminais. Modelos semelhantes já foram adotados em outros municípios brasileiros, incluindo Porto Alegre.
Segundo a autora do projeto, vereadora Rejane Henn (PT), o contexto de crise na segurança exige medidas desse tipo. “Não vamos eliminar os riscos, mas podemos diminuí-los”, alega. Rejane acredita que as principais beneficiárias serão as jovens que estudam no turno da noite – recentemente, foi registrada uma onda de roubos nos arredores do campus da Unisc. “As estudantes estão mais expostas e sabem disso. Elas têm medo de sair de casa”, observa.
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O secretário municipal de Segurança, Henrique Hermany, considera a medida positiva, mas ponderou que é preciso “estudar a viabilidade operacional do projeto”. “Toda iniciativa que vise mais segurança às pessoas, principalmente na prevenção, é importante”, acrescentou.
“É bem perigoso ficar nas paradas”, diz jovem
Quem precisa andar pelas ruas em horários de pouco movimento confirma a insegurança. Estudante de Administração da Unisc, Kassandra Rodrigues, de 20 anos, mora no Bairro Schulz e utiliza transporte urbano diariamente, para se deslocar à universidade e ao trabalho. Nessa rotina, aprendeu a conviver com o medo. “É bem perigoso ficar nas paradas esperando o transporte. Me sinto insegura”, relata.
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O pior é quando retorna para casa, no fim da noite. Após desembarcar, precisa caminhar um trecho que, dependendo da linha, pode variar de quatro a sete quadras. O medo é maior porque, em muitas situações, ela desce sozinha do ônibus e enfrenta ruas escuras. “Caminho rápido e em alguns momentos já teve pessoas atrás de mim. Nesse tipo de situação, eu paro na frente da casa de algum conhecido e chamo para fingir que é minha casa”, conta.
A LEI
Concessionárias têm ressalvas quanto à proposta
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As empresas que operam o transporte coletivo urbano de Santa Cruz, a TC Catedral e a Stadtbus, têm ressalvas em relação à lei. O diretor da TC, Leandro Oliveira, alega que a medida pode refletir até na tarifa. Segundo ele, com mais paradas ao longo do itinerário, os gastos com combustível vão aumentar e os horários das linhas serão afetados. “O custo de manutenção também deve aumentar, já que a lona de freio e a embreagem serão mais utilizadas”, alega.
Já o gerente da Stadtbus, Vanderlei Cassol, afirma que a empresa não está ciente de como a lei funcionaria, mas reconhece que a proposta “tem um lado positivo, principalmente às mulheres”.
Entretanto, alerta que a medida pode interferir na segurança do trânsito na zona urbana. “O veículo teria que ficar parando sem a devida sinalização em alguns pontos, motivo pelo qual podem acontecer problemas”, conclui.
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