Projeto Imaginário proporciona acesso à arte com apenas um clique

“No labirinto, lugar lúdico e estético dos jardins barrocos, podia-se passar pela experiência existencial de se perder e, em seguida, da necessidade espiritual de se encontrar. Quem mexe com as artes e não passou por momentos de perder-se, para depois encontrar-se? O labirinto é o mapa da imaginação e da memória.” Esse texto define a identidade visual do projeto Imaginário das Artes Visuais de Santa Cruz do Sul. O labirinto em diferentes cores também estampa o logo da iniciativa, feita para difundir o trabalho dos artistas locais.

Para isso, o projeto, considerado inovador, criou uma plataforma digital na qual artistas podem apresentar alguns de seus trabalhos, narrar suas histórias e explanar sobre suas fontes de inspiração. O catálogo chama atenção pela diversidade de estilos artísticos e inclui pinturas, fotografias, grafites e esculturas, entre outros.

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O lançamento oficial do portal ocorreu no início deste mês, no Centro de Cultura Francisco José Frantz, antiga Estação Férrea. Durante um final de semana, a comunidade pôde ir até o espaço conferir algumas artes expostas, conhecer o site e conversar com alguns artistas que estiveram presentes.

Imaginário se efetivou em tempos de pandemia

O caminho até o lançamento da plataforma iniciou há três anos. Com o advento da pandemia, em 2020, um grupo de artistas de Santa Cruz de Sul agiu para encontrar maneiras de minimizar os efeitos do isolamento na divulgação e na comercialização dos seus trabalhos. Foi aí que a Setorial de Artes Visuais do Conselho Municipal de Cultura da cidade, a partir de um trabalho da representante dos artistas visuais, Ivani Ana Friedrich, passou a coletar informações dos artistas santa-cruzenses e criar um catálogo de suas obras.

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Com muito esforço, o coletivo realizou, em 2021, a primeira “Mostra da Setorial de Artes Visuais de Santa Cruz do Sul”, com a exposição de trabalhos de 36 participantes. A curadoria foi feita de forma coletiva e coordenada por sete integrantes do evento, que contou com o apoio da Secretaria Municipal da Cultura.
A resposta à ação motivou o grupo, que cresceu após acolher artistas com diferentes técnicas e temáticas abordadas, até chegar a 80 pessoas. Nascia então a Imaginário das Artes Visuais de Santa Cruz do Sul, que teve sua primeira exposição em agosto de 2023, promovida pela Move – Coletivo Cultural, formada pelas artistas e curadoras Ivani Ana Friedrich, Juliane Mai, Magui Kampf e Nilani Goettems.

Na busca por um nome, buscaram um que atendesse a todos os estilos presentes no coletivo. “Todos têm algo em comum, a imaginação, e demandam dela. Depois veio o labirinto, esse lugar lúdico e estético, e que sintetiza essa ideia da nossa busca pela perfeição, pela melhor expressão, perdendo-se nas mil ideias, nas emoções”, frisa Magui Kampf.

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Durante um mês, obras de 76 artistas ficaram expostas na Casa das Artes Regina Simonis. Nesse período, 2.820 pessoas – entre, elas, 1,1 mil estudantes – visitaram a mostra. Após a repercussão, os trabalhos foram avançando até a criação da plataforma online, viabilizada com recursos públicos do Fundo Municipal da Cultura. Para a idealizadora, Ivani Ana Friedrich, mais do que um anseio, o Imaginário era uma necessidade. Enquanto atuava como professora, tinha dificuldade de encontrar informações e os trabalhos de artistas santa-cruzenses, que agora têm um espaço primordial de visibilidade. “E isso é fundamental porque vai valorizar a nossa arte e a nossa cultura, além de alavancar a carreira daqueles que estão começando e não são reconhecidos”, destacou.

Pássaros em aquarelas

A plataforma Imaginário das Artes Visuais de Santa Cruz do Sul constitui um espaço privilegiado no qual artistas em atividade na cidade e região podem compartilhar com o público informações sobre sua produção, bem como estabelecer vias de contato e de interação. Entre esses autores está a empresária Leonice Vogt.

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Em 2017, ela decidiu que havia chegado o momento de se aposentar. Após encerrar as atividades de sua loja de calçados, em Santa Cruz, decidiu aproveitar a nova fase de sua vida e voltar a um hobby do qual estava afastada desde a infância: a pintura. Assim, retornou ao ateliê da artista Márcia Marostega. E graças ao incentivo da professora, encontrou no desenho em aquarela o estilo artístico ideal para se expressar.

Em suas gravuras estão estampados flores ou pássaros. Sua inspiração vem de muita pesquisa e de imagens captadas na rua. Recentemente, por exemplo, passeava com os netos no Bairro Verena quando avistou um ninho de quero-quero. Arrebatada pela cena, fez fotografias para futuramente desenhá-las em aquarela. “Cenas como essa me incentivam a passar para o papel o que eu vejo na natureza”, revelou.

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Seis anos após seu recomeço, vendeu diversos dos seus quadros e pode participar de uma exposição na Casa das Artes Regina Simonis. “Eu faço da pintura uma sessão de terapia, é algo muito importante na minha vida”, admitiu. Na sua visão, a plataforma, além de benéfica para os artistas, servirá de incentivo àqueles que apreciam a atividade mas não encontraram o seu estilo. “Eu vejo uma forma muito bonita e muito importante de passar para as pessoas a sensibilidade que é a arte. Em muitas pessoas, isso ainda está adormecido.”

Do sonho para o quadro

A personal trainer Juliana Souza transforma seus sonhos e misticismo em inspirações para a pintura de acrílico em telas. O destaque são para as pinturas humanas em cenários oníricos ricos em detalhes.
Artista há 25 anos, desejava cursar Artes Plásticas, mas acabou optando por Educação Física. Porém, conseguiu conciliá-los e pôde frequentar o curso de extensão Uniarte em 2008. Além disso, participou de oficinas da Prefeitura e do Atelier Márcia Marostega.

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Uma de suas pinturas estava no Centro de Cultura Francisco José Frantz na exposição para divulgar a plataforma Imaginário. Intitulada “Begonia Maculata”, uma espécie de planta com bolinhas brancas na folha e que se tornou popular entre os colecionadores por sua beleza e características exóticas. A inspiração veio de um sonho que teve com a avó falecida Carolina Teodora. Na família de Juliana, a planta era entregue pela matriarca para as filhas que casaram.

No sonho, Carolina se aproximava da neta e perguntava se havia recebido a sua. “Mais tarde, fui procurar o significado disso e descobri que ela simboliza o amor e o equilíbrio”, explicou. A moça no quadro também saiu de um sonho. Na imagem que estampa a tela, ela está envolvida pela begônia maculata em um fundo laranja, cor que simboliza a fertilidade. ”Esse realmente é o meu processo criativo, ou eu sonho ou eu recebo mensagens, assim. A maioria dos meus quadros são assim. Pra mim ele tem que ser simbólico, ele tem que ser forte”, exemplificou.

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Ela acredita que a plataforma é um divisor de águas e ajudará a levar os seus trabalhos artísticos de Santa Cruz para o mundo. “Temos muita arte aqui, e por isso é  importante fazer esse resgate. A cidade precisa, a comunidade merece e os artistas também”, concluiu.

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